domingo, 13 de julho de 2014

O meu vizinho Bruce


Há tempos, parei de escrever. Talvez porque precisasse de ter saudades de escrever. Ajuda-me a ponderar sobre as coisas. Ao escrever os pensamentos são forçados a organizar-se, pois a escrita não consegue acompanhar os pensamentos. Pelo menos eu. Falta de motivos não terá sido com toda a certeza, vivemos momentos extraordinários, e todos os dias somos violentados com informação sobre assuntos que nem imaginávamos que existiam e ainda opinamos, não deixa de ser curioso. Tenho-me sentido nessa pele, ou, tenho tido consciência de que ela está sempre presente e que me quer sufocar. É uma luta diária para não comprar o que nos querem vender, sejam produtos, ideias, modas, etc, etc, etc…

Daí que me tenho enclausurado num mundo que preparei para o que sabia que aí vinha, e sendo eu como sou, sabia que ia sofrer as consequências das minhas escolhas, e tenho sofrido, e ainda bem, prefiro assim. É uma questão de “coluna vertebral” chamemos-lhe assim. Ou se tem ou não se tem e cada um sabe da sua, mas o facto é que se nota, sente-se, e por vezes, muito poucas, sejamos justos, concluímos que tínhamos razão, estamos a ser governados por pessoas malévolas, venenosas, esquizofrénicas e mentalmente doentes, e quando a cúpula é assim, o que daí para baixo vem não há-de ser melhor, antes pelo contrário. E sejamos honestos, não sendo transversal à sociedade portuguesa, não deixa de estar imensamente ramificada, acabando por nos tocar a todos de uma ou de outra forma. Foi a ganância que nos levou onde chegámos recentemente. O bolo-rei comido à dentada frente à televisão talvez para fazer passar a mensagem que que o que era preciso era encher a boca e pronto. Agora até a Merkel vem dar bitaites sobre o BES. Ao que chegámos de atraso em todas as frentes. Aliás, este Cavaco Silva foi das piores coisas que nos podia ter acontecido, mas é o que é e não deixa de ser o reflexo de alguns, não da maioria. De todo!



Não menos importante, se pensarmos bem é o facto de eu ter um vizinho no andar de cima chamado Bruce. Um pacato, não se dá por ele. Está quase sempre à janela, às vezes uiva quando vê um coelho ou uma perdiz no monte, mas por que o dono está a trabalhar fora, ficou ele sozinho na casa. E quando digo sozinho é mesmo isso. Vai lá uma pessoa todos os dias tratar dele, mas o facto é que de há meses para cá o ritual mantem-se podendo afirmar-se que quem mora lá é um cão. E é! Tenho pena que ele não fale… ou não. Talvez seja essa a ideia, ter por companhia um vizinho que me observa diariamente e nada me diz. Se faço bem ou mal. Nada. Nem uma crítica ou comentário. Está ali, no alto, a observar. E é enorme, um Rottweiler, mas nem se dá por ele. Quer dizer eu já dou. Sempre que vou lá fora olho para cima e às vezes lá está ele, outras não. É conforme lhe apetece. Ele olha para mim, como eu olho para as formigas, de cima, sempre. Seria interessante saber o que ele pensa das minhas alfaces, da minha couve e dos meus tomates cherry. O que é que ele pensa dos meus filhos, dos meus amigos e acima de tudo, o que é que ele pensa de mim. Mas não. É um cão, não fala, nem por gestos. Às vezes ladra, mas é tão raro que é como a trovoada, é só muito raramente. O que é que as formigas pensarão de mim?

É curiosa a vida. Eu gosto de pensar que nas infinitas possibilidades de eu poder existir ou não, coube-me em sorte a existência neste meu corpo que se vai conservando em condições não obstante o mal que lhe fiz na juventude. Hoje felizmente, a idade ajuda-nos, mudei radicalmente. Estou mais consciente de estar vivo. E cada dia, por causa disso tem-se tornado maior. As pequenas coisas também são importantes, e para elas é preciso ainda mais tempo, que é coisa que parece que não temos mas é uma ilusão. Nós temos todo o tempo que quisermos. É a verdadeira consciência dele que nos permite entender a nossa singularidade – somos nada na grandeza do universo, e no entanto há por aí cada ser humano mais imprestável! Enfim… é como as ervas daninhas e os sinais na pele - fazem parte do todo.


