Há tempos a minha mãe que
tem 70 anos e não obstante ser professora de Tai Chi Chuan, praticar ioga e até
dançar tango, pasme-se, deu uma topada na canela, mesmo por cima do osso onde a
pele é fininha, e ao chegar a minha casa mostrou-me com alguma preocupação a
ferida já com três dias. De facto aquilo estava com um aspeto pouco normal, e
sendo eu leigo na matéria e depois das tentativas goradas que ela levou a cabo para tratar com própolis e outros desinfetantes naturais o facto é que a ferida era grande
e estava nitidamente infetada, demonstrando a violência da cacetada. Mas ela não se queixa, antes pelo contrário, que a minha mãe sendo pequena e leve é também uma
espécie de formiguinha que nunca está quieta. Depois da minha humilde análise
achei que seria melhor irmos à Clinica do Parque dos Poetas, que aquilo
pertence ao BES e de certeza que tratam dela. “Não se esqueça do cartão
Multicare!”, lembrei antes de irmos.
À saída e já cá fora a minha
mãe comentou “Achas possível que a senhora que está no balcão possa ser a
técnica de limpeza? Aquilo não são maneiras de atender uma pessoa.” Mal a
mulher começou a fazer perguntas eu vim para a rua pensar numa alternativa. O
“sistema” está tão obsoleto e organizado de tal modo que as pessoas são números,
garantias bancárias ou de investimento. A minha mãe foi confrontada com uma
espécie de muro de Berlim que divide a sociedade em dois, e conforme a perspetiva,
cada um enquadra-se conforme tem mais ou menos capacidade ou falta dela para
agir de acordo com as normas estabelecidas. Já não é uma mera questão de ter ou não ter dinheiro, mas antes uma questão de bom senso. Quando me ponho a analisar
receio ser masoquista a julgar pelos recentes comentários do Exmo Sr.
Presidente da República Portuguesa. Adiante…
Fomos então ao centro de
enfermagem de Oeiras onde trabalha o enfermeiro Castro, que já tinha tratado o
meu filho por ocasião de um dedo entalado na perna de recolher da cama de
dormir. Um acontecimento que nenhum pai gosta de ver. Nessa altura e já em
desespero foi o empregado da Farmácia que me indicou o dito enfermeiro Castro -
um verdadeiro milagre, depois de me informarem no Centro de Saúde de Paço de
Arcos que por motivos de morada não podem tratar de uma unha caída num dedo violentamente entalado de um miúdo de
11 anos. Mas pelos vistos há esperança, pessoas anónimas como o Sr. Castro mantêm uma estrutura
paralela a funcionar que é uma luz de esperança contra o que parece ser uma epidemia de loucura transversal à sociedade. São organismos quase clandestinos e imunes a esquemas partidários ou de
mercado e são uma resposta inteligente, prática e razoável às solicitações das
pessoas comuns no seu dia-a-dia.
Por outro lado e num plano
mais prático podiam trocar o Centro de Enfermagem pela Clinica do Parque dos
Poetas. O enfermeiro Castro pela outra senhora e ficavam todos a ganhar, até o
BES. Os que representam e defendem os mercados são perigosamente estúpidos e
obtusos, não querendo dizer com isto que tenham falta de inteligência, antes
pelo contrário que até inventaram uma ferramenta que lhes garante essa
liberdade de movimentos – um elevadíssimo QI, seja lá o que isso possa
significar. No caso do Exmo. Sr. Presidente da República, por exemplo e que até já foi professor e
representa e muito bem o pensamento académico vigente, de seres humanos
formatados para verem a vida contada em números, é óbvio que os analistas
portugueses são masoquistas. Nada é eterno e estamos a presenciar uma revolução
mundial. Vamos ver, vai ser extraordinário! De certezinha que o que resultar de
tudo o que estamos a viver vai ser melhor do que o é agora. É sempre assim…
Sempre!
Mesmo que a Exma esposa do
Exmo Sr. Presidente da República ache que o vestido da Joana Vasconcelos seja
muito interessante, eu também acho que eles os três são desprovidos que
qualquer tipo de inteligência que não seja de facto o QI. Só pode!
Beijinhos