segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O ovinho


Há tempos a minha filha passa por mim na cozinha e sussurrou, talvez porque não quis que o irmão soubesse, “pai. Tenho as cuecas sujas, olha!”. Eu olhei, e nesse instante a minha vida ficou diferente… outra vez. Normalmente não damos por “elas” acontecerem, mas há coisas na vida que têm uma importância tal que são o que nos indica que a espécie humana vai continuar. Independentemente do que quer que seja, nós humanos viemos para ficar.

A Maria já é uma mulher. Eu deveria celebrar o acontecimento com uma brutal de uma festarola, cheia de amigos. Havia de ser! Afinal de contas nós celebramos a morte e a ressurreição de um homem (Jesus, para os menos atentos) que julgamos ter existido, pelo menos queremos acreditar que sim, para bem da nossa sanidade mental. Mas a Maria já é uma mulher. Bolas! Vi-a pequenina, do tamanho de um melão, igualzinha à mãe. Aquilo parecia uma fotocópia. É curiosa a natureza e a forma como ela evolui. Comigo está tudo a correr em conformidade com o pré-estabelecido. As leis do universo são simples e nós na ansia de as entendermos esquecemo-nos de quão simples elas são.


Em 1998 a Maria nasceu, e no tempo que decorre uma explosão na superfície do sol, fiquei mais perto de ser avô. No entretanto vai-se vivendo a vida na Terra o melhor possível. E, contrariamente ao que seria de esperar é tão fácil passar do melhor possível para o extraordinário. É tão fácil viver a vida de uma maneira harmoniosa de acordo com o que de facto deveria ser a verdade e só não é porque nós humanos somos assim. Aliás a verdade, nos dias que correm é à partida a mentira aceite pela maioria. Talvez seja uma visão fatalista mas não vamos por aí porque não é. A verdade pode ser o que eu quiser, ou o que nós quisermos. A verdade não está escarrapachada para que nós a possamos ver. Não! A verdade está dissimulada algures no conjunto de verdades e mentiras que nos rodeiam. A suspeição tem sido arma de arremesso. Vivemos tempos extraordinários em que tudo é verdade e tudo é mentira. Cabe-nos a nós como seres humanos e pessoas conscientes lermos os sinais do que estamos a presenciar. Não é fácil ao princípio mas depois de se experimentar e começar a praticar um estado mental livre das amarras e âncoras sociais a que estamos submetidos, começamos a ver coisas que pessoalmente me andam a espantar tal é a simplicidade da vida. Estou feliz por estar vivo e a vida me fazer sentido.

No entretanto, tenho outro filho, o Manuel. Tem dez anos e é um rapaz. Um ser que está a começar lentamente a adquirir a capacidade de produzir doses maciças de testosterona. Gosta de futebol, faz uns truques com o skate, já tem um telemóvel e inscreveu-se no facebook, não obstante saber que está a mentir. Não obstante eu ter-lhe dito que se o fizesse iria entrar num universo paralelo que é mentira, simplesmente porque para entrar teve de mentir. Expliquei-lhe que abrir a porta à intimidade partindo de uma pressuposto que é mentira pode ser arriscado. Pode acarretar consequências graves. Que é preciso estar atento e acordado. A Maria não me tem preocupado, já o Manuel parece que não se importa mesmo. O Manuel come devagar. Tão devagar que é sempre o ultimo, e não se importa. Ele é assim. E eu gosto dele assim. Desatento às coisas, mas muito atento a algumas. E são essas que lhe chamam a atenção que eu adoro entender. Ele está a crescer e é extraordinário vê-lo evoluir. Começou agora pelos pés. Credo, estão a ficar enormes.

Já estive mais longe de ser avô. A minha filha já é uma mulher. A humanidade está de parabéns. Conseguimos. Parabéns… Estou quase a chorar. Estou mesmo! Está feito!

Beijinhos,

3 comentários:

  1. É Maravilhoso!! Tens a benção de ter dois filhos e da tua vida de certa forma ter uma continuidade, isso é Bom!!
    Felicidades para eles e para ti também.
    O Texto óptimo, como sempre!

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  2. Óh Zé Miguel... és um PAIZÃO!!! é só o que consigo dizer neste momento...
    Beijo e Muitas felicidades para ti e teus filhotes.
    Filó

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  3. É fantástico e enternecedor perceber que estás a atento a estes pormenores!
    O mundo lá fora insiste em nos acelerar e nos roubar a atenção e energia, mas tu consegues viver ao teu ritmo e perceber estas coisas, que no final são apenas a vida!
    A sorte que os teus filhos têm e vão ter por estes momentos ficarem registados em memórias que não se perdem facilmente!

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