Beijinhos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O masoquista


Há tempos a minha mãe que tem 70 anos e não obstante ser professora de Tai Chi Chuan, praticar ioga e até dançar tango, pasme-se, deu uma topada na canela, mesmo por cima do osso onde a pele é fininha, e ao chegar a minha casa mostrou-me com alguma preocupação a ferida já com três dias. De facto aquilo estava com um aspeto pouco normal, e sendo eu leigo na matéria e depois das tentativas goradas que ela levou a cabo para tratar com própolis e outros desinfetantes naturais o facto é que a ferida era grande e estava nitidamente infetada, demonstrando a violência da cacetada. Mas ela não se queixa, antes pelo contrário, que a minha mãe sendo pequena e leve é também uma espécie de formiguinha que nunca está quieta. Depois da minha humilde análise achei que seria melhor irmos à Clinica do Parque dos Poetas, que aquilo pertence ao BES e de certeza que tratam dela. “Não se esqueça do cartão Multicare!”, lembrei antes de irmos.

À saída e já cá fora a minha mãe comentou “Achas possível que a senhora que está no balcão possa ser a técnica de limpeza? Aquilo não são maneiras de atender uma pessoa.” Mal a mulher começou a fazer perguntas eu vim para a rua pensar numa alternativa. O “sistema” está tão obsoleto e organizado de tal modo que as pessoas são números, garantias bancárias ou de investimento. A minha mãe foi confrontada com uma espécie de muro de Berlim que divide a sociedade em dois, e conforme a perspetiva, cada um enquadra-se conforme tem mais ou menos capacidade ou falta dela para agir de acordo com as normas estabelecidas. Já não é uma mera questão de ter ou não ter dinheiro, mas antes uma questão de bom senso. Quando me ponho a analisar receio ser masoquista a julgar pelos recentes comentários do Exmo Sr. Presidente da República Portuguesa. Adiante…


Fomos então ao centro de enfermagem de Oeiras onde trabalha o enfermeiro Castro, que já tinha tratado o meu filho por ocasião de um dedo entalado na perna de recolher da cama de dormir. Um acontecimento que nenhum pai gosta de ver. Nessa altura e já em desespero foi o empregado da Farmácia que me indicou o dito enfermeiro Castro - um verdadeiro milagre, depois de me informarem no Centro de Saúde de Paço de Arcos que por motivos de morada não podem tratar de uma unha caída num dedo violentamente entalado de um miúdo de 11 anos. Mas pelos vistos há esperança, pessoas anónimas como o Sr. Castro mantêm uma estrutura paralela a funcionar que é uma luz de esperança contra o que parece ser uma epidemia de loucura transversal à sociedade. São organismos quase clandestinos e imunes a esquemas partidários ou de mercado e são uma resposta inteligente, prática e razoável às solicitações das pessoas comuns no seu dia-a-dia.

Por outro lado e num plano mais prático podiam trocar o Centro de Enfermagem pela Clinica do Parque dos Poetas. O enfermeiro Castro pela outra senhora e ficavam todos a ganhar, até o BES. Os que representam e defendem os mercados são perigosamente estúpidos e obtusos, não querendo dizer com isto que tenham falta de inteligência, antes pelo contrário que até inventaram uma ferramenta que lhes garante essa liberdade de movimentos – um elevadíssimo QI, seja lá o que isso possa significar. No caso do Exmo. Sr. Presidente da República, por exemplo e que até já foi professor e representa e muito bem o pensamento académico vigente, de seres humanos formatados para verem a vida contada em números, é óbvio que os analistas portugueses são masoquistas. Nada é eterno e estamos a presenciar uma revolução mundial. Vamos ver, vai ser extraordinário! De certezinha que o que resultar de tudo o que estamos a viver vai ser melhor do que o é agora. É sempre assim… Sempre!

Mesmo que a Exma esposa do Exmo Sr. Presidente da República ache que o vestido da Joana Vasconcelos seja muito interessante, eu também acho que eles os três são desprovidos que qualquer tipo de inteligência que não seja de facto o QI. Só pode!


