domingo, 4 de abril de 2010

A oitava regra

- Ó pai?
- Sim Manuel?
- Como é que são feitos os bebés?
- ???... Os bebés? Olha lá tu acreditas que é uma cegonha que os trás no bico?
- Claro que não pai. Isso é uma mentira.
- Pois é . Mas olha então vê lá se percebes à primeira. Ouve lá com atenção que isto não é fácil. Se tiveres duvidas vai perguntando está bem?... Olha lá? Não te ensinaram na escola?
- Sim. Mais ou menos. Mas eu não percebi bem.
- À excepção de uma pessoa que se saiba, é quando um homem enfia a pilita no pipi da mulher e depois atira para dentro do pipi dessa mulher um espermatozóide que vai por um tubinho até um ovito minúsculo que está dentro da barriga dela. Quando lá chega e se tiver sorte pois são muitos, consegue entrar na casca do ovito e depois começa a crescer.
- O que é uma excepção?
- Temos todos duas pernas certo?
- Sim
- Mas há um que tem três, percebes? Esse é a excepção.
- Mas há pessoas com três pernas, pai?
- Acho que não, mas se houvesse essa pessoa era a excepção, percebes?
- Sim.
- Então e essa mulher não foi preciso um espermatóide?
- Vai buscar o dicionário.
- Ó pai...
- Vai!
- Está bem... Es-per-ma-to-zói-de. Sim. Não foi preciso um espermatozóide entrar no ovinho?
“Bolas, estou tramado”. Ouve lá... Há muito tempo numa terra longe daqui, num lugar com muito sol e camelos e cabras e pedras, muitas pedras. Onde as pessoas não tinham televisão nem telemóveis nem torneiras nem super mercados. Onde não havia carros nem bicicletas. Onde não havia escolas nem livros, quer dizer havia alguns livros, mas só algumas pessoas sabiam ler. Vivia uma mulher chamada Maria. Essa mulher era casada com um carpinteiro chamado José e um dia tiveram um filho, ou melhor ela é que teve o filho porque o José não era o pai.
- Então quem era o pai?
- Sei lá Manuel. Sei lá. Olha! Se fosse há uns anitos atrás davam-lhe um bilhete de identidade a dizer filho de pai incógnito. Naquela altura como não havia bilhetes de identidade... sei lá Manuel. É uma confusão. Mas o facto é que a tal senhora ficou grávida. Dizem que foi um poder divino. Um milagre.


- E nasceu o menino Jesus. - Sim. Quando cresceu tornou-se num homem alto, forte e inteligente. Lembras-te de falarmos no outro dia quando vínhamos no carro sobre democracia, fascismo, nazismo, comunismo, capitalismo e essas coisas?
- Sim. Com a Maria. Lembro-me.
- Pois a mim parece-me que Jesus era assim uma espécie de político. Acho que ele defendia os que trabalhavam pois eram prejudicados pelos outros que só especulavam. Era assim uma espécie de Robim dos Bosques.
- O que é especular?... Já sei, espera... diz assim “Efectuar operações comerciais ou financeiras de que se espera obter lucros com a oscilação dos preços; negociar, comerciar.” Não estou a perceber pai.
- Uns malandros, era o que era. Acho que um dia Jesus terá entrado num templo, assim como uma espécie de Igreja e viu lá uns tipos a vender o pão mais caro do que os outros que vendiam o mesmo pão na rua. Ele não terá gostado disso e acho que os mandou para fora do templo. Ora aquilo era uma territa pequenita governada por um tipo romano chamado Pilatos.
- Esse nome é giro. Faz lembrar pilitas.
- Pois faz. Os vendedores malandros foram ter com o Pilatos que era assim uma espécie de polícia e fizeram queixa do Jesus a dizer que ele não os deixava venderem o pão dentro do templo. O Pilatos que até nem devia ser má pessoa, estava era chateado com o emprego que tinha e tinha saudades da terra dele, disse-lhes para serem eles a tratar do assunto e como os malandros eram mais ricos espetaram com o Jesus numa cruz.
- Só porque eram mais ricos?
- Pensa Manuel, pensa. Já falámos sobre isso. Sabes que há pessoas que por terem muito dinheiro fazem coisas que não são justas. Já sabes isso.
- Pois é... Ó pai! Então e a avó disse-me que ele depois morreu e depois rexuxitou.
- Ressuscitou. Pois. É estranho não é? Matam-no, enterram-no num buraco e passados três dias ele levanta-se e vai à vida dele. Tu achas isto normal?
- Ó pai! Eu acho que é mentira. O cão do tio morreu e foi enterrado. Os peixinhos do aquário quando morrem vão para o caixote do lixo. As pessoas quando morrem já não voltam a viver.
- Pensa Manuel, pensa pá. Tu tens de pensar sempre muito, está bem?
- Sim. Ainda há chocolate?
- Vai lá ver na gaveta.
- Também queres?
- Sim. Traz a tablete. Ó Maria? Onde é que está o comando da televisão?

Beijinhos e essas coisas,

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