segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O ovinho


Há tempos a minha filha passa por mim na cozinha e sussurrou, talvez porque não quis que o irmão soubesse, “pai. Tenho as cuecas sujas, olha!”. Eu olhei, e nesse instante a minha vida ficou diferente… outra vez. Normalmente não damos por “elas” acontecerem, mas há coisas na vida que têm uma importância tal que são o que nos indica que a espécie humana vai continuar. Independentemente do que quer que seja, nós humanos viemos para ficar.

A Maria já é uma mulher. Eu deveria celebrar o acontecimento com uma brutal de uma festarola, cheia de amigos. Havia de ser! Afinal de contas nós celebramos a morte e a ressurreição de um homem (Jesus, para os menos atentos) que julgamos ter existido, pelo menos queremos acreditar que sim, para bem da nossa sanidade mental. Mas a Maria já é uma mulher. Bolas! Vi-a pequenina, do tamanho de um melão, igualzinha à mãe. Aquilo parecia uma fotocópia. É curiosa a natureza e a forma como ela evolui. Comigo está tudo a correr em conformidade com o pré-estabelecido. As leis do universo são simples e nós na ansia de as entendermos esquecemo-nos de quão simples elas são.


Em 1998 a Maria nasceu, e no tempo que decorre uma explosão na superfície do sol, fiquei mais perto de ser avô. No entretanto vai-se vivendo a vida na Terra o melhor possível. E, contrariamente ao que seria de esperar é tão fácil passar do melhor possível para o extraordinário. É tão fácil viver a vida de uma maneira harmoniosa de acordo com o que de facto deveria ser a verdade e só não é porque nós humanos somos assim. Aliás a verdade, nos dias que correm é à partida a mentira aceite pela maioria. Talvez seja uma visão fatalista mas não vamos por aí porque não é. A verdade pode ser o que eu quiser, ou o que nós quisermos. A verdade não está escarrapachada para que nós a possamos ver. Não! A verdade está dissimulada algures no conjunto de verdades e mentiras que nos rodeiam. A suspeição tem sido arma de arremesso. Vivemos tempos extraordinários em que tudo é verdade e tudo é mentira. Cabe-nos a nós como seres humanos e pessoas conscientes lermos os sinais do que estamos a presenciar. Não é fácil ao princípio mas depois de se experimentar e começar a praticar um estado mental livre das amarras e âncoras sociais a que estamos submetidos, começamos a ver coisas que pessoalmente me andam a espantar tal é a simplicidade da vida. Estou feliz por estar vivo e a vida me fazer sentido.

No entretanto, tenho outro filho, o Manuel. Tem dez anos e é um rapaz. Um ser que está a começar lentamente a adquirir a capacidade de produzir doses maciças de testosterona. Gosta de futebol, faz uns truques com o skate, já tem um telemóvel e inscreveu-se no facebook, não obstante saber que está a mentir. Não obstante eu ter-lhe dito que se o fizesse iria entrar num universo paralelo que é mentira, simplesmente porque para entrar teve de mentir. Expliquei-lhe que abrir a porta à intimidade partindo de uma pressuposto que é mentira pode ser arriscado. Pode acarretar consequências graves. Que é preciso estar atento e acordado. A Maria não me tem preocupado, já o Manuel parece que não se importa mesmo. O Manuel come devagar. Tão devagar que é sempre o ultimo, e não se importa. Ele é assim. E eu gosto dele assim. Desatento às coisas, mas muito atento a algumas. E são essas que lhe chamam a atenção que eu adoro entender. Ele está a crescer e é extraordinário vê-lo evoluir. Começou agora pelos pés. Credo, estão a ficar enormes.

Já estive mais longe de ser avô. A minha filha já é uma mulher. A humanidade está de parabéns. Conseguimos. Parabéns… Estou quase a chorar. Estou mesmo! Está feito!

Beijinhos,

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O pastor paciente


Há tempos e por causa da pretensa crise portuguesa, europeia ou mundial pensei o seguinte e fico abismado com estes pensamentos. Eu nem sei de onde me vêm, mas provavelmente é o resultado do alheamento que por vezes me forço a ter, em relação à sociedade. Uma espécie de retiro, para que possa compreender a sociedade em que coabito de uma maneira mais descomprometida e distante. São pensamentos que até a mim me espantam de tanto sentido que me fazem e de tão simples que são. Neste caso pensei -  se todos os países, ou estados (prefiro) da CE ou UE ou já nem sei como é que lhe hei-de chamar mas Europa era giro, ficarem em crise, e quer queiramos aceitar ou não é um facto, deixa de ser crise para passar a ser normal. Do género “Olha lá! Estás em crise?”, ao que o outro responde “Estou. E sabes que mais? Aquele e aquele e aquele também.” Curioso não é?

Por outro lado os mercados, que não faço a mínima ideia do que isso significa, e as bolsas, que também não faço ideia do que signifique, e a banca, ou os bancos, ou as pessoas que estão à frente desses organismos ou organizações, ou sei lá o que isso seja, parecem uns tolinhos a olhar uns para os outros muito espantados sem saberem bem o que fazer, porque de facto creio que só algumas pessoas no mundo terão o conhecimento e poder suficientes para saber o que se passa. E não é difícil. Basta perguntar a um pastor na Serra da Estrela, por exemplo, ao ser questionado sobre o atual estado das coisas, ele fixa o horizonte recortado pelas montanhas, e sem suspirar sequer responde “Óh!”, e com este simples ó resume numa letra o que é a verdade. Que também é simples e curiosamente não vejo muitas pessoas a falarem disso. O mundo mudou radicalmente e tão rápido que não se consegue mais geri-lo da mesma maneira como tem sido gerido até hoje.


O Duarte Lima por exemplo, é óbvio que entre ser perseguido por um mandato internacional e depois acabar como namorada de três enormes e perigosos homens de ar violentíssimo numa prisão qualquer no Brasil, ele prefere ser preso cá. Compreendo-o tão bem. É uma teoria minha mas eu apostava que ele pensou, pensou, pensou e deve ter voltado a pensar, que uma pessoa na situação dele deve pensar imenso, e preferiu dar-se “à morte” cá para não se dar “à morte” no Brasil. Enfim, calculo que nunca saberemos a verdade ao certo. Já é normal na nossa justiça. Mas a justiça não é o que estamos a ver nos órgãos de informação. Não! A justiça tem pessoas altamente profissionais e competentes mas também tem os Marinho e os Duarte. É assim. Temos mesmo de ter paciência e acima de tudo continuar a pressionar e mais, temos de apoiar as pessoas de bem, para que elas percebam que não precisam de ter receio. Nós (as pessoas normais) estamos do lado da justiça. E os honestos que trabalham nela têm mesmo de sentir que não estão sós. Acho que é mais por aí, mas adiante.

A Alemanha parece que também já pediu ajuda financeira. A França para lá caminha se é que ainda não caminhou já, que isto está a acontecer a uma velocidade tal que, ou me sento à frente e sigo as noticias passo a passo, ou de cada vez que acordo o mundo está diferente, credo. Nunca mais ouvi falar do Carlos Cruz, ou do Dinis. Ao que parece andam por aí. O Mexia continua a gerir a EDP como quer, ou como ele gosta de dizer, de acordo com o que os acionistas gostam - que resposta extraordinária. Hoje está sol e entramos em Dezembro. Algo se passa com o tempo. É estranho. Tenho de me ir adaptando às circunstâncias tal como os meus filhos o fazem tão naturalmente.

O meu filho com dez anos perguntou-me há dias “Ó pai. Para que é que serve o Presidente?” e eu respondi o melhor que me ocorreu “Para nada”. Talvez esteja errado mas tentei ser o mais honesto possível dadas as circunstancias.

