De facto se eu pensar bem... ora deixa cá ver uma referência... sim. A Eunice Munoz, na RTP 1, a ler, sentada numa cadeira, a história - “A Menina do Mar”. E eu sentado no chão da sala a olhar para o ecrã da televisão que só já não era a preto e branco porque os meus pais tinham adquirido o último avanço tecnológico – um plástico tricolor em degradê para vermos televisão a cores. Daí a Eunice ter a cabeça azulada, o tronco alaranjado e os pés esverdeados, se a memória não me falha. Ainda no outro dia a encontrei na rua e não fui de modas. Parei o carro e diriji-me a ela para lhe agradecer o facto de ela fazer parte da minha vida de uma maneira tão... tão... humana. Acho que é isso. Ela sorriu, agradeceu-me, e eu vim-me embora. Missão cumprida.
No outro dia também (para mim os dias não são uns atrás dos outros, é estranho mas para mim os dias são salteados, assim como os cogumelos salteados, baralham-se uns com os outros e formam uma amalgama. No fim como-os à colher e de boca cheia. É bom.) mas como dizia, no outro dia estava sentado à mesa com a minha mãe e os meus filhos. Já não sei se era a jantar ou a almoçar. Mas era a comer. Por vezes comer à mesa da cozinha tem esta particularidade. Não há televisão, nem telemoveis. Simplesmente quatro pessoas a comer e a falar. É giro.
Dei por mim a pensar que entre a minha mãe que aprendeu a escrever com um aparo e um tinteiro e os meus filhos que usam o computador estou eu aqui no meio. Tive um azar do caraças, senão repara, ainda me lembro que as secretárias da escola primária tinham lá um buraquinho para o tinteiro, mas eu usava uma caneta bic. Passados uns anos tinha acabado de tirar um curso de desenhador técnico em que usava canetas rotring e borrachas e lâminas e réguas e máquinas de calcular e pim: aparecem os computadores e os programas de grafismo. Que grande galo. Por meia dúzia de anos e eu tinha poupado fortunas em canetas.
Passados mais uns anitos, o Manuel, o meu filho de oito anos vai para a escola com uma mochila que deve pesar 500 quilos cheia de livros, quando podería perfeitamente tê-los todos no Magalhães. Mas não. O desgraçado tem de levar aquilo tudo com ele e para cumulo agora acho que tem que levar uma vez por semana os livros e o Magalhães. Isto não faz sentido absolutamente nenhum. A não ser que...
Há uns anos tentei entrar para uma editora. Aquilo é uma vergonha. Para nós, pais preocupados com a educação dos nossos filhos até faz sentido. Mas diz-me lá se não sentes o mesmo que eu? Haverá necessidade de continuar a mudar os livros todos os anos? Queres a verdade? Queres mesmo? Mas depois não me venhas com coisas. Vai para a praia e dá uns mergulhos que isso passa, a sério. Pois a verdade é só esta. As editoras escolares são um lobbie violento sem o mínimo de razoabilidade, que se escondem atrás de necessidades que eles inventam para continuar a produzir livros escolares que são eles próprios desconcertantes. Como é possivel livros novos todos os anos?
Eu tento educar os meus filhos o melhor que posso e sei. Dou-lhes valores, raízes, pilares, ferramentas e preparo-os o melhor que posso e sei. Mal eles comecem a pôr-se em bicos de pés, vou para a praia dar uns mergulhos. Eles também se hão-de adaptar. Nem imaginas as coisas que eles já sabem. É impressionante. E sabes que mais? Os meus filhos têm-me ensinado a viver este momento explosivo e curioso da sociedade actual. Eles fazem-no como quem come um pastelinho de nata. Às vezes ando para aqui atazanado com tanta informação e desinformação e de repente olho para eles e vejo-os na praia à procura de peixinhos no meio das rochas alheios a tudo e lembro-me da Eunice Munoz e da história da Menina do Mar. A vida é bela...
Beijinhos e essas coisas,
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