terça-feira, 24 de setembro de 2013

Meio vazio ou meio cheio


Há tempos li algures que a verdade é aquilo que o maior número de pessoas acredita. De repente algumas coisas que vou guardando na memória pareceram arrumar-se e algumas começaram a fazer algum sentido. Veja-se este exemplo prático, redes sociais, algo extraordinário que nos permite partilhar o que quer que seja, que nos permite ver e ouvir e ler o que quer que seja, como por exemplo o caso do Carlos Cruz, o pedófilo. Garanto-vos que é pedófilo pois foi o que a Justiça afirmou ao condená-lo publicamente enviando-o (pelo próprio pé, não deixa de ser curioso) para o Estabelecimento Prisional de Caxias. Vejamos, o Carlos Cruz é sobejamente conhecido da população portuguesa e no entanto foram necessários anos, foram necessárias folhas e folhas e mais folhas de papéis que diziam imensas coisas. Foram necessárias pessoas, recursos humanos, tempo, dinheiro, mais tempo até que a Justiça chegasse à conclusão de que o homem é de facto culpado. O homem mais conhecido da televisão portuguesa. Durante anos e ao que a Justiça apurou esteve envolvido numa rede que usava crianças da Casa Pia para orgias sexuais.

Neste espaço temporal em que o Carlos é apanhado, após décadas de impunidade e finalmente, porque uma jornalista assim o quis, até parece que o problema da pedofilia em Portugal deixou de existir. Mas afinal e pela experiência por que passei, não! Afinal a pedofilia existe e está de boa saúde e recomenda-se. E como é que eu sei isto? Simples. Estava a trabalhar e tenho sempre as redes sociais que me apetece abertas, e dou de caras com uma informação que pede urgentemente que eu partilhe algo sinistro - uma entidade que se identifica como sendo um tipo que pela foto diz que gosta de meninas e meninos muito novinhos. Aparece a foto dele e depois no seu histórico muitas fotos de crianças com comentários do género, “esta é mesmo boa” e outros que tais. Ora, eu que sou pai até neste momento que estou a escrever isto me apercebo do tamanho da raiva que se apodera de mim. É horrível! E no entanto… aquilo foi uma espécie de mensagem virulenta. De repente um inúmero grupo de pessoas começou a pedir que se fizesse alguma coisa. De repente começaram a aparecer pessoas que diziam que já tinham reportado à polícia. De repente todas as pessoas começaram a dizer que aquele fulano tinha de ser imediatamente parado e que por favor partilhem com urgência. Não me admiraria que aparecesse nas notícias e tivesse um final feliz.

Agora o final feliz é, e a não ser que eu esteja mesmo a ficar doido, e a minha mãe também, que coitada me vai escutando e não obstante diz-me que não, que eu não estou doido, também talvez ela esteja doida e portanto um doido não pode dizer a outro doido que não está doido… e vice-versa… ou, se calhar… como é que um tipo sozinho sabe que está doido? Têm de haver duas pessoas certo? A sério, imaginemos duas pessoas e uma diz para a outra “És maluco”, nós estando de fora pensamos o quê? Eu penso logo que alguma coisa ali não está bem, mas de facto há pessoas que pensam outras coisas. Extraordinárias!
Neste caso a rede social funcionou na perfeição e pelos vistos as pessoas estão a aderir no sentido de tentar apanhar o culpado da divulgação das fotos, que pela vontade que observei, se o apanham é bem provável que tenham de o defender da populaça. A não ser que, e foi o que eu sugeri, aquilo talvez não fosse realidade, que se calhar a entidade não era o tipo que aparece identificado na foto, se calhar é a foto de alguém que fez mal à namorada e agora está a sofrer as consequências de uma mulher despeitada que perdendo a noção da própria vida, tira um curso de informática nas Novas Oportunidades, promovido pelo Sócrates, e consegue manipular com os poucos conhecimentos que tem, a rede social de tal modo que colando fotos daqui e dali, com comentários obscenos, está a preparar a caminha ao desgraçado que nem sonha o que lhe vai acontecer. Eu acredito mais nesta história, mas claro, a maioria optou por acreditar sem qualquer sombra de dúvida que aquela entidade, aquela foto de um tipo é que deve ser cruxificado imediatamente. Eu entretanto, baniram-me. Apagaram-me. Talvez tivessem pensado que eu estava a defender a entidade, sei lá. Vim sozinho para casa, não faz mal, começo a estar habituado. Mas o curioso é que no caso do Carlos Cruz, eu que me fartei de lembrar os meus amigos que ele ainda andava por aí a passear e nunca mais ia preso, a dada altura comentaram “Olha lá, mas tu não falas de outra coisa? É só Carlos Cruz, Carlos Cruz, até já chateia!”

Sendo a liberdade um conceito utópico, eu falo e escrevo quando me apetecer e o que me apetecer. Sempre e até morrer! Até por causa dos meus filhos...


Beijinhos

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