Beijinhos,

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O apalpanço


Há tempos, recebi na Estónia, Tallin (fica lá para cima, ao pé da Finlândia, da Noruega e da Suécia), e por ocasião de um suposto concurso europeu de design e em representação de Portugal, o segundo prémio e mais uma menção honrosa por causa do projeto ricoxete.com e das almofadas de caroços de cereja que são fabricadas em estabelecimentos prisionais. Para além do reconhecimento público no evento ainda me ofereceram um Ipod Nano. Bolas! Ainda não tinha um desses extraordinários objectos tão cobiçados a julgar pelo que vou vendo na televisão. Aquilo é impressionante. As pessoas fazem fila e até vão dormir para as portas dos estabelecimentos onde se comercializam essas máquinas tão apelativas. Confesso que depois do primeiro impacto, o programa das ditas máquinas é muito intuitivo e feito de acordo com uma lógica bastante simples, se compararmos com outras máquinas similares. Mas chega-se lá. Umas horas de volta do meu presente, mais um programa específico descarregado da internet, pois senão aquilo não funciona e eis que tenho na cabeceira da minha cama - música que, se a ouvisse de seguida, nem me levantava da cama durante duas semanas a fio.

Ora bem. Deixa cá ver. É que nem foi há muito tempo assim. O meu filho Manuel tem dez anos e eu com essa idade, se queria ouvir música, ligava o rádio que tinha um gira-discos incorporado, colocava o disco que queria ouvir (A Menina do Mar, por exemplo) e ficava ali a escutar com muita atenção. Mais tarde havia uns de nós que a custo dos pais terem mais possibilidades financeiras, já tinham umas aparelhagens sofisticadas que davam um som bestial e alto, às vezes muito alto. Nessa altura já o 25 de Abril se tinha dado e eu comecei a namorar. Já havia calças de ganga e Coca-cola. Também havia uns pirolitos – uma gasosa que depois de bebida dava direito a um berlinde colorido. E as festas em casa uns dos outros, ou nas garagens, ou por vezes nos locais mais estranhos mas que eram o que se arranjava. E claro a música sempre a acompanhar. Apareciam uns amigos que tinham muitos discos e eram esses que punham a música. Às vezes ele tinha de ir fazer xixi ou outra coisa qualquer e nós ficávamos a substitui-lo. Era um momento relativamente importante pois quem punha a música era imprescindível para que pudéssemos dançar com aquela que nos fazia sentir mais zonzo. Aquilo era horas de beijocas e apalpanços que o meu filho talvez passe pelo mesmo, mas duvido. Há de passar por outra coisa qualquer, mas assim não.


Depois começaram a aparecer rádios novas, discotecas, bares, programas na televisão exclusivamente subordinados ao tema da música. A música portuguesa ganha novo folgo e eu gravo cassetes piratas, compro discos de vinil e coleciono namoradas. Aliás, tive uma namorada dos Pink Floyd, outra dos Jáfumega, outra do Ian Gillan, outra dos Xutos, e outras. Agora que penso nisso, não deixa de ser curioso. Podia escrever a história da minha vida através da música que ouvi. Pois há tempos peguei nos meus discos de vinil todos e fui oferecê-los às pessoas que trabalham na rádio Marginal. Tinha aquela caixa enorme lá por casa e pensei "Ó! Farto-me de ouvir a rádio destes tipos e já não vou ouvir aqueles discos outra vez. Eles que fiquem com aquilo que o mais provável é adorarem." Eu cá adorei ver-me livre daquilo, credo! Eles nem imaginam. Foi o dois em um, eles ficaram todos contentes mas eu também.

Entretanto e hoje, enquanto estou aqui a escrever este textito tenho música neste computador, na rede global, na pen, no Ipod, no leitor de cd, na televisão, no telemóvel, no rádio do carro. Quando os meus filhos vêm no fim de semana ainda tenho mais música disponível pois eles têm a música que gostam gravada no telemóvel deles. Eu até fico maluco! Isto já é música a mais. A sério! E para cada máquina existe uma instrução parecida mas diferente. É uma trapalhada que se pode tentar ir acompanhando mas mal nos adaptamos a uma aparece logo outra. Isto é lindo. Faz lembrar as baratas quando se acende a luz – correm que nem umas loucas e vai cada uma para seu lado. É assim que às vezes me sinto.

Bolas!... Agora é que havia de haver as tais festas do apalpanço!

Beijinhos,

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eu penso, logo tenho de ter cuidado


Há tempos, ocorreu-me escrever três letrinhas no motor de busca da Google. Fiquei pasmado. A EDP apoia várias fundações, instituições, clubes, eventos, cultura, desporto… até me deu para procurar um clube do berlinde da EDP. A sério! Sabias que só o clube EDP tem 20.000 sócios? Não fazia a mínima ideia. Depois, e eu tenho esta terrível mania que me desgasta e consome, pus-me a pensar. Eu devia deixar de pensar. Não é compatível com o momento actual. O melhor de facto é não pensarmos pela própria cabeça e deixarmo-nos levar pela onda. Garanto-vos que quando se começa a pensar sente-se uma espécie de confusão mental, pois tudo o que nos foi dito e afirmado não bate certo com o que se começa a entender quando se começa de facto a pensar. Aliás, depois de se pensar, se começamos a falar somos relativamente ostracizados na medida em que existe um receio profundo de que quando se dizem coisas que se pensam sem qualquer receio, até os amigos nos avisam para ter cuidado. É curioso…


Fico muito irritado sabes? Com a injustiça. E tenho esta mania de observar as injustiças de uma maneira muito abrangente. A electricidade por exemplo. Não deveria servir os interesses de uns mas de todos. É que se não houver electricidade morres mais depressa do que se não houver água, por exemplo. Sabias? E a electricidade deveria ser gerida de modo a optimizar o desempenho de um país, em vez de ser um meio para obter lucros ilícitos a coberto de engenharias financeiras e legais que permitem que pessoas como o Mexia e os accionistas que o apoiam, obtenham lucros disparatados. Se é um bom gestor deve receber um bom salário e pronto. Algo razoável. Se um jogador de futebol ganha muito, ninguém tem nada a ver com isso. Mas a pessoa que gere a electricidade não. Independentemente de ter ou não ter uma participação do estado. Isso não interessa. Isso é só para distrair. O importante é que se a electricidade falha na Maternidade Alfredo da Costa por exemplo, é perigoso logo no imediato e, como te referi há pouco, a água falhar é menos perigoso, compreendes? Isso é maldade e injustiça pois está a coberto de outras pessoas que estão colocadas em outros organismos que detêm poder para isso. E fomos nós que nos deixámos enganar, creio. Quero acreditar que fomos e estamos a ser muito bem enganados, o que é muito triste pois ao fim e ao cabo, quem nos está a enganar, são portugueses, europeus ou seres humanos como tu e eu. Mas são pessoas más. E eu não compreendo tanta maldade em alguém como o Mexia por exemplo. É impossível que ele não saiba e compreenda que o que está a fazer é horrível. Está a enganar sistematicamente as pessoas. É feio. Mas se há mais exemplos? Oh! Tantos. Mas sem electricidade não há Facebook, topas?

Talvez já me tenhas visto vociferar contra o Carlos Cruz, por exemplo. Ainda hoje fico na dúvida se ele foi ou não molestador de crianças. É triste não termos na nossa democracia ferramentas que nos garantam que a justiça funciona. Que nos proteja de uma engenharia financeira altamente sofisticada, com ligações tão obscuras que só com muito empenho, conhecimento e determinação se conseguem detectar. Estamos a viver tempos complexos. Não porque apareceram agora. Mas sim porque os próprios órgãos de informação manipulados por essas forças do mal (chamemos-lhes assim que dá mais ideia de filme de ficção científica) estão a ser confrontadas em todo o mundo por algo para o qual não estavam preparadas – a verdade. O mundo está a mudar… e ninguém imagina para onde. É lindo!