Beijinhos

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Meio vazio ou meio cheio


Há tempos li algures que a verdade é aquilo que o maior número de pessoas acredita. De repente algumas coisas que vou guardando na memória pareceram arrumar-se e algumas começaram a fazer algum sentido. Veja-se este exemplo prático, redes sociais, algo extraordinário que nos permite partilhar o que quer que seja, que nos permite ver e ouvir e ler o que quer que seja, como por exemplo o caso do Carlos Cruz, o pedófilo. Garanto-vos que é pedófilo pois foi o que a Justiça afirmou ao condená-lo publicamente enviando-o (pelo próprio pé, não deixa de ser curioso) para o Estabelecimento Prisional de Caxias. Vejamos, o Carlos Cruz é sobejamente conhecido da população portuguesa e no entanto foram necessários anos, foram necessárias folhas e folhas e mais folhas de papéis que diziam imensas coisas. Foram necessárias pessoas, recursos humanos, tempo, dinheiro, mais tempo até que a Justiça chegasse à conclusão de que o homem é de facto culpado. O homem mais conhecido da televisão portuguesa. Durante anos e ao que a Justiça apurou esteve envolvido numa rede que usava crianças da Casa Pia para orgias sexuais.

Neste espaço temporal em que o Carlos é apanhado, após décadas de impunidade e finalmente, porque uma jornalista assim o quis, até parece que o problema da pedofilia em Portugal deixou de existir. Mas afinal e pela experiência por que passei, não! Afinal a pedofilia existe e está de boa saúde e recomenda-se. E como é que eu sei isto? Simples. Estava a trabalhar e tenho sempre as redes sociais que me apetece abertas, e dou de caras com uma informação que pede urgentemente que eu partilhe algo sinistro - uma entidade que se identifica como sendo um tipo que pela foto diz que gosta de meninas e meninos muito novinhos. Aparece a foto dele e depois no seu histórico muitas fotos de crianças com comentários do género, “esta é mesmo boa” e outros que tais. Ora, eu que sou pai até neste momento que estou a escrever isto me apercebo do tamanho da raiva que se apodera de mim. É horrível! E no entanto… aquilo foi uma espécie de mensagem virulenta. De repente um inúmero grupo de pessoas começou a pedir que se fizesse alguma coisa. De repente começaram a aparecer pessoas que diziam que já tinham reportado à polícia. De repente todas as pessoas começaram a dizer que aquele fulano tinha de ser imediatamente parado e que por favor partilhem com urgência. Não me admiraria que aparecesse nas notícias e tivesse um final feliz.

Agora o final feliz é, e a não ser que eu esteja mesmo a ficar doido, e a minha mãe também, que coitada me vai escutando e não obstante diz-me que não, que eu não estou doido, também talvez ela esteja doida e portanto um doido não pode dizer a outro doido que não está doido… e vice-versa… ou, se calhar… como é que um tipo sozinho sabe que está doido? Têm de haver duas pessoas certo? A sério, imaginemos duas pessoas e uma diz para a outra “És maluco”, nós estando de fora pensamos o quê? Eu penso logo que alguma coisa ali não está bem, mas de facto há pessoas que pensam outras coisas. Extraordinárias!
Neste caso a rede social funcionou na perfeição e pelos vistos as pessoas estão a aderir no sentido de tentar apanhar o culpado da divulgação das fotos, que pela vontade que observei, se o apanham é bem provável que tenham de o defender da populaça. A não ser que, e foi o que eu sugeri, aquilo talvez não fosse realidade, que se calhar a entidade não era o tipo que aparece identificado na foto, se calhar é a foto de alguém que fez mal à namorada e agora está a sofrer as consequências de uma mulher despeitada que perdendo a noção da própria vida, tira um curso de informática nas Novas Oportunidades, promovido pelo Sócrates, e consegue manipular com os poucos conhecimentos que tem, a rede social de tal modo que colando fotos daqui e dali, com comentários obscenos, está a preparar a caminha ao desgraçado que nem sonha o que lhe vai acontecer. Eu acredito mais nesta história, mas claro, a maioria optou por acreditar sem qualquer sombra de dúvida que aquela entidade, aquela foto de um tipo é que deve ser cruxificado imediatamente. Eu entretanto, baniram-me. Apagaram-me. Talvez tivessem pensado que eu estava a defender a entidade, sei lá. Vim sozinho para casa, não faz mal, começo a estar habituado. Mas o curioso é que no caso do Carlos Cruz, eu que me fartei de lembrar os meus amigos que ele ainda andava por aí a passear e nunca mais ia preso, a dada altura comentaram “Olha lá, mas tu não falas de outra coisa? É só Carlos Cruz, Carlos Cruz, até já chateia!”

