Há tempos recebi em minha casa um amigo.
Eu talvez seja muito exigente com a amizade mas o facto é que não tenho muitos amigos. Uma vez, no facebook, vi alguém com cinco mil e tal amigos. Credo. Deve ser difícil gerir tantos amigos.
Este amigo já lá foi a casa em outras ocasiões mas desta vez comentou que nunca viu uma tão arrumada e limpa como a minha. Nem casas de mulheres, disse, que eu sou mais limpo e arrumado do que elas (ele é técnico/canalizador do gás, portanto conhece muitas casas). Fitei-o, olhos nos olhos na tentativa de perceber alguma ironia ou sarcasmo, mas nada. Aquilo saíu-lhe do coração. Um misto de admiração e constatação.
Ele é um jovem, trabalhador e honesto na casa dos trintas e poucos. Ainda vive com os pais. O que não é não é vergonha nenhuma mas antes pelo contrário, pode ser uma opção formidável. A família ainda é em Portugal um pilar da sociedade. Se ele sabe com quem contar sempre, é com os pais. Acabam por se ajudar mutuamente. Convivem, conversam e apoiam-se. É bom.
Ainda no outro dia vi nas notícias - "Jovem de 30 anos sai do coma em que se encontrava há vários meses". Por outro lado e no mesmo noticiário - "Dois homens aparentando vinte e poucos anos assaltam ourivesaria usando extrema violência". É curioso a versatilidade da idade de um homem. Se sai do coma com 30 anos é jovem. Se tem 20 anos e assalta uma loja é homem. Vá-se lá entender. Adiante.
Sou civicamente divorciado. Tenho dois filhos que vivem com a mãe, foi o acordo a que chegámos. Sou um pai que só está com os filhos de 15 em 15 dias. Não foi fácil. Tive de me habituar. Há dias vi na televisão um ex-colega meu, e conheço-o muito bem, dizer com um grande conhecimento (acha ele) que tem montes de amigos na minha situação e que para eles é muito cómodo. Era no canal SIC Mulher e ele, que não tem filhos, disse o que disse porque basicamente é um imbecil que estava num programa de mulheres. Compreendes onde quero chegar? Tem a mania. Estúpido! Ele sabe lá o que é "perder" a mulher e os filhos tudo de uma vez num divórcio. Claro que não se perde. Mas no fundo habituamo-nos a viver com a dor de não podermos viver com os filhos. E a entrevistadora e as outras parvinhas estavam deslumbradas a olhar para ele. Sabe muito o malandro. É mais um Zézeca Marinha é o que é, pago para ir para a televisão dizer alarvidades. Adiante.
Ora porque é que eu tenho a casa arrumada? Porque sendo desarrumado, simplifico ao máximo e assim desarrumo menos. Porque quando mudo de casa dou tudo o que me é supérfulo (os discos de vinil por exemplo dei-os à Rádio Marginal. Só me ocupavam espaço e eles ficaram todos contentes). Tenho a casa arrumada e limpa porque estou sempre à espera dos meus filhos. Porque sou daqueles homens que lava a loiça a seguir às refeições em vez de deixar para o dia seguir. Porque não uso fatos nem gravatas nem camisas que precisam de ser passadas a ferro. Aliás na minha casa não há ferro de engomar. Quando penduro a roupa estico-a logo. E quando dobro a roupa dos miudos, fica em cima da cómoda e eles que a arrumem que eu não mexo nas gavetas deles. Manias.
Acho que foi isso que ele terá visto ou sentido. Nesse dia, enquanto eu lavava a loiça na cozinha ele ía adormecendo no sofá da sala. Sente-se confortável na minha casa e isso é bom. Não é o primeiro aliás, que adormece no sofá. Agora que penso nisso... vai na volta é do chá.
Beijinhos e essas coisas,
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