Beijinhos,

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O super taxista


Há tempos, cheguei a Lisboa de avião. Alguns sabem mas outros não, que quando se chega a Lisboa de avião não se aterra a cinquenta quilómetros numa pista de aterragem situada num local tão inóspito que nos faz sentir parte de uma carneirada qualquer em que o livre arbítrio é uma alucinação.

Chegar a Lisboa de avião, não obstante ser o pior meio de transporte conhecido na história da humanidade, é algo que atenua o sofrimento de uma viagem que nos obriga a permanecer sentados durante horas a fio, ingerindo coisas que nem aos cães de dão. Chegar a Lisboa de avião, vindo de outro lugar qualquer do norte da europa por exemplo, significa preparar a aterragem mesmo por cima da cidade. Significa poder ver as casas, as ruas, os carros, as pessoas e eventualmente, e nem é preciso muita sorte, talvez se consiga ver a própria casa. Aterrar em Lisboa é o paraíso das aterragens das capitais europeias. Aterra-se no meio da cidade. Da capital. De uma metrópole que não sendo gigante não deixa de ser o coração de um país.

Se tivermos sorte, e também não é preciso muita, até aterramos com sol e calor e tudo. É bestial. Vai-se ouvindo falar na ideia de construir um aeroporto fora da capital, baseado em factos louváveis e pertinentes, mas por outro lado, o aeroporto de Lisboa é sem dúvida um espetacular cartão de boas vindas a quem quer que chegue de avião. É bem possível que passada meia hora depois de aterrar se consiga estar dentro do táxi a caminho de casa. E isso é impar nos dias que correm. Perder essa capacidade é perder algo que nos define. Nós os portugueses sem que nos apercebamos estamos na vanguarda do que se pretende que seja o futuro – uma interligação perfeita e harmoniosa dos meios de transporte de modo a ser o mais humano e o menos agressivo possível. Talvez, se em vez de querermos sempre crescer exponencialmente, fosse melhor gerir o que já temos e que se for bem gerido até resulta, enfim, há que ter fé.


O táxi - ora aí está outro meio de transporte extraordinário. Felizmente parece que voltaram ao preto e verde que é mesmo português, ao invés daquele bege insípido que só alguém muito doente podia ter proposto uma cor daquelas. Menos mal. Parece que a alma, ou coração, falaram mais alto e aí estão outra vez os táxis que todos conhecemos. Desta vez apanhei um taxista brasileiro e explicou-me o seguinte: para se ter a carteira de taxista é preciso largar perto de mil euros, ter frequentado um determinado curso e uma determinada formação. É necessário dar provas de uma série de competências pessoais e profissionais que fazem do profissional que conduz táxi um Senhor Doutor da estrada.

Não obstante, e sempre admirei esse grupo de profissionais por isso, conseguiram unir-se e obrigar a lei a abrir uma exceção, que de acordo com a exceção em si faz deles uns homens com poderes excepcionais. Os taxistas não precisam de usar cinto de segurança dentro da cidade. Sendo que eles devem ser imunes à morte em caso de colisão frontal por exemplo, mas só dentro da cidade, pois quando me transportou para Caxias, que já é fora do perímetro da cidade, seja lá o que isso signifique, vi-o colocar o cinto. Pensei no Super-homem de facto que perde a força por causa de umas pedrinhas verdes. Neste caso o taxista perde a capacidade de imunidade à morte a partir de um determinado limite. Uma linha imaginária que alguém definiu como sendo o perímetro da cidade. É curioso esta coisa da lei. Vá lá que nos distingue! Senão os taxistas eram obrigados como todas as pessoas normais a usar o cinto de segurança sempre que conduzem um veículo que pode matar no momento em que se liga o motor e destrava. Às vezes nem é preciso tanto, é só destravar.

Isto de facto, eu devo andar parvo.

Beijinhos,

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

1+1=2, ou talvez não


Há tempos, pensei em escrever uma carta à ministra da justiça. Algo me diz que pelo facto de ser mulher talvez esteja mais sensibilizada para a minha questão, não sei, vamos ver. O facto é que na minha vasta experiência profissional nas mais diversas áreas, tive uma da qual agradeço ao António as excelentes condições em que trabalhei com total liberdade e cheia de novas experiencias. Refiro-me à Condução Defensiva (conceito ainda muito descurado, e que como a educação sexual deveria ser assunto corrente, corriqueiro e obrigatório nas escolas de todo o país) que me deu uma certeza absoluta – as pessoas são todas potenciais criminosas quando sentadas ao volante de um veículo motorizado.

A juíza que foi apanhada em contra mão com vestígios de sangue na corrente alcoólica para os lados de Cascais e que nem uma multa levou irritou-me sobejamente. Incomoda. Sendo o caso mediático, pois soube-o através dos órgãos de comunicação social. Não há qualquer justificação para que a pessoa em questão não fosse devidamente punida como o são milhares de outras pelo país fora. E são estes exemplos que vão ocorrendo diariamente que me fazem pensar que um mais um não são necessariamente dois. O que andam a ensinar aos meus filhos na escola não serve para absolutamente nada que não seja formatá-los de modo a que fiquem embrutecidos e não reajam às injustiças que se vão verificando.


Dirijo-me portanto à sra ministra para a informar do seguinte – da próxima vez que um agente da autoridade, munido das ferramentas que o permitem atuar em conformidade, me mandar parar a viatura porque vou a falar ao telemóvel, ou porque não levo o cinto de segurança, irei acusá-lo de prepotência, de abuso da autoridade, e não pagarei qualquer coima, “usufruindo” das consequências devidas, que diga-se de passagem são sempre dúbias e de acordo com a cabeça que regista o auto. É impressionante que se comercializem viaturas que conseguem mover-se a 300 km/hora, com gps incorporado, com rádio, televisão, vidros fumados e cheia de tecnologias tais que as pessoas que as conduzem nem fazem a mínima ideia para que é que servem, quando o limite máximo é 120 km/hora. Quero ser tratado como outro português qualquer. Ou outro português da lista de portugueses que têm uma lei excepcional que lhes permite fazer coisas que não se podem fazer.

É portanto nesta altura que, no perfeito estado das minhas funções físicas e mentais, reitero a minha decisão. Acima de tudo por causa dos meus filhos, a quem tento transmitir valores humanos e coerentes. Não admitirei ser incomodado por uma justiça que de cega nada tem e que serve interesses tão dúbios e maléficos. A sra ministra não me conhece, mas eu conheço-a a si. A sra não faz a mínima ideia de quem eu sou mas eu sei muito bem quem a sra é. E dirijo-me a si diretamente pois como ser humano você pode ser excepcional, mas como ministra da justiça, ou se despacha ou não tarda muito é mais uma que está para aí a respirar oxigénio sem pagar. Estarei atento. Diga-me, como pessoa, mulher, mãe, que explicação daria aos meus filhos se eles lhe perguntassem o mesmo que a mim – “Porque é que a juíza não foi presa?” – referindo-se à juíza que ia completamente bêbada em contra mão e nada lhe aconteceu?

Olhe que estou quase para me embebedar e ir passear de carro para Cascais a ver se a mim também me vão tratar da mesma maneira que à sua colega. Aliás! Por que carga de água é que aceitou ser ministra da justiça se, espero eu, sabe que não funciona. É fé? Estou muito irritado. Desculpe lá mas tenho alguma razão, alguma devo ter. No entanto asseguro-lhe o seguinte, se sentir que algo de diferente, leia-se honesto, se está a passar decorrente da sua política, não hesitarei nunca em ficar do seu lado e apoia-la incondicionalmente. Mas olhe que prenderem e levarem para a cadeia, um cidadão e no dia a seguir libertarem-no porque se enganaram. Não sei. Mas é de uma falta de… de… de… Valha-me nossa senhora!