Sendo a liberdade um conceito utópico, eu falo e escrevo quando me apetecer e o que me apetecer. Sempre e até morrer! Até por causa dos meus filhos...


Beijinhos

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O pombo da paz


Há tempos nasceu um pombo na varanda da casa à qual chamo escritório para dar um ar profissional à coisa pois de facto é a casa da minha mãe. Talvez tivesse que ser assim, talvez a pomba que lá foi colocar o ovo tenha reparado na minha mãe e no tempo que dedica às plantas que tem na varanda. A idade é um processo dinâmico, resultado do acumular de experiências e conhecimento, e a minha mãe é de facto uma pessoa com experiência, e a pomba que não obstante aparentar ser um animal extremamente estúpido, revelou uma inteligência extraordinária ou, num pensamento darwinista, uma estratégia baseada num instinto básico de sobrevivência para perpetuar a espécie. A transformação ocorreu e do ovo nasceu e cresceu um pássaro que já voa e é independente. Nunca saberemos que forças extraordinárias estão por trás desta sucessão de acontecimentos, mas como eu que já tenho dois filhos, aquela pomba também já poderia morrer em paz, digamos, cumprindo a função da perpetuação da vida e no entanto não morrendo como o salmão por exemplo, cria relações afectivas com o que lha saiu do ânus. É o que é, que eu por mais que olhe só lá vejo um buraquinho, nem sabendo tão pouco se aquilo é macho ou fêmea.

As abelhas também são curiosas, e as formigas. São seres vivos que também se organizam em sociedade enormes como nós. Se juntássemos as formigas por exemplo têm sete vezes mais massa do que nós humanos. Já cá andavam há milhões de anos antes, se calhar as abelhas idem aspas, e nós é isto – uma loucura! Pessoalmente ando dividido entre o terror absoluto do fim do mundo e esta extraordinária evolução que a sociedade humana está a viver nestes últimos mil anos. Não deixa de ser curioso que por causa de um tipo chamado Jesus se possa dizer que “nasci no milénio passado”, só daqui a mil anos se poderá dizer o mesmo. Já se fosse pelo calendário chinês a coisa seria diferente, o que para as formigas e as abelhas tanto se lhes dá. Ora, há tempos, recebi determinadas informações que colocadas sobre a secretária me dizem o seguinte, as calotes polares estão a derreter a um ritmo violento, não obstante a revolução que a sociedade como um todo está a sofrer, gastam-se fortunas a enviar jeeps não tripulados para Marte. Afinal não há homens verdes mas parece que há água, por outro lado não disseram mas de certeza que levaram umas sementes e uma garrafinha de água, seria idiota não o fazer, mas parece que é segredo, enfim…


No meio disto tudo e do que mais há de vir, estou novamente a ser confrontado com a morte – essa coisa extraordinária, essa impossibilidade de contar como foi, ou de imaginar como será. Mais uma vez a minha curiosidade é posta à prova, sabendo à partida que nunca saberei a resposta vou, enquanto vivo, experimentando todas as sensações e emoções que a vida me dá com a maior consciência possível. É possível que a morte seja uma simples libertação do corpo, afinal de contas a larva morre para dar lugar à borboleta e convínhamos que se ela souber não acredita tal é o disparate. Sabe-se lá se nos transformamos em algo tão diferente que nem conseguimos ver, nem sequer imaginar.

