quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

No meio está a virtude


Há tempos um amigo meu, e friso amigo pois tenho poucos como ele, não sei se ele sabe mas considero-o amigo mesmo. Daqueles que se têm uma ou duas vezes na vida. Pessoas em quem apostamos e aceitamos as coisas boas, as menos boas e as más. Sim porque para se ser amigo de alguém é preciso alimentar a amizade e a melhor maneira que encontrei até hoje de ser amigo de alguém é aceitar essa pessoa como ela é. Pois eu também não sou de modo algum virtuoso do que quer que seja. Sou humano e ainda por cima com esta mania de ter a mente aberta e achar que todas as pessoas têm valor mesmo quando aparentemente não têm. Já tive a minha cota de desilusões e estou em crer que irei ter mais. É a vida e ainda bem, faz de mim uma pessoa normal, creio.

Esse meu amigo depois de falarmos de projectos e do tempo e disto e daquilo disse-me que a mulher está grávida. Ele não disse – “Vou ser pai!”, o que é curioso. Disse – “A minha mulher está grávida.” Foi assim que eu soube da espectacular notícia que certamente irá mudar a vida do meu amigo e da mulher dele. E Deus queira, é bom sinal. Desejo sinceramente que corra tudo bem e que usufruam dos momentos bestiais que é ser pai e ou mãe. Há lá coisa melhor que ver pela primeira vez aquele ser vivo a quem passamos a chamar filhos. O cheiro, as feições, os dedos… Credo, que aquilo dá vontade de comer. Depois começam a crescer e é impressionante a capacidade de adaptação daquelas criaturas. É giro imaginar que eu também já fui assim. Também curioso e mais focado em problemas particulares. É giro vê-los crescer. Dá prazer. Ela já é uma mulherzinha e ele treina futebol a sério. Adiante…


Estamos em Fevereiro de 2012, mais nove meses dá Novembro. É capaz de ter acabado o Verão e a criança vai nascer com a necessidade de se vestir para não morrer de frio. E vão agasalhá-la e trata-la com todas as atenções que ela merece e por vezes cair em exageros. É natural, faz parte. E até é bom que exageros aconteçam. Faz parte de ser pai. Há que encontrar um meio-termo. Segundo conversas que vou tendo com pessoas conhecidas o mundo está a mudar de tal modo que não é possível prever o futuro nos próximos meses. Pessoalmente, estou em crer que termos deixado que as máquinas controlassem a economia mundial está a revelar-se um dilema curioso mas evidente. É impossível a economia crescer como se pretende que cresça – todos os dias e ao segundo. Nós os humanos temos limites e para mim são esses os limites que estamos a tentar ultrapassar mas é simplesmente impossível fazer melhor. A economia não pode crescer sempre. É um conceito estúpido. A sério! Ninguém come sem parar senão morre entupido com comida ou tem uma doença daquelas foleiras com nomes estranhos. Credo, que parvoíce! Um corredor profissional, por exemplo, dificilmente correrá 100 metros em menos de 9 segundos. A física não permite, simples. Então inventamos uns aparelhos de medir o tempo em fracções cada vez menores de modo a podermos, mesmo assim melhorar em centésimas de segundo os tais cem metros.

E no entanto o meu amigo vai ser pai. Contra todas as espectativas e raciocínios lógicos o meu amigo está ansioso por ser pai. Ainda bem. Também ouvi dizer que descendemos de um vírus ao contrário de uma célula como anteriormente se dizia. E nesse caso faz todo o sentido que mesmo que o futuro seja uma total incógnita o instinto de sobrevivência das espécies mantem-se inexoravelmente igual à sua origem. O que não faltam neste mundo são exemplos de criação de vida nos locais mais inverosímeis. “Ó Jorge, nem imaginas a sorte que tens pá. Finalmente vais entender a razão da tua existência. Agora meu amigo, é a loucura dentro da própria loucura o resto é mentira ou na melhor das hipóteses a verdade que tu quiseres ver, pois há-as aí aos pontapés. É ou não é?”

Beijinhos,