Beijinhos,

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Eu mexia, tu mexias, ele Mexia



Há tempos, coloquei uma vela na minha casa de banho. Talvez para a tornar mais romântica, sei lá. A minha mãe por exemplo, tem duas casas de banho. A dela é dela. A outra, que eu uso e as pessoas que frequentam a casa dela usam, tem música. Aquilo não é uma casa de banho. É um espaço de reflexão. Quando se liga a luz, havendo duas possibilidades à partida, ou a luz do teto ou a luz de um candeeiro de ferro, em forma de peixe, vivo, curiosamente de cabeça para baixo e o abajur, que deixando passar a luz filtra umas folhas secas embutidas no próprio abajur. Ora, a minha mãe que é uma mulher especial e não irei dizer absolutamente mais nada sobre ela, resolveu, sabe-se lá porquê, colocar um candeeiro que é de mesinha de cabeceira, na casa de banho. E mais, a casa de banho a que me refiro está cheia de postais, fotos, quadros, imagens disto e daquilo, ovos de mármore espalhados no chão, um pato de loiça pintado à mão dentro do bidé, objetos que nada tendo que ver com a casa de banho em si ficam perfeitamente integrados de tal maneira que suspeito que de cada vez que alguém lá vai a casa fazer-lhe uma visita ou outra coisa qualquer deve ficar surpreendida quando liga a luz para ir à casa de banho. Tanto o candeeiro como o rádio estão conectados à mesma ficha. Quando a porta se fecha, a luz do candeeiro filtrada pelas folhas do abajur mais a música clássica da Antena 2 propicia pensamentos profundos ou reflexões mais elaboradas.


Ora, estava eu sentado na sanita a refletir, e muito gosto eu de o fazer na casa de banho em casa da minha mãe. E acendo sempre a luz do candeeiro de mesa. Não sei se já lhe disse (à minha mãe) que me farto de pensar ali dentro, para além de largar o lastro, mandar um fax, arrear o calhau, cagar, defecar. É curioso, quanto mais se tenta descrever o ato, mais complicada se torna a descrição da situação, que diga-se de passagem é tão velha como a própria vida. Aliás, se houvesse uma gestão mais optimizada do que comemos muito se pouparia em reciclar o que nos sai do corpo e que para nada serve, enfim… E tudo isto é possível pelo simples facto de existir luz na casa de banho. Sendo casas de banho interiores necessitam de luz para que nos possamos orientar e situar. Até pintei recentemente o teto da minha casa de banho. Caro como o raio, uma lata de quatro litros de tinta da Robbialac, branco cintilante, custa cerca de 100 euros. Se o teto refletir melhor a luz, mais fraca pode ser a lâmpada. Faz sentido.

Enquanto reflectia, ouvi na rádio que o administrador da EDP ganhou um prémio de 3,5 milhões de euros no final do ano. Entrevistado, refere que esse prémio lhe foi atribuído pelos acionistas que estavam muito satisfeitos com os extraordinários resultados da EDP. Lucros na ordem dos muitos milhões de euros obtidos acima de tudo por investimentos feitos no estrangeiro. Cá, mudaram a imagem e para isso gastaram milhões e milhões de euros. Para mostrarem trabalho, talvez. Nem compreendo estas opções administrativas. De onde é que lhe vêm estas ideias? Talvez não seja ele mas decerto dará o aval. Resta saber porquê. 

Ultimamente de cada vez que vou cagar penso no Mexia. E logo de seguida, ou a ordem vai variando - talvez conforme me custe mais ou menos, cagar - também penso no Carlos Cruz, no Vale e Azevedo, no Valentim Loureiro, na Fátima Felgueiras, no Ferro Rodrigues, e há mais, até no Mário Soares ou no Cavaco Silva, coitados. Bem vistas as coisas arrear o calhau ou refletir voltou a ficar mais caro. O que me incomoda, indigna e dá voltas à barriga é saber que o Mexia e os acionistas de que ele fala, sorriem de cada vez que acendo a luz para… seja lá o que for.

Beijinhos e essas coisas,

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ser ou não ser terrorista


Há tempos um homem bem aparentado, loiro, de olhos azuis, alto, de boas famílias, com uma educação de excelência, com bases familiares acima da média, com instrução acima da média, inteligente, capaz de formar as próprias ideias e agir de acordo com elas, com convicções tais que tomara muitos as terem, enfim… um tipo normal. Daqueles que por um acaso da vida terá nascido na Noruega. Atente-se que nascer na Noruega tem à partida a vantagem de estar à frente do pelotão dos mais evoluídos do mundo. Ser norueguês significa ser bom, significa ser-se vizinho de um dos maiores fabricantes de armas e telemóveis e carros – a Suécia.

Ora este homem, de quem ninguém desconfiaria que pudesse fazer mal a uma mosca, foi elaborando atempadamente e ao longo dos anos um projecto de verdadeira alteração do status quo. Ele imaginou que se algo acontecesse de extraordinário à sociedade dita ocidental, iria despertar nos cidadãos europeus uma realidade que, na perspectiva dele, não quer ser observada. Deve ter sido uma ideia sedimentada pelo facto de ele ter pertencido a partidos mais radicais e ideologias ainda mais radicais. Este homem, com ou sem amigos à mistura, elaborou durante vários anos os maiores danos possíveis, no menos espaço de tempo possível e com a maior projecção mediática possível. Acho que o conseguiu depois de ter feito explodir um carro armadilhado no centro de Oslo e depois, não fosse passar despercebido, dirigiu-se calmamente para uma ilha onde estavam imensos jovens ou menos jovens e desatou a matá-los à queima-roupa, ou que não fosse, matou-os à distância de um tiro de pistola, ou revolver, ou arma de fogo.

Pelos vistos e mesmo que não queiramos assumir, ele é produto da sociedade em que vive. Ele e nós. E se defendemos tanto a liberdade de expressão, ele fê-lo sem igual. Se foi preciso coragem para enfiar com um avião ou dois por dois edifícios dentro, fazendo-os explodir e resultando na morte de milhares. Andar pelo parque fazendo tiro ao alvo a pessoas na expectativa de matar o maior número possível é de se lhe tirar o chapéu. É preciso ter coragem, convicção, determinação, uma vontade férrea e até uma fé inabalável nas convicções que nos leva a ter tal atitude. Não queremos acreditar que seja possível… mas é.


Talvez me engane mas nunca saberemos a verdade por causa dos órgãos de informação, que com a fobia de dar a informação o mais rapidamente possível, escrevem e dizem disparates um atrás dos outros. A solução é ler o mais possível, ouvir o mais possível e com sorte fazer a análise o mais correcta possível na esperança de tentar entender o porquê de semelhante atitude. Se é desprezível ou não é irrelevante. O que é de reter é que o ser humano continua a ser uma caixa de surpresas. Continua a ser ele mesmo, com defeitos e virtudes. E que no conjunto fazem dele, o ser humano, descendente de um vírus ao invés de uma célula… faz sentido, se pensarmos bem. E pelos visto parece que a comunidade científica chegou a essa conclusão – somos descendentes de um vírus. Extraordinário. Muda tudo, sem sombra  de dúvida.

Agora. O tipo lá imaginava que a outra se ia matar no mesmo dia atolada em drogas e álcool? Estúpida. Tinha uma vida óptima pela frente. Mas nós gostamos, que se há-de fazer. Somos um vírus. Deve ser isso. Quer queiramos quer não, gostávamos de ver a moça a cantarolar completamente bêbada e cheia de coca no palco. Eu vi e foi degradante, credo! Mas desse fatídico dia, e através das notícias, o que me mais me chocou foi o facto dos noruegueses terem ficado espantados pelo facto de ter sido um norueguês. Reparem que nunca lhe chamaram terrorista. E ainda hoje estou para apanhar um desses felizardos da Noruega para lhe perguntar, “Olha lá! Então e se fosse afegão, paquistanês ou até mesmo português, quem sabe, nós não somos bons em atentados mas nunca se sabe (eu por exemplo vou vendo as noticias e só me ocorre começar a partir tudo), será que já era terrorista? Ou um norueguês inteligente, bem formado e culto não pode ser um terrorista? Querem ver?

