segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Festival



Há tempos trabalhei numa empresa que gere direitos de autor sobre músicas. Escuso-me de dizer o nome. Mas o facto é que nesse período conheci um pouco mais de perto os meandros do espectáculo e do que ele envolve e representa. Muita coisa se pode escrever sobre o assunto mas vou-me ficar pelo Festival da Canção. Essa coisa estranha que acontece todos os anos e que envolve os países da europa que curiosamente ou não são cada vez mais. Aquilo nunca mais acaba… e depois as votações. Aquelas carinhas larocas a darem recaditos uns aos outros. Credo!


Nessa altura o meu patrão resolveu concorrer ao Festival da Canção. Foi uma experiência interessante poder acompanhar o desenrolar de um projecto desde raiz. Lembro que a música começou por ser trauteada à mesa do almoço. Depois passou para o maestro que a traduziu para notas musicais. Depois arranjou-se os músicos e um grupo, três raparigas e três rapazes, um deles, o Ricardo Carriço que ainda hoje falamos se nos encontrarmos. É giro. Entretanto a Rosa Lobato escreveu a letra que como ela bem o sabia fazer era sobre frutas e vegetais. Adiante. Alguém lhes confeccionou as roupas e alguém lhes arranjou uma coreografia. Enfim. Perdemos para uma rapariga pequenita e toda frenética que desde essa altura canta pelo mundo fora, fado, claro.


As votações eram dadas por um grupo restrito de pessoas supostamente entendedoras dos meandros dos Festivais da Canção. Sempre fiquei com a sensação que independentemente da outra ter ganho, havia um lobbie que a ajudou a ganhar. Sempre foi assim. Aliás o Festival da Canção é daqueles festivais que não compreendo o porquê da sua existência tal é a falta de qualidade. Mas o facto é que tem catapultado para as luzes da ribalta imensa gente. Deve ser assim uma espécie de teste. Se o passarem, safam-se. E têm-se safado. Por trás de cada concorrente há sempre uma história. Nós cá conhecemos as histórias dos nossos concorrentes mas se soubéssemos a história que está por trás da miúda que concorre pela Alemanha veríamos que há coisas extraordinárias. E boas mesmo. Eu sei pois estava na Alemanha o ano passado por esta altura e acompanhei de perto a sua história. Ela pelos vistos é tão boa que este ano concorre outra vez. Vamos lá ver.



Entretanto os “Homens da Luta” que estavam em penúltimo lugar creio, ganham o primeiro lugar quando os votos são dados pelas pessoas que telefonaram. Isto foi algo extraordinário. É que se pensarmos bem… a sério, se pensarmos bem é inédito. O Festival da Canção é uma espécie de instituição gerida por um grupo de pessoas que nunca na vida iriam eleger aquela banda. Eu faço ideia. Como devem andar. E entretanto “Os homens da luta” lá estão, a falar de Portugal como nunca ninguém que representasse Portugal o fez antes. É bestial. E isto tudo dá-me ideia, representa bem o processo pelo qual estamos a passar. Existe de facto uma nova ferramenta de escrutínio que anda a deixar os "poderes instituídos" atazanados. As comunicações e a internet vieram alterar o status quo de tudo o que temos por garantido. Até a banca. Em Portugal e julgo que na maioria dos países europeus se passa o mesmo, a internet, essa ferramenta extremamente dúbia, vai mostrando lentamente os podres da nossa sociedade. Nada que não se imaginasse mas assim é mais giro.


Se me perguntarem o que eu acho dos “Homens da Luta” eu direi sempre que são como oxigénio para um mar de dióxido de carbono que por aqui anda. Não sei se os alemães vão pensar que são uma espécie de Village People ou um bando de malucos. Não sei mesmo imaginar o que possa passar na cabeça dos júris dos outros países que, não entendendo a língua portuguesa, se limitam a trautear a música e a observar aquele conjunto de pessoas que se apresentam daquela maneira e com aquele discurso e atitude. A sério, imaginem por momentos que são finlandeses. O que pensariam? Ontem começou um programa novo na televisão portuguesa - “Perdidos na Tribo” e a seguir o FMI a e a seguir tróica ou o que isso signifique e a seguir os comentadores de futebol e depois os comentadores políticos e depois os políticos... 


É a loucura dentro da própria loucura como costuma referir um grande amigo meu.

Beijinhos e essas coisas,

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