terça-feira, 30 de março de 2010

A revolução hoje


Olá,
No jornal PÚBLICO de 25 de Abril de 1999, o editorial tinha como título “Para a Maria”, a propósito da comemoração dos 25 anos da revolução de Abril. Uma edição especial em que a capa era a foto de um bébé nu deitado numa “cama” de cravos encarnados. Curiosamente e na mesma edição é anunciada a morte da bisavó da Maria. Ou seja, na mesma edição a vida dá lugar à morte. Duas coisas naturais. Coincidências...
Passaram-se 10 anos e a Maria escreve,

As cerejas da Dona Amilda - A dona Amilda era já uma pessoa de idade, daquelas que sabem tudo, que têm sempre razão porque já viveram e reviveram a vida. Mas ela era diferente, tinha um humor que nos fazia rir, uns cabelos que, brancos como a neve, brilhavam ao sol, umas rugas na cara que lhe davam o aspecto sábio que tinha e usava sempre um sombreiro com duas cerejas. A dona Rosa, sua vizinha, não percebia porque é que a dona Amilda tinha um gosto especial a cerejas no sombreiro, (a dona Rosa só gostava de tangerinas, lírios e cravos) e perguntava: - Porquê Amilda, porquê cerejas, porque não cravos? Mas o que a dona Rosa não sabia é que o coração da dona Amilda era como um cravo, um cravo da liberdade, que lhe dava a liberdade de escolher cerejas, talvez para lhe relembrar a infância, quando punha um brinco de cerejas nas orelhas para mordiscar pelo caminho. Mas na sua infância (quando era criança, tinha uns olhos castanhos que mostravam esperança, uma face macia e um cabelo que também castanho, lhe dava pelos ombros) comia cerejas porque, como qualquer outra criança lhe sabiam bem.
Passou-se mais um ano e a propósito de uma visita de estudo à Assembleia da República, foi pedido à Maria que comentasse o que tinha visto. Achou que “lá não se entendem, gritam muito e tratam-se muito mal uns aos outros e que aquilo não leva a lado nenhum e não é bom nem para eles nem para o país” – palavras dela.
A Maria distingue naturalmente o bem do mal. Com uma mente curiosa e perspicaz a Maria sabe que o que é a liberdade e a liberdade de expressão. Usa naturalmente o computador, a internet e o telemóvel. Por vezes ajuda o irmão a fazer os trabalhos de casa no “Magalhães” e pirateia músicas do computador para um aparelho do tamanho de um dedo mindinho. Ela é o somatório da educação escolar , da educação familiar e da educação social contemporânea.
Ouvir a Maria com atenção é meio caminho andado para reencontrar a sanidade mental. A Maria irá desenvolver, por acumular de informação e conhecimento, uma capacidade crítica menos inocente, ou não. Mas por ora essa inocência está mais perto da verdade e não cair na tentação de manipular o que ela diz e pensa é um exercício que me cabe a mim, enquanto pai da Maria.
No entanto o futuro é brilhante. Disso não tenho dúvidas.

Beijinhos e essas coisas

5 comentários:

  1. Eu lembro-me disto, também cá tenho (ainda) o jornal. Abraços e beijinhos a Maria

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  2. O Zé é uma felizardo, a Maria uma felizarda.
    À felicidade, e às memorias felizes.

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  3. OLÁ PAI,
    Senti-me lisonjeada com o e-mail, orgulhosa de mim própria, por te orgulhares de mim.
    Leio com atenção todos os mails que envias e concordo com todos eles.
    OBRIGADO E ADEUS.

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  4. Olá Luis, como tens passado? Espero que estejas fino ou grosso, sei lá. Espero que estejas mas é muito bem ou ainda melhor, espero que estejas ótimo.

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  5. Pois eu lembro-me bem desta capa e também a tenho guardada...Aliás, a Maria é...simplesmente, a Maria...desde que nasceu. Muito especial, sempre equilibrada e linda de morrer...por dentro e por fora. Ou não fosse ela minha afilhada.
    Beijos. Muitos para ti, Zé e especialmente para a Maria
    João

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