De tanto nos preocuparmos “com a galinha da vizinha” esquece-mo-nos do essencial – estamos vivos! É uma miséria viver a vida toda com medo, a vida toda com receio. Se só se vive uma vez na condição de ser-humano o melhor é viver com dignidade todos os dias e um dia de cada vez, e claro - sem medo. Somos uma forma de vida extraordinária com uma capacidade de adaptação enorme e decerto, haja o que houver, cá estaremos seja lá para o que for. Sempre foi assim e sempre será. Eventualmente tudo seria bem mais fácil se não tivéssemos uma particularidade não mensurável pelas leis do universo – a inveja. Que é exactamente isso que as formigas e as abelhas não têm mas que eu tenho quando vejo o idiota do animal que agora em vez de voar e se ir embora não sai da varanda e arremessa-se contra o vidro na esperança vã de entrar. Vá-se lá entender mas por qualquer razão o pombo prefere o conforto do lar à liberdade de voar. Se calhar a fonte de energia é mais apelativa que a forma de a gastar.

Dá Deus nozes a quem não tem dentes. No caso é milho e o pombo não tem dentes que eu já fui ver.

Beijinhos.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A caminho dos cinquenta


Há tempos, pensei que tinha de ir ao médico. Comecei a sentir-me mal e sem saber bem porquê comecei a isolar-me. Tem sido um processo lento e curioso este de me reservar cada vez mais. E nem sei bem porquê mas claro, como tenho um cérebro e ele ao que parece tem vida própria e eu não o consigo controlar, põe-se para ali a pensar coisas extraordinárias que me deixam ora cheio de felicidade ora cheio de tristeza. É uma verdadeira montanha russa de emoções esta minha existência neste corpo que me calhou em sorte. Lá tinha que ser sensível e emotivo e relativamente bem estruturado para que não fosse um problema de falta de sexo, não! Sempre tive relações e já conheci muitas mulheres, umas baixas outras magras, umas gordas, outras assim-assim, outras que me fazem acreditar que existe de facto um poder superior, mas no fundo, mulheres. Nesse aspeto tem sido um prazer conhecer tantas e tão diferentes mulheres, não por opção consciente mas porque o meu poder sobre o que me rodeia é relativo e por conseguinte por mais que eu tivesse um sonho ainda não se realizou e portanto no entretanto há que tirar partido da experiência e viver com ela tentando pelo menos não cometer os mesmos erros. Já não é mau. No computo geral sou um homem feliz.

Mas a minha ida ao médico, ou eventual sentimento de necessidade de saber se tudo está bem comigo tem a ver com outra questão que não o sexo pois estou convicto que tem sido sem sombra de dúvidas uma arma de arremesso que ao longo da história da humanidade tem mostrado a sua importância. Impérios ruíram por causa dele e doutrinas nasceram contra ele. Não obstante existir desde que há gente e ser praticado todos os dias em todo o planeta, continua a ser causa de ostracismo, ferramenta política, violência brutal, desvios sexuais e por aí fora, e no entanto há quem sinta que por qualquer razão inexplicável o sexo e o amor se cruzam algures. Inconscientemente não damos por ela mas dentro de nós existe uma energia extraordinária não palpável nem mesurável que nos impele a andar para a frente, a fazer o inimaginável que é eventualmente a descoberta de uma nova sociedade, uma nova estrutura social, digamos, em que o que foi recentemente já não é e o que se sente que aí vem é no mínimo aliciante.


Assim de repente não me ocorre mas ao que parece o Napoleão era pequenito, sexualmente mal “apetrechado”, já o Hitler tinha lá qualquer relação com o sexo que não se entende, muitos outros sabemos que por esta ou aquela razão são demitidos das suas funções por motivos de escândalos sexuais. O Papa não é contra os gays, seja lá o que isso possa significar, é sim contra o lobbie gay, lia-se nas notícias, o que no meu entender vai dar no mesmo mas adiante. O rapazito que enviou os documentos secretos diz que afinal é uma mulher e os Estados Unidos andam a discutir se pode ou não ser operado para mudança de sexo, talvez dessa forma possa ser absolvido na medida em que deixa de ser ele o condenado mas a nova Joyce, ou lá o que é, o que bem vistas as coisas nada tem que ver com o assunto. O outro, o que recebeu os documentos é acusado de tentativa de violação de duas mulheres na Suécia e está retido numa embaixada há anos não tarda senão vai preso não por causa do Wikilix mas por motivos sexuais. Já o outro, também norte-americano, retido na Rússia tem um companheiro, seja lá a importância que isso possa ter para o caso, que esse sim é extremamente grave. Já para não falar do nosso jovem português que tentou tirar o órgão sexual do outro num quarto de hotel em Nova Iorque, com um saca-rolhas, o que seria suficiente para a defesa alegar completa insanidade na medida em que não é de todo a melhor ferramenta para subtrair o órgão masculino. Devia haver uma faca ou coisa do género, só um tipo fora do seu perfeito juízo faria uma coisa daquelas e agora também deve ter mudado de preferência sexual na medida em que pelo que se vê na TV e não é pouco, ao que parece, nas prisões norte-americanas um rapazito assim giro… enfim. E o Carlos Cruz e seus comparsas foram a passo e devagar e com calma para a prisão por causa de gostarem de sexo com miúdos. Valha-nos Deus, Cristo, os apóstolos, as santas todas, e os santos, porquê tantos desvios? Ou não serão desvios? Seremos nós que somos mesmo assim? Teimamos em não ser livres resultando talvez por isso mesmo, comportamentos estranhos à maioria e que não são feitos com amor.

