terça-feira, 7 de setembro de 2010

A mochila


Há tempos fui com a minha filha comprar uma mochila para ela levar os livros para a escola. É de uma marca estrangeira de mochilas daquelas vulgares de trazer às costas. É leve, de facto. A minha filha que é uma pessoa discreta quis a mochila num tom acinzentado se não me falha a memória. Entrámos na loja, ela escolheu-a e eu fiz o meu papel. Saquei do cartão mágico. Sim! Aquele cartão que serve para pagar sem dinheiro. Imaginem se de repente a banca ganhasse um virus qualquer generalizado e tudo deixasse de funcionar. Era o Carmo e a Trindade. Adiante.

A mochila custou quarenta a tal euros. Sim. Eu repito, quarenta e tal euros. Acham que gostei de dar tal quantia por uma mochila à primeira vista igualzinha à da loja do lado que custava só dez euros? Claro que me custou. Pessoalmente acho uma indecência. Mas, e pasme-se! A diferença é tão somente que esta mochila em concreto vem com uma garantia de trinta anos. A sério. Trinta anos. É pá! Trinta anos de garantia para uma mochila “escolar” é muita fruta. Vai servir para os netos, pensei.

Por outro lado e depois de verificar as particularidades da dita mochila, observei que as costuras são realmente fortes. Que os fechos de correr têm aparentemente uma certa robustez. Que as alças têm ar que aguentar uns bons quilos. E que o tecido com que a mochila é feito não obstante ser parecidissimo com o tecido das outras mochilas, tem de ser diferente. Tem de ser! Por quarenta e tal euros, tem de haver diferenças. Mesmo que eu, leigo na matéria no que diz respeito aos materiais usados na confeção de mochilas, não perceba nada do assunto, presumo que tem de haver diferenças. Custa-me aceitar que é só uma questão de moda e de marca. Não tenho a minha filha nessa linha de atitude social. Mas se for o caso compreendo-a lindamente.

Ela explicou-me que para a quantidade de livros que tem de levar todos os dias para a escola esta é a melhor mochila. E por falar em livros, hei-de perguntar à mãe da minha filha quanto custa o somatória de todos os livros escolares que ela precisa para este ano lectivo que vai começar. Eu que nasci no milénio passado, tinha um livro e duas sebentas. Depois com a revolução de 74 passei a ter muitos livros e cadernos (tinha dez anos à altura). E depois com o passar dos anos e com o amadurecimento da “democracia” passei a mudar de livros todos os anos. E a situação mantém-se até aos dias de hoje. Os livros que a minha filha usa não vão servir para o meu outro filho que é mais novo três anos.

Eu sei (toda a gente sabe) que é um “lobbie” violentissimo das editoras que vegetam à volta do ministério da educação e que no final até parece que as coisas são assim porque têm de ser assim. Mas não. A educação social é um negócios que gera milhões. Eu sei (toda a gente sabe). E também (toda a gente sabe) sei que o poder argumentativo e pesuasivo desses “lobbies” é tão violento, horrivel e pernicioso que vivemos neste estado de coisas aceitando-as como certas. Nem falarei do “Magalhães” que até me mete nojo. Adiante.

Há dias e sem que nada o fizesse prever o meu filho também quis uma mochila daquelas. Foi a mãe dele! De certezinha! Deve-lhe ter dito “Pede ao teu pai!”, claro! E pronto. As aulas vão começar e os meus dois filhos vão ser devidamente educados com mochilas de marca, livros cheios de gralhas com programas alterados, com greves de professores, e essas coisas próprias de um sistema democrático tão pernicioso quanto o é o “Caso Casa Pia”. Nem sei o que diga ou escreva. Faltam-me as palavras. Talvez tenha sido uma revolução pacífica de mais, não sei. Às vezes penso nisso.

Beijinhos e essas coisas,

4 comentários:

  1. Da mesma marca da mochila foi lançado agora um sofá, também tem fechos e essas coisas, imagine-se o preço... :)

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  2. Quando se refere a educação social não quererá dizer educação escolar?????

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  3. Olá fcorreia,

    Escrevi educação social conscientemente. Ao contrário do que preconizava Sócrates a escola é hoje mais do que nunca um instrumento de manipulação de modo a preparar as pessoas o mais possível no sentido de se tornarem "carneiros". O meu papel como pai e amigo é o de mostrar aos meus filhos isso mesmo. Que antes do cidadão está o individuo. E que eles são seres únicos e que têm de pensar pela cabeça deles. Os programas escolares vão mudando quase todos os anos mas as pessoas serão sempre pessoas.

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  4. Eu estou contigo!
    E até digo mais, os livros deviam dar para os avós, que por sua vez os transmitiam aos pais, e por sua vez aos filhos, e por diante.
    Era uma poupança de papel. Imagino o prazer que daria a alguém estudar com o mesmo livro que o avô utilizou.
    Já a mochila essa deveria ser renovada com a mesma periodicidade com que renovamos os moveis da cozinha lá em casa...
    É vergonhoso o que fazem com as famílias portuguesas apenas para alimentar a industria livreira e os seus lobbies, em alguns paises os livros são das escolas e são cedidos aos alunos para eles utilizarem no periodo escolar, se os danificarem ai sim terão de ser pagos, mas cá isso ficaria muito caro, é preferível investir em Magalhães e submarinos, que num sistema de livros cedidos ao aluno.
    O que eu percebo, ninguém resiste ao cheiro de um livro e mochila acabados de estrear.
    Enfim

    Há braços do tamanho do mundo!

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