Claro que descendemos de um vírus. Faz todo o sentido. Deixa ver se ele conseguiu mudar a mentalidade dos noruegueses e dos europeus. Já estivemos mais longe… muito mais.

Beijinhos e essas coisas,

terça-feira, 12 de julho de 2011

Propriedades do lixo


Há tempos um familiar meu, mais velho, mais experiente. Uma pessoa com um grau de cultura acima da média, bastante instruído e atento ao que se passa no mundo. Leitor assíduo do jornal Expresso (seja lá o que isso signifique), E de outra literatura menos informativa mas mais técnica, mais específica, enfim, se bem me lembro esse meu familiar não é parvo nenhum, se me faço entender. Aliás, foi professor na Universidade Moderna, estão a ver? Não é de facto uma pessoa vulgar, não deixando de o ser, pois se no mundo há seis biliões de almas, ele não há-de ser excepcional. Mas em relação ao enormíssimo grau de iliteracia que existe no nosso país ele de facto até parece excepcional, não o sendo. Ele lê. Vê as notícias. Lê mais. Talvez por ser curioso e não se ficar pelo que os outros dizem, acaba por ler o que os outros escrevem.

Falar com esse meu familiar foi excelente para mim e para o que eu penso sobre a vida de uma maneira geral. Ele com a sua maneira de ser, com a sua formação familiar e académica, tinha e tem as suas opiniões que, se por um lado fazem toda a lógica, por outro havia cá dentro de mim, do tal cérebro que o meu coração tem (provado cientificamente), algo que me deixava na duvida pois eu escutava-o com enorme atenção mas nunca senti verdadeiramente que ele tivesse razão. Não sei como explicar pois nunca me ensinaram, mas o facto é que sempre achei que ele estava errado ou, na melhor das hipóteses, a teoria dele não podia ser posta em prática sem que algo de anormal daí resultasse.

Dizia esse meu familiar nos anos oitenta que Portugal ia ser um país de serviços. E de facto ele tinha razão. Portugal com o nascimento do euro e consequente adesão à moeda única tornou-se num país de prestação de serviços. E de enormíssima qualidade. Exemplos? A Via Verde. A Via Verde é um caso de estudo do que de melhor nós, portugueses, somos capazes de fazer. É cómodo e dá milhões, sem que ninguém se aperceba verdadeiramente do roubo que isso significa. E mais não escrevo sobre o assunto porque simplesmente me indigna que tal esteja a ser perpetrado às pessoas e ninguém se insurja. É porque foi magistralmente bem concebido. Tal como a electricidade, a TV por cabo, a água, os transportes públicos e por aí fora. São serviços de primeira necessidade que, através de um criterioso estudo e adaptação às circunstâncias, conseguiram ser geridos de acordo e de tal modo que à primeira vista tem lógica. É curioso, pois para mim tem a lógica de uma sociedade terrível que divide para reinar. E consegue e tem conseguido.

Entretanto afastei-me desse meu familiar. Não interessa. Mas não deixei de transportar na minha mente a questão de que Portugal iria ser um país de serviços. Fazia-me reflectir e não conseguia perceber bem o porquê das minhas dúvidas. Afinal de contas tudo o que ele então me dizia fazia sentido, tinha uma determinada lógica, estava baseado em inúmeros estudos científicos e técnicos de tal modo elaborados que muitas das vezes eu nem conseguia entender. E repare-se, não está aqui a minha mãe para vos afirmar, mas afirmo eu, não me considero estúpido.


A semana passado um grupo de norte americanos que podiam perfeitamente ser amigos desse meu familiar, consideraram ou opinaram, conforme queiram, que Portugal é lixo. Isto claro está, referindo-se à nossa conjuntura económica e financeira. E de repente faz-me todo o sentido o que tenho pensado sobre o que esse familiar então defendia. Ou seja, quem imagina que o futuro são serviços agora que os coma. Quem imagina que o futuro são as telecomunicações agora que as comam. E quem imagine que os EUA, através da Moddy’s vão acabar com o euro, desengane-se. Meteram-se com os portugueses e nós, os portugueses, temos esta “mania” de esperar… Deve ser do contacto que tivemos no passado com os povos do Oriente, ainda os americanos estavam para ser inventados!

Enfim, parece que esta semana vêm cá a Portugal uns tipos da Moddy’s conversar com os nossos banqueiros! A ver se não me esqueço de lhes levar o lixo que tenho no balde em minha casa. Provavelmente não conseguirei entregar-lhes, era giro. Mas se não conseguir, irei depositá-lo no banco dos nossos banqueiros… Até podia ser o meu familiar e as ideias que ele defende. Porra p’ra isto.

Beijinhos e essas coisas,

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O partido dos animais


Há tempos pensei - “Lá estou eu com este meu feitio”. De facto algumas pessoas que me conhecem mais de perto talvez me achem sarcástico, ou arrogante. Que tenho a mania que sei tudo. E de facto, às vezes até podem ter razão. E se por vezes eu próprio começo a pensar que talvez tenham razão, são os meus filhos que me fazem ver quanto errado essas pessoas estão. Na realidade eu não sei nada. Ando para aqui a vida toda a constatar que umas vezes acerto nas minhas teorias conspirativas e outras não. Como vou tendo a mania de tentar acertar o maior número de vezes, quando sinto que posso não acertar calo-me. Assim nunca erro. E ser sarcástico e essas coisas? São máscaras para me tentar defender. Só isso.

Mais uma vez exerci o meu direito de votar. Votei com consciência num partido que ao fazer as minhas contas de cabeça achei que seria o voto mais útil possível. Acertei em cheio. Estou satisfeito. Mais uma vez, e nós (portugueses) somos peritos nessa matéria, passámos a linha ténue que divide a esquerda da direita e voltámos a optar pela direita, contra a esquerda. E andamos nisto desde 74 do século passado. Talvez seja por sermos uma democracia jovem (que estupidez). Tem havido um objectivo muito claro em querermos ter as coisas como elas estão. Há que assumir isso sem receio e não continuarmos todos a dizer que a culpa é dos outros. Estamos todos no mesmo barco e passados trinta anos de experiências à esquerda e à direita já não há novidades. A mim o que me continua a surpreender… ou já não, é olhar para o boletim dos votos e estar lá escarrapachado um “partido amigo dos animais” por exemplo, pois não me lembro bem dos outros. E isso é sinónimo de que a democracia está a ser manipulada e usada para servir interesses que não precisariam de um partido para levarem avante os seus objectivos e causas nobres.


Por outro lado temos esta “nova” profissão que as televisões vão promovendo e que é o comentador. Não sei se vos parece o mesmo, talvez seja da minha maneira de ser, mas ser comentador de política ou de futebol é tão parecido que por vezes já nem sei o que é que estão a comentar. Enfim, num país tão pequenino como o nosso, com uma história milenar como a nossa, é curioso apercebermo-nos da nossa fragilidade enquanto jovem democracia, seja lá o que isso signifique. Também não deixa de ser curioso ver políticos de carreira, com provas dadas nestes últimos trinta anos, afirmarem que a classe política tem que mudar. Então? Mas esperem lá. Ou sou eu que estou a ver mal a coisa ou foram “eles” que nos fizeram chegar a este estado. E agora vêm com este discurso de “mea culpa” em cima dos outros? Então? Mas então? Não me interpretem mal mas pessoalmente não dou crédito nenhum aos políticos comentadores que diariamente aparecem na TV. São os próprios a fulminarem os pés. E o povo? Enfim… “A luta é alegria” é uma piada, só pode. A seguir foi o Futre. Não indo ao Festival da Canção, parece que vai fazer novelas.

