Há tempos fui convidado para uma reunião num ministério.
Chego antes da hora. Gosto de chegar sempre antes da hora. É bom. Dá-me tempo para concentrar e relaxar. Fico mais desperto e consciente.
Dirijo-me à contínua e pergunto se é ali que vai ter lugar a reunião. Responde-me que sim e pergunta-me o nome. Não consto na lista. Não consto como? Fui convidado, ora essa? Ela faz um telefonema e diz-me para eu esperar. As pessoas que vão chegando constam na lista. A reunião já devía ter começado há meia hora. Chega uma senhora que leva os convidados, escada acima, corredor adentro, para uma sala. Eu sigo-os. Tem uma janela com vista para a Praça do Comércio. Como seria interessante ter a praça cheia de restaurantes e esplanadas. Como em Veneza, sabes?
As mesas encostadas umas às outras formam um rectangulo. As cadeiras estão dispostas de acordo com os blocos, as canetas, as garrafas de água e os nomes dos convidados. O meu não consta. Puxo de uma cadeira e sento-me entre dois blocos. Estou curioso em saber porque o meu nome não consta na mesa. Esperamos mais cinco minutos. A pessoa que convocou a reunião aparece e pede desculpa pelo atraso. Também lá tem o nome dela. A reunião começa.
Enquanto a reunião decorre penso porque é que o meu nome não constava na lista da contínua nem nos marcadores sobre a mesa, afinal de contas eu fui convidado formalmente. Uma carta e tudo. Coisa à séria! Reparo que todos os marcadores estão identificados com Dra x e Dr y. Espera! Talvez seja por eu não ser Dr. Naaaa! Preconceito meu.
A dada altura faço sinal para intervir. Faz-se silêncio. Se calhar é por não saberem o meu nome, penso, e apresento-me. O silêncio mantém-se e eu digo o que tenho para dizer. Tem a ver com a quantidade de pasteis de nata que estão a estipular por pessoa no evento que vai decorrer dali a uns dias. Esse é, aliás, o motivo da reunião - a preparação desse evento. Ora ao dizerem que só levam dois pasteis de nata por pessoa, eu reclamo que se forem bons eu cá vou comer três. Ai mas isso é que não pode! – respondem-me. Ora essa! – respondo eu - Isso é que era bom. Se forem bons a ver se eu não como três! E pronto. A reunião ganhou animo. É giro. No final acordaram dois pasteis de nata por pessoa.
No dia do evento está um mar de gente. A primeira e segunda fila de cadeiras estão identificadas com o nome dos convidados especiais. Eu sou um deles. O meu nome não consta mas sim a marca que é minha e represento. Menos mal. Enquanto o conceituado pianista toca, as pessoas conversam. A seguir a doutora fala. O doutor fala. O ministro doutor fala e agora os convidados que fazem parte do projecto são chamados um a um para subirem ao palco e receberem uma oferta simbólica...
- Em representação da empresa x (a minha) chamo ao palco o arquiteto tal (eu).
Ora nem sou arquiteto nem o nome que disseram era o meu. Subi ao palco, dirigi-me à senhora doutora e disse-lhe ao ouvido a sorrir para que ninguém notasse – vocês não há maneira de dizerem o meu nome. Ela corou. Muito! Dirigi-me ao ministro dei-lhe um passóbem e vim-me embora não sem antes aviar três pasteis de nada.
Tive uma estranha sensação de liberdade.
Beijinhos e essas coisas
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