segunda-feira, 16 de maio de 2011

Meditar ou ir à praia


Há tempos fui à praia. Gosto de ir à praia. Aliás, sempre fui à praia. Eu e a praia somos assim uma espécie de namorados. Temos uma relação sazonal. Julgo que a coisa que mais falta me faz quando não estou em Portugal é a praia. Poderia até contar a história da minha vida só baseada nos momentos vividos na praia. E assim sendo seriam só bons momentos. De facto a praia e a relação que tenho com ela só me faz lembrar bons momentos. Há excepção da vez em que fui mordido por um peixe-aranha e que me deu para perceber o quanto consigo aguentar dor, a praia tem sido uma constante na minha vida. Temos imensa costa e consequentemente muitas praias, o que não é uma verdade universal pois há muitos países com imensa costa que não têm praias.

Lisboa tem muito encanto de facto. Fala-se e até se canta Lisboa de imensas maneiras mas nunca se comenta o facto de ter praias. Bem vistas as coisas é a única capital dos estados que integram a comunidade europeia, seja lá o que isso signifique, que tem praias à discrição. Vinte quilómetros logo do outro lado do rio com condições incríveis. Felizmente já lá vai o tempo em que ir para a Costa era uma aventura e não havia qualquer ordenamento. Agora é diferente. Ainda bem. E os lisboetas vão muito para a praia. A ponte encarnada que o diga. E agora, dadas as especiais circunstâncias e contrariamente ao que alguns apregoam há cada vez mais pessoas nas praias em dias de semana. É curioso. Com tanta crise deveriam era estar em casa a tomar antidepressivos ou à procura de trabalho, mas não, vão para a praia. Ora isto para quem está de fora é no mínimo curioso. E compreende-se, senão vejamos,

A banca rouba, a política está que mete nojo, o desemprego sobe em flecha, diz-se, porque talvez seja verdade que Portugal está na bancarrota e que só lá vamos com dinheiro emprestado. Aparte do que eu penso em relação à situação actual, e tenho uma opinião muito bem formada, o facto é que se um finlandês vier neste momento a Portugal e o levarmos às praias da Costa da Caparica, por exemplo, ele provavelmente vai ficar surpreendido. Mas não é só quando chegar à praia, é logo mal saia do aeroporto, quando observar o parque automóvel, as obras que estão a ser feitas, o sol, a luminosidade. Enfim, ele não vai compreender. Aliás, nem sabemos se alguém de facto compreende. Democracia capitalista é um conceito bizarro em que o resultado nunca pode ser igualdade.


Para se compreender a nossa maneira de estar é preciso ter praias. Muitas praias com sol, areia dourada e um mar que, de norte a sul, contém em si todas as variações do azul. Às vezes a água é fria, mas suporta-se. Há pior. E depois há a linha do horizonte, que está lá, sem se mexer, que por oposição nos define como seres inteligentes que deixaram de andar de gatas para se porem de pé, na vertical. Os chineses têm lá a filosofia deles, os hindus também, os muçulmanos também, e nós temos a nossa. Nós meditamos, os portugueses sabem meditar. Só não lhe chamam é nada. Vão para a praia e pronto. Sabem o que é não fazer nada, que por si só pode ser dificílimo de conseguir pois só nos ensinam e dizem que temos de fazer alguma coisa. Valha-me Deus, há imensos homens e mulheres espirituais que são pagos para não fazerem nada. Ora, ir para a praia significa ir gozar a vida, ter prazer, reflectir, contemplar a vida e esperar. O mundo não pára de girar.

Os finlandeses lá tiveram os seus quinze minutos de fama com esta tentativa vã de não quererem que nos emprestassem dinheiro. Por um lado até nos faziam um favor, por outro, coitados, eles têm é inveja. Vem aí o verão, e com ele mais uma vez tempo para contemplação, reflexão e meditação. Os nossos dirigentes sabem-no bem e jogam as cartadas políticas em função disso. Minimiza-se o poder da praia na vida nacional e é pena. Na praia não há televisão, rádio, informação, publicidade, marketing e a vinte quilómetros de Lisboa consegue-se isso – o paraíso. Têm imenso que aprender connosco, os finlandeses, imenso… coitados.

Beijinhos e essas coisas,

2 comentários:

  1. Grande Zé!
    Eu comentava este teu fantástico post, mas neste momento ainda estou a meditar sobre o que escrever!

    Zé no seu melhor!

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  2. Pois é Zé e com esta peça ficou a apetecer-me meditar e ir para a praia. Para aquela praia imensa, dourada como tu a descreves ...
    Bute à praia!!

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