A minha tentativa de fazer uma leitura consciente e responsável do que vou vendo, lendo e ouvindo, prende-se exclusivamente com o facto de ter dois filhos menores, pois se não fosse por eles, talvez já tivesse ido para outro lugar… ou não, que eu adoro “trincar-lhes os calcanhares”. Um dia até irei escrever coisas que eu sei, pormenores sem importância. Mas não é agora. É quando os meus filhos forem mais crescidos. E é assim que “eles” vão continuando a fazer o que bem entendem. Através do receio que sinto pelos meus filhos e pelas eventuais retaliações que possam sofrer por causa do pai ser como é. “Estás parvo” dirão uns, “Estou, estou. Mas por via das duvidas...” direi eu.

Isto é um país democrático porque tem eleições livres? Podemos enganar Jesus que ele não se importa, mas agora o Pai d’Ele é que já é diferente.

Beijinhos e essas coisas,

terça-feira, 31 de maio de 2011

Eu sou do milénio passado



Há tempos, e já foi no segundo ou terceiro milénio, digo isto porque não obstante estarmos no milénio dois o facto é que do um aos mil são mil, dos mil aos dois mil são dois mil, e dos dois mil aos três mil são três. Portanto fico sem saber se estou no segundo ou no terceiro milénio. E se parece ser um assunto menos importante, já o ouvi ser discutido por catedráticos na televisão. Mas isto para dizer, e é importante a diferença de mil anos ou não pois de cada vez que parece que estamos muito evoluídos como raça, seres vivos, sociedade, força do universo ou o que lhe queiram chamar, o facto, como escrevia, é que continuam a haver sinais de uma falta de desenvolvimento social e tecnológico a toda a prova. Exemplos por aí não faltam. Os carros de que nós portugueses tanto gostamos e que vêm cheios de tecnologias e mariquices mas o motor de explosão já é uma invenção arcaica do século passado. E ainda mais impressionante, do milénio passado. Aliás, poucos seres humanos se poderão gabar de dizer a frase “nasci no milénio passado”. Adiante…

A semana passado três acontecimentos marcantes (agora até me sinto o professor/comentador). Em primeiro lugar a jovem que foi presa por ter dado um aviamento de pancada a outra jovem. Um arrufo de rua, filmado por um terceiro com um aparelho de comunicação sem fios, tal como nos países do norte de África, e que acaba por colocar nas malhas do sistema judicial uma jovem, que se tiver sorte talvez saia incólume. Em segundo lugar e escrevo o nome dela pois foi tornado público, outra menos jovem e mais afortunada mulher chamada Francisca Costa Santos, magistrada do ministério publico, é apanhada pelos agentes da autoridade numa rua em Cascais em contra mão, com 3,08 de álcool no sangue, e é ilibada no dia a seguir. E o terceiro acontecimento, não tão óbvio de entender como os primeiros mas que também ajuda a reflectir sobre o estado da nação, como “eles” tanto gostam de afirmar, foi o Futre na entrega dos Globos de Ouro ter pedido a palavra, em directo e a cores, para dizer que os portugueses da classe pobre estão a passar dificuldades e que os da classe média para lá caminham apressadamente. A plateia riu-se e aplaudiu.


A linha que separa os políticos dos jornalistas e dos comentadores de futebol é cada vez mais ténue. O discurso é tão parecido que se estivermos a jantar e ouvirmos a notícias levamos algum tempo a descortinar do que é que estão a falar. Aliás, se eu fosse director de um jornal qualquer, faria essa experiência, trocava os jornalistas de desporto pelos de política e seria curioso entender qual o tratamento jornalístico que uns e outros dariam aos assuntos. Acho que até traria resultados muito positivos. Mas adiante, é por isso que eu nunca serei director de nenhum jornal ou órgão de informação. Eu e as minhas ideias completamente disparatadas nunca conseguiriam vingar.

Hoje, dia 31 de Maio de 2011, Portugal está mais democrático e ao mesmo tempo mais pobre. Mais democrático pois é possível agendar eleições “enquanto o diabo esfrega um olho” e por outro lado o espectro da dita geração rasca alarga-se cada vez mais. É conforme os dias, às vezes concordo com o Vicente Jorge Silva que foi o responsável pelo termo tão em voga, outras vezes julgo que ele está errado. Entretanto temo pelo futuro dos meus filhos, tal como os meus pais temiam pelo meu. Tudo na mesma, portanto. A diferença é de facto os canais de informação serem muitos mais. Ainda bem… ou talvez não.

Beijinhos e essas coisas,

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O poderoso pecador


Há tempos um dos homens mais poderosos à face da terra, pelo menos é assim que os órgãos de comunicação se referem, presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional) viu-se confrontado com a mesma situação que outros homens também poderosos já se viram. Julgo até que um dia destes haverá sem dúvida uma reunião de “homens poderosos que deixaram de o ser por causa do sexo anónimos”. Dizem que ele é uma besta, que violenta as mulheres, que tem taras sexuais. Credo, o que para aí se diz. Bem vistas as coisas, e eu não estava lá para ver, e se estivesse eu cá só me iria rir, ao que parece a empregada da limpeza, resolveu ir limpar a suite do homem com ele lá dentro. Enfim, nós os homens temos em comum imensas coisas, uma delas é o desejo ou fetiche ou vontade, não se sabe bem de onde vem, mas de facto quem não imaginou nunca estar num quarto de hotel e de repente entrar a menina da limpeza e… e… enfim… essas coisas.

Já o Clinton também sucumbiu ao pecado carnal. Coitado. E esse que na altura também era poderoso, deixou logo de o ser. É assim, por mais poderoso que o sejam, os homens têm esta fraqueza. O sexo. Nós, homens, somos assim. Jesus e os seus inúmeros seguidores bem tentaram anular essa tendência natural do homem. Não conseguiram. E já lá vão mais coisa menos coisa, dois mil anos. E com isso fizeram das mulheres umas desgraçadas. Ou por serem seres inferiores, ou por serem todas bruxas, ou por serem enviadas do demo, a nossa cultura ocidental baseada numa crença religiosa estúpida fez com que ao longo dos anos, séculos até, as mulheres tivessem de usar roupas estranhíssimas, tivessem de se sujeitar à iliteracia, à exclusão, e a tudo o que de mais horrível se possa imaginar fazer a um ser humano. Finalmente e ao que parece estamos perante uma extraordinária reviravolta. Isto até parece coisa de Sanção e Golias. Sendo que o grande é o homem e o pequenito a mulher.


Pois foi. Ao que parece está preso. E ao que parece e logo em Nova Iorque, Estados Unidos da América do Norte, logo aí. É aviões a irem contra edifícios, é edifico a cair sem que nada justificasse. É presidentes a caírem que nem tordos. E agora este francês que até se preparava para ser o próximo presidente da França é apanhado a querer violar a senhora da limpeza. Tão poderoso, tão poderoso e afinal o fetiche do homem é senhoras da limpeza de suites de hotéis de luxo. Impressionante. Vá-se lá entender os norte americanos. Ao que parece a justiça funciona. Espera… nos EUA a justiça funciona? Pelos vistos o homem é culpado até prova em contrário. Se tiver azar, ou sorte, e com o histórico daquela superpotência, nunca ninguém há-de saber ao certo o que se terá passado. Ainda hoje não se sabe como foi possível a morte do Kennedy. E agora, e ao que parece, o sistema funcionou e ele vai mesmo dentro. Nem a pagar o deixaram sair. Ainda estou a ver a cara do tipo. Coitado.

No entretanto e eu que gosto de teorias da conspiração e a minha mãe até põe velas a ver se não me acontece nada, ocorre-me que quem foi substituir o desgraçado foi um norte-americano. No fundo, e cá para nós que ninguém nos ouve, eu cá para mim foi uma cabala montada. A democracia funciona lindamente e aos EUA dá imenso jeito. Eu faço ideia o que não vai para aqueles corredores do poder global. Eu se fosse norte-americano também não gostava nada de começar a perder poder, e quer queiramos que não, eles estão a perder e não gostam nada. Mesmo nada.

