sábado, 10 de julho de 2010

Os meus filhos não são meus


Olá,

Há uns tempos tive os meus filhos a viver comigo durante duas semanas. Ontem eles voltaram para a mãe. A minha casa voltou a ficar enorme e silenciosa. É estranho esta relação que tenho com eles mas de alguma maneira julgo que me faz pensar que de facto eles não são meus, mas sim deles. O melhor que eu posso fazer é ser amigo deles.

O ano lectivo acabou e eles estão mais crescidos. Um dia estava no quarto deles e enquanto a Maria se vestia pareceu-me ver uns altinhos que nunca tinha reparado, sem pensar, toquei-lhe com o dedo na maminha. Acho que foi a ultima vez que o fiz para além de ter sido a primeira. Haverá quem possa interpretar mal o que acabei de escrever mas eu quero lá saber. Eu sou pai e não sou perfeito, sei-o. Falhou-me. Foi curiosidade do tipo: “Olha lá! Já tens maminhas?”, rimo-nos e eu pedi-lhe desculpa. Assunto arrumado.

Por outro lado o Manelito que um dia destes deixará de ser Manelito e passará a ser Manuel, durante as duas semanas que estivemos juntos, recebeu, tal como eu, uma amiga da Maria que lá foi dormir a casa. Não fosse eu mandar calarem-se e dormirem ficavam a noite inteira a falar. Credo. Muito falam as mulheres.
No dia a seguir o Manelito enche dois balões e passa a tarde inteira a fingir que os balões são mamas. Sim. Ele encheu-os de modo a que não houvesse duvidas que aquilo significava um enorme par de mamas. E foi a tarde toda naquilo. E ria-se a bandeiras despregadas. Tem nove anos o Manelito. Acho que ainda não percebeu bem o mecanismo do amor/sexo mas ou muito me engano ou começou a perceber. É capaz de passar a tarde a brincar com os bonecos e com a bola e sei lá com que coisas ele para ali inventa, mas de repente dá-lhe para se pôr com coisas de maminhas e que tais. É giro. Tive de fazer um esforço para não me rir com as piaditas dele.

É curioso esta vida de pai de fins de semana. A vida assim o quis. Felizmente os telemóveis permitem que eu fale com eles todos os dias e por isso vou mantendo um contacto constante.

Acho que sou um pai normal. Tenho receios e outros medos naturais em relação à Maria e ao Manuel mas também tenho uma sorte do tamanho do mundo em tê-los na minha vida. Vê-los crescer e mudarem é um prazer indescritível. São saudáveis e tanto eu como a mãe deles os educamos cada um há sua maneira de modo a que sejam pessoas normais.

Se eu gosto dos meus filhos? Claro que gosto! E é por isso que tenho saudades deles. Mas o divórcio deu-me, sem que eu o quisesse, este espaço só meu. Que me permite ter saudades deles e pensar neles com um distanciamento que de outro modo seria mais difícil.

Ah! E para que não haja duvidas eles não são meus. Meu é o carro e as calças que trago vestidas. Eles não. Quando muito são os meus melhores amigos, seja lá o que isso signifique.

Beijinhos e essas coisas,

4 comentários:

  1. Zé! Tão bom perceberes isso como pai, tudo tinha sido diferente comigo se mais cedo o meu tivesse sentido e pensado assim... :)
    Porque ainda hoje EU não sou de ninguém para além de muito minha.

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  2. Pois é o sentimento de posse só estraga muita coisa!...
    É giro pensares assim.
    :)

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  3. Há um poema do Khalil Gibran sobre os filhos.
    É fabuloso!!
    Bj

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