Olá,
Há tempos estava eu a fazer o meu jantar. Hamburgueres com massa. Achas banal? Havias de ver a confeção. Estava que era um mimo. Como te dizia estava eu a fazer o jantar e coloquei a comida no prato. O prato no tabuleiro. Fiz um chá, que eu gosto de beber chá às refeições. É cá uma mania minha e não me venhas com coisas. Já pensas-te a quantidade de chineses e muçulmanos e hindus que bebem chá quente às refeições. Se pensares bem são muito mais humanos que bebem bebidas quentes às refeições do que aqueles que bebem bebidas frias. Mas é bom, sem duvida. Só que chá quente é ainda melhor. É uma questão de hábito. Imagina que és um estômago e estás quentinho e confortável a receber uma bela comidinha muito saborosa e essas coisas boas. De repente e sem que nada o faça esperar, pás, um banho de água gelada. Gostas? Não pois não? Agora imagina o teu estômago. O desgraçado, ele é calor e frio e depois calor e frio e por aí fora. E às vezes ainda com gás. Eu nem sei como é que é possivel. De facto o corpo humano tem uma capacidade de aguentar maus tratos a toda a prova. Adiante.
Sento-me no sofá e sorvo a comida. Estava cheio de fome e aquilo estava mesmo bom. Como estava cheio de fome fiz dois hamburgueres com alho e essas coisas boas. Estava divinal, afianço-te. Para quem gosta claro. Bebo o chá e pronto, já jantei. Agora o chocolate. Eu como chocolate à séria. Sei que tenho um problema grave com o chocolate. Provavelmente irei ter diabetes ou outra coisa assim do género. É impossivel que não tenha nada por comer tanto chocolate. De certeza. Pode ser que não. Mas se tal não acontecer é só por uma questão de sorte. Só. No fim um cafézito daqueles das cápsulas às cores e pronto.
Levanto-me. Lavo a loiça, arrumo a cozinha e volto para a sala. A certa altura comecei a sentir-me mal disposto. Algo no estômago me estava a incomodar. Tu queres ver que foi do chá, pensei. Só me faltava mais esta. Liguei a alguém que me disse - bebe coisas com gás. Bebi uma Coca-cola com gás... fria. Não deixa de ser curioso... Mas nada! A indisposição deu lugar à dor. Fui andar. Apanhar ar e fumar um cigarrito. Talvez me faça bem, pensei. Mas não. A dor instalara-se e cada vez mais acutilante. Ora bolas. E eu aqui sózinho. Que horas são? Meia noite e meia? Talvez passe, desejei. Vou esperar mais um bocado. Às quatro da manhã levanto-me a custo, torcido de dores no estômago e resolvo meio curvado meter-me no carro e ir até à Clínica do Parque dos Poetas em Oeiras. Eles têm atendimento permanente. Vou lá. Até tenho o cartão Multicare. Siga.
No caminho julguei mesmo que me ficava ali no meio da estrada. Finalmente a Clínica. Em letras garrafais e luminosas no topo do edifício - ATENDIMENTO PERMANENTE. Estou safo, e a esta hora não está lá ninguém. Fixe, pensei. Estaciono o carro e reparo que o meu carro é o unico. Que sorte do caraças pensei. Isto vai ser formidavel. Saiu do carro e dirijo-me a cambalear para a porta da clínica. Aquilo tem portas automáticas de correr para os lados que eu sei pois já lá tinha ido em tempos à tarde por outros motivos. Por pouco não enfio com a cabeça no vidro. As portas não abrem. Ao lado das portas de vidro que abrem, nos vidros fixos, num dos lados, uma folha de papel A5 tem escrito - ATENDIMENTO PERMANENTE DAS 09H00 À MEIA NOITE.
Há tempos estava eu a fazer o meu jantar. Hamburgueres com massa. Achas banal? Havias de ver a confeção. Estava que era um mimo. Como te dizia estava eu a fazer o jantar e coloquei a comida no prato. O prato no tabuleiro. Fiz um chá, que eu gosto de beber chá às refeições. É cá uma mania minha e não me venhas com coisas. Já pensas-te a quantidade de chineses e muçulmanos e hindus que bebem chá quente às refeições. Se pensares bem são muito mais humanos que bebem bebidas quentes às refeições do que aqueles que bebem bebidas frias. Mas é bom, sem duvida. Só que chá quente é ainda melhor. É uma questão de hábito. Imagina que és um estômago e estás quentinho e confortável a receber uma bela comidinha muito saborosa e essas coisas boas. De repente e sem que nada o faça esperar, pás, um banho de água gelada. Gostas? Não pois não? Agora imagina o teu estômago. O desgraçado, ele é calor e frio e depois calor e frio e por aí fora. E às vezes ainda com gás. Eu nem sei como é que é possivel. De facto o corpo humano tem uma capacidade de aguentar maus tratos a toda a prova. Adiante.
Sento-me no sofá e sorvo a comida. Estava cheio de fome e aquilo estava mesmo bom. Como estava cheio de fome fiz dois hamburgueres com alho e essas coisas boas. Estava divinal, afianço-te. Para quem gosta claro. Bebo o chá e pronto, já jantei. Agora o chocolate. Eu como chocolate à séria. Sei que tenho um problema grave com o chocolate. Provavelmente irei ter diabetes ou outra coisa assim do género. É impossivel que não tenha nada por comer tanto chocolate. De certeza. Pode ser que não. Mas se tal não acontecer é só por uma questão de sorte. Só. No fim um cafézito daqueles das cápsulas às cores e pronto.