Mas pronto. Não querem ver não é? São mais felizes assim não é? Um dos homens mais poderosos da terra acaba por ser destronado por causa de sexo? Impressionante! Também já ouvi comentar que se ele não fosse casado, aí era diferente. Ainda mais impressionante!

Beijinhos e essas coisas,

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Meditar ou ir à praia


Há tempos fui à praia. Gosto de ir à praia. Aliás, sempre fui à praia. Eu e a praia somos assim uma espécie de namorados. Temos uma relação sazonal. Julgo que a coisa que mais falta me faz quando não estou em Portugal é a praia. Poderia até contar a história da minha vida só baseada nos momentos vividos na praia. E assim sendo seriam só bons momentos. De facto a praia e a relação que tenho com ela só me faz lembrar bons momentos. Há excepção da vez em que fui mordido por um peixe-aranha e que me deu para perceber o quanto consigo aguentar dor, a praia tem sido uma constante na minha vida. Temos imensa costa e consequentemente muitas praias, o que não é uma verdade universal pois há muitos países com imensa costa que não têm praias.

Lisboa tem muito encanto de facto. Fala-se e até se canta Lisboa de imensas maneiras mas nunca se comenta o facto de ter praias. Bem vistas as coisas é a única capital dos estados que integram a comunidade europeia, seja lá o que isso signifique, que tem praias à discrição. Vinte quilómetros logo do outro lado do rio com condições incríveis. Felizmente já lá vai o tempo em que ir para a Costa era uma aventura e não havia qualquer ordenamento. Agora é diferente. Ainda bem. E os lisboetas vão muito para a praia. A ponte encarnada que o diga. E agora, dadas as especiais circunstâncias e contrariamente ao que alguns apregoam há cada vez mais pessoas nas praias em dias de semana. É curioso. Com tanta crise deveriam era estar em casa a tomar antidepressivos ou à procura de trabalho, mas não, vão para a praia. Ora isto para quem está de fora é no mínimo curioso. E compreende-se, senão vejamos,

A banca rouba, a política está que mete nojo, o desemprego sobe em flecha, diz-se, porque talvez seja verdade que Portugal está na bancarrota e que só lá vamos com dinheiro emprestado. Aparte do que eu penso em relação à situação actual, e tenho uma opinião muito bem formada, o facto é que se um finlandês vier neste momento a Portugal e o levarmos às praias da Costa da Caparica, por exemplo, ele provavelmente vai ficar surpreendido. Mas não é só quando chegar à praia, é logo mal saia do aeroporto, quando observar o parque automóvel, as obras que estão a ser feitas, o sol, a luminosidade. Enfim, ele não vai compreender. Aliás, nem sabemos se alguém de facto compreende. Democracia capitalista é um conceito bizarro em que o resultado nunca pode ser igualdade.


Para se compreender a nossa maneira de estar é preciso ter praias. Muitas praias com sol, areia dourada e um mar que, de norte a sul, contém em si todas as variações do azul. Às vezes a água é fria, mas suporta-se. Há pior. E depois há a linha do horizonte, que está lá, sem se mexer, que por oposição nos define como seres inteligentes que deixaram de andar de gatas para se porem de pé, na vertical. Os chineses têm lá a filosofia deles, os hindus também, os muçulmanos também, e nós temos a nossa. Nós meditamos, os portugueses sabem meditar. Só não lhe chamam é nada. Vão para a praia e pronto. Sabem o que é não fazer nada, que por si só pode ser dificílimo de conseguir pois só nos ensinam e dizem que temos de fazer alguma coisa. Valha-me Deus, há imensos homens e mulheres espirituais que são pagos para não fazerem nada. Ora, ir para a praia significa ir gozar a vida, ter prazer, reflectir, contemplar a vida e esperar. O mundo não pára de girar.

Os finlandeses lá tiveram os seus quinze minutos de fama com esta tentativa vã de não quererem que nos emprestassem dinheiro. Por um lado até nos faziam um favor, por outro, coitados, eles têm é inveja. Vem aí o verão, e com ele mais uma vez tempo para contemplação, reflexão e meditação. Os nossos dirigentes sabem-no bem e jogam as cartadas políticas em função disso. Minimiza-se o poder da praia na vida nacional e é pena. Na praia não há televisão, rádio, informação, publicidade, marketing e a vinte quilómetros de Lisboa consegue-se isso – o paraíso. Têm imenso que aprender connosco, os finlandeses, imenso… coitados.

Beijinhos e essas coisas,

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Festival



Há tempos trabalhei numa empresa que gere direitos de autor sobre músicas. Escuso-me de dizer o nome. Mas o facto é que nesse período conheci um pouco mais de perto os meandros do espectáculo e do que ele envolve e representa. Muita coisa se pode escrever sobre o assunto mas vou-me ficar pelo Festival da Canção. Essa coisa estranha que acontece todos os anos e que envolve os países da europa que curiosamente ou não são cada vez mais. Aquilo nunca mais acaba… e depois as votações. Aquelas carinhas larocas a darem recaditos uns aos outros. Credo!


Nessa altura o meu patrão resolveu concorrer ao Festival da Canção. Foi uma experiência interessante poder acompanhar o desenrolar de um projecto desde raiz. Lembro que a música começou por ser trauteada à mesa do almoço. Depois passou para o maestro que a traduziu para notas musicais. Depois arranjou-se os músicos e um grupo, três raparigas e três rapazes, um deles, o Ricardo Carriço que ainda hoje falamos se nos encontrarmos. É giro. Entretanto a Rosa Lobato escreveu a letra que como ela bem o sabia fazer era sobre frutas e vegetais. Adiante. Alguém lhes confeccionou as roupas e alguém lhes arranjou uma coreografia. Enfim. Perdemos para uma rapariga pequenita e toda frenética que desde essa altura canta pelo mundo fora, fado, claro.


As votações eram dadas por um grupo restrito de pessoas supostamente entendedoras dos meandros dos Festivais da Canção. Sempre fiquei com a sensação que independentemente da outra ter ganho, havia um lobbie que a ajudou a ganhar. Sempre foi assim. Aliás o Festival da Canção é daqueles festivais que não compreendo o porquê da sua existência tal é a falta de qualidade. Mas o facto é que tem catapultado para as luzes da ribalta imensa gente. Deve ser assim uma espécie de teste. Se o passarem, safam-se. E têm-se safado. Por trás de cada concorrente há sempre uma história. Nós cá conhecemos as histórias dos nossos concorrentes mas se soubéssemos a história que está por trás da miúda que concorre pela Alemanha veríamos que há coisas extraordinárias. E boas mesmo. Eu sei pois estava na Alemanha o ano passado por esta altura e acompanhei de perto a sua história. Ela pelos vistos é tão boa que este ano concorre outra vez. Vamos lá ver.



Entretanto os “Homens da Luta” que estavam em penúltimo lugar creio, ganham o primeiro lugar quando os votos são dados pelas pessoas que telefonaram. Isto foi algo extraordinário. É que se pensarmos bem… a sério, se pensarmos bem é inédito. O Festival da Canção é uma espécie de instituição gerida por um grupo de pessoas que nunca na vida iriam eleger aquela banda. Eu faço ideia. Como devem andar. E entretanto “Os homens da luta” lá estão, a falar de Portugal como nunca ninguém que representasse Portugal o fez antes. É bestial. E isto tudo dá-me ideia, representa bem o processo pelo qual estamos a passar. Existe de facto uma nova ferramenta de escrutínio que anda a deixar os "poderes instituídos" atazanados. As comunicações e a internet vieram alterar o status quo de tudo o que temos por garantido. Até a banca. Em Portugal e julgo que na maioria dos países europeus se passa o mesmo, a internet, essa ferramenta extremamente dúbia, vai mostrando lentamente os podres da nossa sociedade. Nada que não se imaginasse mas assim é mais giro.


