E como previsto, ao que parece vem aí o Papa. Essa figura estranha que é suportada por outros homens de cada vez que se quer levantar. Esse homem curioso que tem o costume de falar por uma janelita de um edíficio no Vaticano, esse pequeno mas muitissimo curioso Estado cheio de leis à margem da lei. Enfim... parece que a vinda do Papa a Portugal teve alguma interferência com a calendarização da lei que permite ou não o João casar-se com o Jorge. Ou a Inês casar-se com a Deolinda.
A Igreja e os enormes pilares em que ela assenta continua a interferir com a minha vida sem que eu tenha total consciência disso. Claro que não é a Igreja, nem tão pouco o Papa, ou a nossa senhora de Fátima. Mas antes esta sociedade arcaica em que eu vivo apetrechada com armas de destruição massiça que não abdica de ter vários credos baseados em algo que não se pode nem poderá nunca provar-se que existam ou não - Deuses. Isto é perigoso. Estamos, e farto-me de falar nisso, a viver um momento da história da humanida suigéneres. Parece que algo está para acontecer ou então já está a acontecer e nós não damos conta disso. Lembras-te da Sinead O'connor a cantora? Foi à televisão e rasgou o poster com a imagem do Papa. Nunca mais apareceu. Foi pena, ela era simpática e tinha fortes convicções. Coisa rara nos tempos que correm. Convicções.
Voltando ao princípio, era, portanto, início de sábado e estavamos os três a tomar os respectivos banhos. E depois andávamos nús ali pela casa enquanto não nos vestimos. É giro. Começa a ser um pouco constrangedor por causa da Maria. Mas ela já me conhece e sabe que o pai frequenta a praia do Meco. É uma estranha sensação de liberdade andar com a piloca ao léu e depois ir mergulhar e sentir a água a deslizar pelo corpo todo. É giro.
Curiosamente e não parecendo à partida que nada disto que te escrevo tenha algum nexo fui ver ao Dicionário de Morais o significado de preservativo. Sei lá, ocorreu-me. Talvez porque vem cá o Papa. Talvez porque os meus filhos estão a crescer. Talvez porque me lembre do desgraçado do Silvino que não sendo desgraçado nenhum é-o pelo facto de estar com os costados na prisão enquanto que outros se pavoneiam por aí. Enfim, fui ver, e tem dois sentidos, o primeiro diz “Que preserva; próprio para preservar; diz-se dos medicamentos próprios para prevenir o aparecimento de certa doença”. O segundo sentido diz “Aquilo que preserva: A sobriedade é um preservativo das doenças”
Sem que eu nada tenha contra o homem (o Papa) não deixo de me indignar e achar até curioso certas posições defendidas por pessoas que representam ideologias ancestrais e por vezes arcaicas. Bem sei que não estarei de modo algum a agradar a gregos nem troianos quando escrevo estas linhas. Mas no sábado passado fui às compras com os meus filhos e à saída do supermercado, mesmo do outro lado da rua uma série de pessoas idosas e alguns escuteiros dirigiam-se para a Igreja. A missa ía ser celebrada dali a uns dez minutos e achei interessante levar lá os meus filhos. A igreja é daquelas modernas feitas de betão armado à mostra. Até tem uma arquitetura sóbria e de aspecto leve.
Passados cinco minutos a minha filha comentou “Ó pai vamos embora que isto aqui é deprimente.” A missa ainda não tinha começado e o meu filho observava um curioso objecto colocado logo à entrada, de tom castanho, bastante sóbrio, aparafusado ao chão e que a troco de moedas de 50 centimos acendia uma lâmpada em forma de vela para que a pessoa rezasse uma oração. A lâmpada está acesa durante um determinado período de tempo e depois apaga-se. Bestial! A mente humana é de facto imensamente criativa. Não há dúvida. À saída o meu filho comentou que aquelas moedas mais as moedas das duas caixas rotuladas com “Pobres” e “Igreja” eram mas era para o Sócrates. O meu filho tem oito anos. Oito! Onde raio é que ele vai buscar estas ideias?
Começo a não saber o que fazer nem o que dizer aos meus filhos. Quem sou eu para julgar o que eles vêm, ouvem e sentem? Como lhes explico o que é ou quem é Deus e os seus critérios de avaliação e justeza. Há algo aqui que não bate certo. É cá um sentimento meu. Mas que quando confrontado pelos meus filhos com questões básicas de justiça eu custa-me cada vez mais responder-lhes pois se por um lado for honesto pareço “ernesto”, por outro lado se não for honesto que raio de pai serei?
Se algum desejo eu tenho na vida para os meus filhos é que sejam inteligentes e felizes. Só isso. O resto é lá com eles que a minha filha já me manda mensagens para eu lhe carregar o telemovel... ótimo.
Beijinhos e essas coisas,