Levanto-me. Lavo a loiça, arrumo a cozinha e volto para a sala. A certa altura comecei a sentir-me mal disposto. Algo no estômago me estava a incomodar. Tu queres ver que foi do chá, pensei. Só me faltava mais esta. Liguei a alguém que me disse - bebe coisas com gás. Bebi uma Coca-cola com gás... fria. Não deixa de ser curioso... Mas nada! A indisposição deu lugar à dor. Fui andar. Apanhar ar e fumar um cigarrito. Talvez me faça bem, pensei. Mas não. A dor instalara-se e cada vez mais acutilante. Ora bolas. E eu aqui sózinho. Que horas são? Meia noite e meia? Talvez passe, desejei. Vou esperar mais um bocado. Às quatro da manhã levanto-me a custo, torcido de dores no estômago e resolvo meio curvado meter-me no carro e ir até à Clínica do Parque dos Poetas em Oeiras. Eles têm atendimento permanente. Vou lá. Até tenho o cartão Multicare. Siga.
No caminho julguei mesmo que me ficava ali no meio da estrada. Finalmente a Clínica. Em letras garrafais e luminosas no topo do edifício - ATENDIMENTO PERMANENTE. Estou safo, e a esta hora não está lá ninguém. Fixe, pensei. Estaciono o carro e reparo que o meu carro é o unico. Que sorte do caraças pensei. Isto vai ser formidavel. Saiu do carro e dirijo-me a cambalear para a porta da clínica. Aquilo tem portas automáticas de correr para os lados que eu sei pois já lá tinha ido em tempos à tarde por outros motivos. Por pouco não enfio com a cabeça no vidro. As portas não abrem. Ao lado das portas de vidro que abrem, nos vidros fixos, num dos lados, uma folha de papel A5 tem escrito - ATENDIMENTO PERMANENTE DAS 09H00 À MEIA NOITE.
Procurei uma farmácia de serviço. Expliquei o que tinha. Dores de barriga. Comprei o que me recomendaram e voltei para casa. Tomei aquilo dissolvido em água e agora é que vou mesmo morrer. Que ingratidão. Aquilo ainda me fez ficar pior. Liguei para o 112. Pela primeira vez na vida. Não acharam que fosse motivo para me levarem ao hospital. Deram-me o número dos bombeiros de Oeiras. Eram seis e trinta da manhã. Pensei, se ainda não morri é porque também não vou morrer. Respirei fundo. Deitei-me novamente.
Se me vêm buscar a esta hora estou tramado no hospital. Nunca mais de lá saiu e ainda me vão convencer a tomar a vacina da gripe A. A mim é que não me dão aquela porcaria. Como é que se chama aquele tipo da Saúde de barbas? Feio como as portas, Deus me perdoe. Veio para a televisão dizer o ano passado que íam morrer milhares de pessoas... em Portugal. E depois foi para a televisão mostrar que tomou a vacina. Mais um que ía directo para a gaiola era o que era. Estúpido. E até houve uma notícia bombástica que eu bem me lembro e qua abriu o telejornal das 20h00 a anunciar a morte de uma senhora com 84 anos possivelmente por causa da gripe A.
Adormeci com dores muito quietinho na posição fetal. Quando acordei pelas onze da manhã doía-me a barriga mas já nada do que tinha tido à noite. Foi horrivel. Talvez uma paragem de digestão. Sei lá. É o mais certo. Tensão acumulada juntamente com a velocidade com que comi o jantar ainda por cima sentado no sofá todo curvado para a frente. Nem o chá quente me safou. Nem a Coca-cola gelada com gás.
Tenho de falar com os meus filhos. Como são novos talvez eles me expliquem o que quer dizer atendimento permanente, que eu estou velho. Já tenho 44 anos e para mim atendimento permanente só quer dizer uma coisa - permanente. Talvez tenha havido alguma alteração no acordo ortográfico e eu não sei.
Se me vêm buscar a esta hora estou tramado no hospital. Nunca mais de lá saiu e ainda me vão convencer a tomar a vacina da gripe A. A mim é que não me dão aquela porcaria. Como é que se chama aquele tipo da Saúde de barbas? Feio como as portas, Deus me perdoe. Veio para a televisão dizer o ano passado que íam morrer milhares de pessoas... em Portugal. E depois foi para a televisão mostrar que tomou a vacina. Mais um que ía directo para a gaiola era o que era. Estúpido. E até houve uma notícia bombástica que eu bem me lembro e qua abriu o telejornal das 20h00 a anunciar a morte de uma senhora com 84 anos possivelmente por causa da gripe A.
Adormeci com dores muito quietinho na posição fetal. Quando acordei pelas onze da manhã doía-me a barriga mas já nada do que tinha tido à noite. Foi horrivel. Talvez uma paragem de digestão. Sei lá. É o mais certo. Tensão acumulada juntamente com a velocidade com que comi o jantar ainda por cima sentado no sofá todo curvado para a frente. Nem o chá quente me safou. Nem a Coca-cola gelada com gás.
Tenho de falar com os meus filhos. Como são novos talvez eles me expliquem o que quer dizer atendimento permanente, que eu estou velho. Já tenho 44 anos e para mim atendimento permanente só quer dizer uma coisa - permanente. Talvez tenha havido alguma alteração no acordo ortográfico e eu não sei.
Beijinhos e essas coisas,
o normal anormal
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