terça-feira, 21 de setembro de 2010

O colarinho branco


Há tempos e por ocasião do lançamento de um livro intitulado “Para Além da Prisão” promovido pelo ministério da Justiça, através da Direcção Geral dos Serviços Prisionais, fui convidado com pompa e circunstância, com lugar marcado à frente e tudo. Eu não estou habituado a estas mordomias. Fiquei contente. Pelos vistos o meu projecto estaría a dar nas vistas na medida em que sou umas das 14 instituições da sociedade civil que trabalha em parcería com o sistema prisional.

Nessa ocasião estavam presentes várias individualidades entre elas o ministro da justiça, a directora geral dos serviços prisionais e um Senhor chamado Laborinho Lúcio. Refiro o nome desse senhor pois a dada altura e discursando para a plateia ele prevê entre outras coisas algo que me alertou para o que ele diz ser o futuro da justiça e do sistema judicial, e que na sua perspectiva os serviços prisionais teriam de se preparar para um novo tipo de “clientes” – os do “colarinho branco”.

Temos que dar nomes às coisas, claro, e neste sentido “colarinho branco” significa que são pessoas que ao serem presas terão que ter um tratamento diferenciado dentro das prisões. Isto é interessante por inumeras razões inclusivé a de que o sistema prisional diferencia à partida dois tipos de “clientes”, os "normais" e os do "colarinho branco".

O que o Senhor Laborinho Lúcio não previu no discurso que proferiu cheio de recados para todos os que o estavam a ouvir é que estava a falar sózinho ou para o ar, como preferirem. Pelos vistos as pessoas “colarinho branco” são muito renitentes a cumprirem as regras do jogo.

Senão, e não é preciso fazer um exercício por aí além complexo, ter “colarinho branco” significa ter capacidade financeira suficiente para protelar indefinidamente uma desisão de um tribunal que se fosse com outra pessoa dita “normal” era logo posta a cumprir a sentença que lhe foi aplicada. Isto não é justiça. É injustiça. Parágrafo!

Lembro-me de ouvir comentários do género “ele tem a mania” ou “quer ficar bem na foto” ou “só fala assim porque está ali o ministro”. Enfim, entre o que ele disse e os comentários que foram feitos a seguir fica algo que é um vazio enorme e que me faz pensar que o problema, a ser um problema, não está nas pessoas de “colarinho branco” mas no sistema como um todo. Afinal de contas parece existirem dois tipos de cidadãos. Os que têm e os que não têm “colarinho branco”. E isto é de tal modo verdade que nas mais altas instâncias dos que governam este país é facto consumado que terão de haver condições diferenciadas para pessoas diferentes... Impressionante.

Pelos vistos e aos olhos do Senhor Laborinho Lucio, do ministro da justiça, da directora dos serviços prisionais, dos directores das prisões, dos guardas prisionias, dos que estão presos e da grande maioria de nós há de facto dois pesos e duas medidas. Se assim não fosse e sendo a justiça cega, ao haver uma pronuncia de um tribunal ela tería de ser cumprida, imediatamente. E de facto é-o... para quem não tem “colarinho branco”, óbvio.

Beijinhos e essas coisas,

1 comentário:

  1. Eu acho que deviam existir três tipos de prisões, as normais para o delinquente/criminoso banal, as que tu referes para os tipos do colarinho branco, e uma terceira para aqueles que usam meias brancas com sapatos pretos.

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