terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ser ou não ser terrorista


Há tempos um homem bem aparentado, loiro, de olhos azuis, alto, de boas famílias, com uma educação de excelência, com bases familiares acima da média, com instrução acima da média, inteligente, capaz de formar as próprias ideias e agir de acordo com elas, com convicções tais que tomara muitos as terem, enfim… um tipo normal. Daqueles que por um acaso da vida terá nascido na Noruega. Atente-se que nascer na Noruega tem à partida a vantagem de estar à frente do pelotão dos mais evoluídos do mundo. Ser norueguês significa ser bom, significa ser-se vizinho de um dos maiores fabricantes de armas e telemóveis e carros – a Suécia.

Ora este homem, de quem ninguém desconfiaria que pudesse fazer mal a uma mosca, foi elaborando atempadamente e ao longo dos anos um projecto de verdadeira alteração do status quo. Ele imaginou que se algo acontecesse de extraordinário à sociedade dita ocidental, iria despertar nos cidadãos europeus uma realidade que, na perspectiva dele, não quer ser observada. Deve ter sido uma ideia sedimentada pelo facto de ele ter pertencido a partidos mais radicais e ideologias ainda mais radicais. Este homem, com ou sem amigos à mistura, elaborou durante vários anos os maiores danos possíveis, no menos espaço de tempo possível e com a maior projecção mediática possível. Acho que o conseguiu depois de ter feito explodir um carro armadilhado no centro de Oslo e depois, não fosse passar despercebido, dirigiu-se calmamente para uma ilha onde estavam imensos jovens ou menos jovens e desatou a matá-los à queima-roupa, ou que não fosse, matou-os à distância de um tiro de pistola, ou revolver, ou arma de fogo.

Pelos vistos e mesmo que não queiramos assumir, ele é produto da sociedade em que vive. Ele e nós. E se defendemos tanto a liberdade de expressão, ele fê-lo sem igual. Se foi preciso coragem para enfiar com um avião ou dois por dois edifícios dentro, fazendo-os explodir e resultando na morte de milhares. Andar pelo parque fazendo tiro ao alvo a pessoas na expectativa de matar o maior número possível é de se lhe tirar o chapéu. É preciso ter coragem, convicção, determinação, uma vontade férrea e até uma fé inabalável nas convicções que nos leva a ter tal atitude. Não queremos acreditar que seja possível… mas é.


Talvez me engane mas nunca saberemos a verdade por causa dos órgãos de informação, que com a fobia de dar a informação o mais rapidamente possível, escrevem e dizem disparates um atrás dos outros. A solução é ler o mais possível, ouvir o mais possível e com sorte fazer a análise o mais correcta possível na esperança de tentar entender o porquê de semelhante atitude. Se é desprezível ou não é irrelevante. O que é de reter é que o ser humano continua a ser uma caixa de surpresas. Continua a ser ele mesmo, com defeitos e virtudes. E que no conjunto fazem dele, o ser humano, descendente de um vírus ao invés de uma célula… faz sentido, se pensarmos bem. E pelos visto parece que a comunidade científica chegou a essa conclusão – somos descendentes de um vírus. Extraordinário. Muda tudo, sem sombra  de dúvida.

Agora. O tipo lá imaginava que a outra se ia matar no mesmo dia atolada em drogas e álcool? Estúpida. Tinha uma vida óptima pela frente. Mas nós gostamos, que se há-de fazer. Somos um vírus. Deve ser isso. Quer queiramos quer não, gostávamos de ver a moça a cantarolar completamente bêbada e cheia de coca no palco. Eu vi e foi degradante, credo! Mas desse fatídico dia, e através das notícias, o que me mais me chocou foi o facto dos noruegueses terem ficado espantados pelo facto de ter sido um norueguês. Reparem que nunca lhe chamaram terrorista. E ainda hoje estou para apanhar um desses felizardos da Noruega para lhe perguntar, “Olha lá! Então e se fosse afegão, paquistanês ou até mesmo português, quem sabe, nós não somos bons em atentados mas nunca se sabe (eu por exemplo vou vendo as noticias e só me ocorre começar a partir tudo), será que já era terrorista? Ou um norueguês inteligente, bem formado e culto não pode ser um terrorista? Querem ver?

Claro que descendemos de um vírus. Faz todo o sentido. Deixa ver se ele conseguiu mudar a mentalidade dos noruegueses e dos europeus. Já estivemos mais longe… muito mais.

Beijinhos e essas coisas,