Se me perguntarem o que eu acho dos “Homens da Luta” eu direi sempre que são como oxigénio para um mar de dióxido de carbono que por aqui anda. Não sei se os alemães vão pensar que são uma espécie de Village People ou um bando de malucos. Não sei mesmo imaginar o que possa passar na cabeça dos júris dos outros países que, não entendendo a língua portuguesa, se limitam a trautear a música e a observar aquele conjunto de pessoas que se apresentam daquela maneira e com aquele discurso e atitude. A sério, imaginem por momentos que são finlandeses. O que pensariam? Ontem começou um programa novo na televisão portuguesa - “Perdidos na Tribo” e a seguir o FMI a e a seguir tróica ou o que isso signifique e a seguir os comentadores de futebol e depois os comentadores políticos e depois os políticos... 


É a loucura dentro da própria loucura como costuma referir um grande amigo meu.

Beijinhos e essas coisas,

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O obtuso



Há tempos pensei… espera lá! Mas isto parece que estamos todos obtusos, ou será impressão minha? E mais uma vez tive de ir ver o que significa a palavra obtuso que por exemplo, no filme “Os Condenados de Shawshank” quando o prisioneiro, protagonista no filme, chama obtuso ao director o resultado foram dois meses na solitária. Enfim, ninguém gosta que se lhes aponte as virtudes.

Também pensei no livro do Saramago - “Ensaio sobre a cegueira” e não sei porquê mas a minha cabeça às vezes tem destas associações estranhas, pensei no Ferro Rodrigues. Acabo no Ferro Rodrigues mas podia acabar em outro individuo qualquer. Indivíduos duvidosos mas que supostamente não o deveriam ser. Pessoas públicas que me entram pela casa dentro através da televisão e que ficam à mercê dos raciocínios do meu cérebro. Neste caso concreto só me lembro da extraordinária coincidência que foi esse homem, de repente e ao mesmo tempo que rebentava o caso Casa Pia ter tido duas ou três atitudes sem qualquer sentido para alguém que tem responsabilidades de estado. Enfim… Pano para mangas, como se costuma dizer. Irei deixá-lo descansar por agora. Curiosamente ou não, voltou, e ao que parece a memória dele é de facto curta. Mas a minha não. E há imensas perguntas por responder. Talvez seja uma estratégia… quem sabe? Qualquer dia volta o Pedroso. Não me admirava nada.



À entrada de Auschwitz I lia-se (e ainda hoje se lê) as palavras: "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta) Os prisioneiros do campo saíam para trabalhar durante o dia nas construções do campo, com música de marcha tocada por uma orquestra. No 1.º de Maio a CGTP apela para que as pessoas não vão trabalhar. O Louça diz que a Sonai e a Jerónimo Martins não querem saber dos trabalhadores nem do dia da comemoração dos trabalhadores. Por causa da chuva, talvez, dizem eles, estavam 2000 pessoas na manifestação do dia do trabalhador. Nesse dia fui às compras e ao centro comercial. Estava tudo aberto e a funcionar. As meninas das caixas dos Continentes estão a ser substituídas por umas pistolinhas que registam o que compramos. Este ano parece que não vai haver a tradicional abébia de passar a ponte 25 de Abril, ou Salazar, sem pagar no mês de Agosto. A Via Verde e as caixas automáticas não precisam de férias.

É uma questão de tempo mas algo está para acontecer ou já está a acontecer neste momento mas ainda não conseguimos fazer uma leitura objectiva. Dá-me ideia que as pessoas ainda não perceberam o poder que têm de facto. A sociedade é um ser vivo e tem vontade própria. A sociedade está a evoluir para algo que me parece… enfim… não me parece nada. Se o Ferro abraça o Pedroso e o Sócrates abraça o Ferro então não sei mas a culpa não é minha que eu estou aqui quieto, mas um mais um são sempre dois. Talvez eu esteja a ficar obtuso. Talvez eu não queira ver. Pois se eu quisesse ver, de certeza que eu faria alguma coisa. Por outro lado se não faço e o meu coração me diz que de certeza que há algo errado é porque sou cobarde ou tenho algum interesse e é melhor é não fazer nada. Não sei…

Às vezes olho para os meus filhos e admiro como são felizes. A Maria devora livros e o Manuel colecciona cromos. Eu… eu sou parvo.

Beijinhos e essas coisas,

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O estado de felicidade



Há tempos entrei no Estabelecimento Prisional de Tires. Costumo ir lá por causa de um projecto que desenvolvo em parceria com a Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Tem-me dado a conhecer algo extraordinário. Leva tempo. Às vezes parece que não se vai conseguir. Existe de facto um lado negro que insiste em querer fazer crer que não se consegue levar um projecto a bom porto. Mas passados quatro anitos deste projecto em que me envolvi percebo que acima de tudo é mesmo uma questão de fé, ou acreditar, se preferirem. E atenção que quando digo fé não estou nem de perto a colar-me a qualquer conotação religiosa. Não! Fé é algo em que passei a acreditar. Mesmo assim às vezes ainda sinto uma pontita de inveja aqui e ali. Um quê de “este gajo não faz nada” ou “este gajo não quer é fazer nada”. Isto porque o projecto em que me meti é bem pensado. Não é despesista. É razoável. Não é para ficar milionário. É para ser feliz e fazer as pessoas felizes. Foi assim que nasceu o projecto em que estou envolvido. É giro.

Nesse dia em que fui ao estabelecimento prisional, paro o carro à frente do portão como é costume e espero. O guarda prisional munido de um comando à distância abre o portão que desliza lentamente para o lado permitindo-me a entrada num mundo teoricamente feito para estar confinado ao perímetro dele próprio. Com regras bastante especificas, esse espaço alberga dois tipos de pessoas. As pessoas detidas e as pessoas que as detêm. Lá dentro o tempo passa de maneira diferente. Não leva mais nem menos tempo a passar. É diferente. Tenho tentado perceber mas ainda não consegui descortinar porque é que às vezes ao entrar ali parece que fico momentaneamente protegido. Bem sei que este estabelecimento específico não será o melhor exemplo, mas daqueles que vou conhecendo julgo que de uma maneira geral as pessoas detidas são tratadas como seres humanos ao invés das imagens que vejo na televisão do que se passa em estabelecimentos prisionais nos EUA. Adiante…



Entrei com o carro e observei o guarda prisional que neste dia está em pé no meio do pátio rodeado de sebes muito verdes e oliveiras pequenas plantadas há dois anos. O sol, a dar-lhe na farda azul e ele com um ar sereno e estranhamente feliz à espera que o portão feche atrás de mim. Por momentos e disse-lho quando saí do carro para o cumprimentar, fez-me lembrar a minha ex-mulher que trabalha na Av. da Liberdade, num banco. Eu trabalhei na Av. da Liberdade num jornal. Venha o diabo e escolha. Há muitos anos, na altura não tinha a consciência disso pois a sociedade consegue de facto toldar-nos o raciocínio, mas hoje ao olhar para trás compreendo-o, tinha uma vida da qual não gosto. Parecia que tinha tudo, mas o que de facto tinha era uma vida fútil e completamente padronizada. Há uns anos mudei. Teve de ser. O guarda em pé, de comando na mão, estava estranhamente feliz, ou tinha um sorriso na cara que espelhava serenidade. Falámos sobre a questão da felicidade e ele ainda me disse que ao longo dos anos foi morando cada vez mais perto de Tires e que agora até vinha a pé para o trabalho e ia almoçar a casa e tudo. Claro que ele deve ter os problemas dele mas naquele instante realizamos os dois a sorte que temos. Foi curioso.

Tanto eu como ele (o guarda) temos os dentes da frente ligeiramente afastados. Começa a ser raro, pois toda a gente quer ter os dentes unidos. É um pormenor particular. É giro. Enfim… a felicidade ou o estado de felicidade, como queiram, encontra-se nos lugares e momentos mais inesperados. Mas é bom... que se farta!

Beijinhos e essas coisas,