terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Milhases ou afinal mudei de ideias


Há tempos, e a propósito de andar sempre a falar sobre o Mexia no facebook, essa figura incontornável da sociedade portuguesa, o Milhases, figura também incontornável… bem vistas as coisas são os dois importantes por razões diferentes, claro. Adiante, o Milhases sugere-me, talvez por ser véspera de Natal, que não seria pior se eu deixasse o Mexia em paz. No momento, e confesso que imbuído do tal espírito natalício até lhe agradeci. Naquele instante, naquela fração de segundo, fui apanhado desprevenido. Perdoar é de facto uma cruz. Talvez seja esse um dos grandes mistérios da humanidade, o que uns perdoam outros aproveitam-se desse perdão e no fim paga o justo pelo pecador. Ora, eu nesse instante resolvi aceitar a sugestão do Milhases que de lá da Rússia é bem capaz de ter uma melhor perspectiva do que por cá se passa. Se assim for até lhe agradeço. Compreendo bem o que é ver Portugal do “lado de fora”. Quando estamos afastados do problema temos, sobre ele, uma perspectiva mais superficial. Digo eu, não sei.


Hoje, dia 1 de Janeiro de 2012, acordo com a notícia de que um amigo meu de infância morreu. Daqueles que nos marcou profundamente mas só damos por isso quando inexplicavelmente e para minha grande satisfação, sem que imaginasse, quando nos reencontramos passados o quê? Trinta anos? Credo… Bom, foi uma noite giríssima. Daquelas que não se esquecem. Numa casa lá para o norte. Um reencontro de famílias. Só que agora já todos com filhos e essas coisas. Muito giro. Falei a noite toda com o Nelito, e curiosamente, falámos sobre a vida, a sociedade, a política, os governos. Enfim, eu como ex-colaborador de um jornal de referência e ele como funcionário dos serviços de fronteiras e alfândegas. As coisas que ele me disse sobre esta ou aquela pessoa, este ou aquele ministério eram aterradoramente tristes. Mais um ponto negativo a somar ao que eu considero a nossa incompetência em relação ao nosso próprio governo laxista que se vai aproveitando, a coberto de uma suposta tendência neoliberalista, para fazer o que quer e muito bem lhe apetece. É triste. A dada altura já estavam todos com ar de quem quer ir dormir e eu e o Nelito ainda esgrimavamos teorias sobre isto e aquilo. Foi a ultima vez que o vi.

Entretanto, comentei com um familiar que nem imaginava o que é que a irmã dele estaria a sentir por ter de informar os pais, já velhotes que o filho morreu. Já para não falar da mulher que à noite quando voltava de deitar a filha no quarto dá com o marido deitado no chão sem vida, resultado de um ataque cardíaco fulminante. O que é que se sente? O que é que nos passa pela cabeça? Estou perplexo. Confesso que já chorei. Não é justo… não é! Nem vou discutir Deus. Mas hoje voltei a sentir a mesma revolta que tenho sentido ultimamente, algo que me vem do coração, uma espécie de sensação de perigo inexplicável mas que está constantemente a ser relembrado. Já nem sei, por exemplo, quantas vezes é que o mundo deveria ter acabado neste últimos dez anos, a julgar pelos anúncios passados em todos os órgãos de comunicação. É impressionante como me sinto constantemente debaixo de uma tentativa de manipulação para ser infeliz e viver em terror.

Milhases, agradeço-te a tentativa de amenizar a minha revolta, mas não me leves a mal, o Mexia é desconcertante. Olha que veio para a televisão explicar que tem feito um excelente trabalho e que os acionistas estão satisfeitos e os trabalhadores da EDP também, e que o resto dos portugueses devia estar orgulhosa… Ora eu preferia estar satisfeito em vez de estar orgulhoso, compreendes? Dava-me jeito. Mas nem é isso. “Eles” lucram imenso e deviam baixar o preço da factura da luz mas não. Vão lucrar ainda mais com os chineses (coitados) e vão aumentar o preço da electricidade.

Até já Nelito…

Beijinhos,