sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A semente


Há tempos estive com um velho amigo. Alguém que conheço há uns anos e que reencontrei. É bom reencontrar pessoas que não vimos há algum tempo. Por vezes, e não foi este o caso, o tempo, essa coisa relativa, faz milagres na reestruturação de amizades. Talvez tenha a ver com o amor. Não com o amor ao próximo, ou também, mas acima de tudo com o amor por nós próprios. Com a capacidade que temos de nos perdoar deixando em aberto o que de mais importante ficou numa amizade que acabou. Por vezes o reencontro faz isso. Cura. Restabelece a relação que, por motivos por vezes até completamente alheiros às partes, volta a existir. E por vezes até com contornos bem mais saudáveis.

Tem sido um reencontro curioso. Tal como eu, o meu amigo já passou por várias experiências de vida que o fazem ser quem é. Sem que fossemos propriamente amigos do peito de sempre, acabámos por estar um fim de semana a conviver e a partilhar experiências que fomos acumulando nestes últimos anos. Quando nos conhecemos eramos estudantes e solteiros. Agora somos ambos divorciados e com filhos. Escrito isto, até me ri.

Continuando, almoçámos em minha casa. Eu, os meus filhos, o meu amigo e a filha dele. Depois fomos todos ao Oceanário. No caminho recolhemos o segundo filho dele fruto de um amor pontual. Foi girissimo. Dois homens, pais, com os respectivos filhos a visitarem os peixes. Sempre que lá vou sinto uma enorme inveja dos peixes e da sensação que tenho de eles voarem pois ali podemos ver os peixes de baixo. Normalmente vêmo-los de cima, mas vê-los de baixo dá a sensação que estão a voar. E o Oceanário tem aqueles recantos onde nos podemos sentar a mirar aquele mar de água e peixes de variadíssimas formas. Há peixes estranhissimos. A evolução da vida vai por onde bem entende mas mais coisa menos coisa sinto sempre uma relativa estranhesa ao pensar que eu e os peixes temos todos coração e no fundo somos parecidos.

As nossas filhas combinaram jantarmos todos em casa dele. Jantámos na cozinha. Ele, à imagem do que já tinha acontecido em minha casa, preferiu que jantassemos todos juntos em vez dos miudos na sala e nós na cozinha. Conversámos, rimo-nos e foi assim uma coisa tipo família ou amigos. Depois de jantar (com morangos e tudo) os miudos foram para a sala ver televisão e mexer na net e nós ficámos a acabar o vinho do copo. Falámos de imensas coisas. O meu amigo é um aficionado em sementes e do que se pode obter quando se lança uma semente à terra. Portanto falámos de sementes de tomate, pimento, mostarda, morangos, e de mais uma série de legumes e frutos. E de como a vida é simples e poderosa, que de uma sementezita insignificante se consegue produzir alimentos. Foi por isso que há dias quando perguntei aos meus filhos o que queriam ser no futuro e eles ainda não sabem bem, lhes sugeri agronomia ou algo que tivesse que ver com a terra. Eu não sabendo bem de onde me vêm estas ideias tenho cá na mente que o futuro está intimamente ligado à terra. É uma sensação que tenho. Que o futuro está na terra e na lentidão pausada mas permanente com que a terra dá uma volta sobre si mesma. Por mais que tentemos são sempre 24 horas. E as plantas sabem-no muito bem. Elas devem-se rir imenso de nós e das nossas pressas.

Carros amigos do ambiente? Telemóveis amigos do ambiente? Computadores amigos do ambiente? Por amor de Deus, a hipócrisia do marketing vai até onde nunca ninguém imaginou ser possivel. Por outro lado basta uma semente. Um vaso com terra e uma semente para podermos observar com calma a vida a nascer, desenvolver-se, transformar-se, crescer e depois com amor ou mesmo às vezes até sem ele, saborear os frutos resultantes e sobrevivermos, simples. Experimentem lá comer um “Ipod” ou uma “Pen”... parvos!

Beijinhos e essas coisas,

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O bolo de chocolate


Há tempos estive, vai não vai, para escrever algo sobre a morte “anunciada” do Carlos Castro, esse ícone de uma certa cultura portuguesa. E até escrevi. Claro que satirizei um pouco pois na minha perspectiva quem anda à chuva molha-se e o Carlos fartou-se de andar à chuva. Antes de publicar o texto mostrei-o à pessoa que mais me tem ajudado a compreender o mundo na medida em que me ouve e diz-me coisas que só a ela o admito – a minha mãe. “Com tantos assuntos que tens para escrever, vais escrever sobre isso?”. E pronto, foi o suficiente para não ter escrito nada durante algumas semanas. É assim. De facto quem sou eu para opinar sobre o Carlos Castro. Adiante... já morreu.

Entretanto dá-se uma revolução, ou lá o que seja, no Egipto. Assim do pé para a mão. Uma novidade inqualificável mas que há falta de melhor chamamos revolução. A mim aquilo não me pareceu uma revolução pois as revoluções metem imenso sangue e mortes horriveis e essas coisas próprias das revoluções. Tem de ser. É o fim de algo e o começo de outro algo. São forças antagónicas que se degladiam. É como no universo. Algo ocupa o espaço de algo e raramente existe uma união das duas. Mas enfim, espero estar cá para observar o que se irá passar no Egipto. Sou um curioso destas “revoluções”. Vou recebendo inumera informação pelos órgãos de comunicação, muitos comentários, imensas tentativas de adivinhar o que se irá passar, extraordinárias previsões de pessoas com ar entendido no assunto e eu pasme-se, observo no meu sofá em directo e a cores o desenrolar no que se vai passando no mundo. Bestial.

O mundo mudou. Melhor... não mudou, o que está a mudar é a realidade que eu tenho do mundo. Hoje vejo-o a alterar-se ao vivo e a cores. Diariamente. Já não sei o que fazer. Penso no que posso eu fazer para me sentir parte da mudança a que estou a assistir. Informo-me, leio, converso, partilho, sei lá. Estou à espera, creio. À espera de não me sentir só no que quer que possa vir a fazer. Sinto que tenho de fazer algo. Penso imenso nos meus filhos e no que lhes quero dar. Esta coisa da democracia é um pau de dois bicos, se por um lado dá para sermos livres, por outro serve de argumentação para que nos mantenhamos assim numa espécie de letargia estúpida em que somos constantemente violentados e nada fazermos para que não o sejamos.

A Internet e o telemóvel são para mim a verdadeira revolução pois veio deixar em aberto a possibilidade de sermos realmente livres. Livres na mente. Livres para acreditarmos ou não. Passámos mais coisa menos coisa a ser todos jornalistas. Temos mesmo esse poder. Os orgãos de informação são mais do que nunca uma mera ferramenta de propaganda para o bem ou para o mal. Mas mesmo assim e com a verdade escarrapachada nas ventas ficamos à espera. É impressionante o ser humano, e extraordinária a capacidade para desenvolver anti-corpos. Há tempos a comunidade cientifica chegou à conclusão que descendemos de um vírus. Como se isso fosse alguma novidade. Vista do espaço a terra é azul. Não se consegue distinguir nem um único ser vivo. E é precisamente isso que nós somos. Um nada do todo. Ou então na melhor das hipoteses um monte de carne e ossos a transportar um cérebro que tem evoluído pouquissimo. Nós é que achamos que não. É curioso se pensarmos bem.

Cheira bem! Deve ser bolo do chocolate no forno. Vou comer uma fatia e beber um chá.

Beijinhos e essas coisas,