segunda-feira, 8 de março de 2010

O xenófobo

Há tempos fui às compras. Estava desempregado e andava mal com o mundo. Enfim... tu sabes. Ou se não sabes melhor para ti. Mas o facto é que fui às compras ao Continente. Ao entrar não contava comprar tantas coisas e portanto estava eu na fila para pagar e pensava para comigo. Estas miudas das caixas nem imaginam o que lhes vai acontecer. O tio Belmiro está a preparar-se para meter aqui uma porcaria de umas máquinas e é só passar com os carrinhos debaixo da ponte e os artigos são todos escrutinados e no fim é só pagar com o cartão mágico. Elas vão ver.
Mas também que raio de trabalho que estas miudas têm. Sentadas uma data de horas aqui a levar com o povo. E a passar tudo naquela luzinha lazer que ainda por cima deve fazer-lhes mal como o raio. Coitadas. Esta até é girinha. Se calhar anda a estudar e está aqui a fazer turnos. E ainda por cima devem-lhes pagar mal como a porra. O tio Belmiro é que deve estar cheio dele. E agora é o filho. Se o meu pai fosse o Belmiro é que era. Eu não estava aqui nesta fila. Podes crer.
E isto que nunca mais anda. E este tipo aqui à minha frente deve ser maluco. Deve ser mesmo. Tem um carrinho para levar um "pacage" de seis cervejas. O tipo é doido. E eu aqui com as compras e sem carrinho. Ainda por cima deixei o carro no menos dois. Acho que foi no vermelho. Ora bolas. Vou ter de levar os sacos até lá baixo. Se calhar o melhor é deixar o garrafão da água aqui. Estes sacos cortam os dedos e daqui até lá baixo vou ficar com os dedos em sangue. Que maçada. Já não dá tempo de ir buscar um carrinho. É mesmo lá ao fundo. Mas que porra.
Tenho mesmo de dar a volta à minha vida. Com esta idade e a receber o subsídio de desemprego. Isto não é nada. Que porra. E aqueles ali a rirem-se. Eles haviam era de se rir se estivessem na minha situação. Isso é que era. Ainda por cima são brasileiros. Só me faltava mais isto. Agora é só brasileiros. São mais que as mães. Isto é a paga por termos colonizado o Brasil. Nunca à bela sem senão. Fomos para lá escravizá-los e tratá-los mal e agora estamos a pagar. Vai na volta a menina da caixa é brasileira. Eu nem acredito só me faltava mais esta. Isto está minado. Se eles continuarem a vir a este ritmo para cá estamos bem tramados. Já bem bastava os pretos. Depois os russos e os ucranianos. E os chineses? Esses nem sequer se sabem rir. Vais ver o que vai acontecer aos americanos quando os chineses lhes pedirem contas. Vai ser giro. Eles já tomaram conta do continente africano. Isto para eles é peanuts. O meu avô é que tinha razão se os chineses se lembrarem de espirrar todos ao mesmo tempo para este lado a malta cai toda ao mar.
... Olha!? Então mas este gajo é brasileiro? Para além de maluco é brasileiro. Mas que sorte a minha. Deixam cá entrar tudo. Havia de ser comigo. Era uma canoa e sem remos. Tá andar.


- Ó cara! Cê qué o carrinho? Não tem moedinha. E você tá carregando para caramba. Toma, pega.
- Hã? Não. Deixa estar. Não é preciso.
- Ó cara. Pega o carrinho. Não tem problema. Vai. Fica bem.
- Não é preciso obrigado.
- Vai. Cê tá carregando muito. Eu não preciso. Tá vendo?
- Está bem. Obrigado.

Toma! Toma! Toma! Parece que sou estúpido... e parvo que nem um cabaz de compras. Eu devia era levar com uma tábua na cara e era pouco.

- Quanto é? Sim, sim, vou pagar com o cartão.
Beijinhos e essas coisas,

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