Uma coisa é certa, esta sociedade que está em profunda transformação não declina de continuar a não ensinar às pessoas para que é que serve de facto o sexo. E a prova disso é a religião que, salvo raras exceções, trata o sexo como como um pecado. Não há duvida. E a sociedade por mais que avance não sabe o que fazer a tanta energia gerada por causa do sexo que se aliado ao amor é simplesmente brutal. Talvez não vá ao médico por causa de um dilema destes, provavelmente sairia de lá com uma consulta para o psicólogo. Vou dar tempo a este corpo para se ir habituando paulatinamente a entrar nos cinquenta com saúde e se o cérebro quiser pensar estas coisas todas é lá com ele. No fundo ele é o reflexo do mundo em que vive e coitado são mentiras todos os dias. Já não se aguenta.

Beijinhos.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

O estado da nação


Há tempos o Exmo Sr. Presidente da Republica de Portugal decretou que seria necessário um governo de salvação. Independentemente do significado que os entendidos em assuntos complexos possam achar que signifique, em bom português e esquecendo o acordo ortográfico, seja lá o que isso represente, para o cidadão comum, ou como disse um jurista recentemente, repetindo o que se diz à boca cheia desde que Cristo nasceu à terra e até antes, tem de se dar o poder de escolha ao povo. Ora nesse contexto que sendo muitíssimo complexo se baseia em algo extraordinariamente simples um governo de salvação nacional é isso mesmo um governo de salvação nacional. Supostamente porque é necessário dadas as circunstâncias, salvar o país de alguma coisa. Normalmente quando se ouve alguém dizer que é preciso salvar alguma coisa desperta-nos o instinto básico de sobrevivência. Ou porque nos identificamos com o risco inerente à situação que precisa de uma atitude tal que resulte no oposto que que existia, ou porque não conhecendo o motivo da necessidade da salvação partimos do princípio que se alguém o diz é verdade e por isso ficamos igualmente atentos e até despertos.

Não sendo uma situação normal nem vulgar em qualquer país do mundo, torna-se evidente que havendo uma situação que justifique a necessidade de alterar o que quer que seja é melhor do que o que havia antes. Neste preciso momento estão em lista de espera outros países para entrarem no grupo dos países que compõem a Comunidade Europeia, Portugal chegou ao ponto de para arrumar a casa o que existe não serve, então o Exmo Sr Presidente da República achou por bem dizer aos concidadãos que os que estão a governar não estão a dar conta do recado e por isso temos de arranjar outra solução que curiosamente e pasme-se passa por falar com os mesmos que obrigam a um governo de salvação nacional e pedir-lhes, exigir-lhes até que se entendam e salvem o país de qualquer coisa que não se percebe bem pois se de uma calamidade natural se tratasse ainda se compreende, mas salvarem-se deles próprios através de eles próprios é como pedir a um moribundo que não beba água com ela à frente da boca.


Utilizando uma expressão muito em voga a política é muitíssimo tóxica. Há pessoas que estudam história, pessoas que estudam política, pessoas que estudam filosofia e ciências do foro humano. Curiosamente somos governados por pessoas que no caso do Exmo Sr. Presidente da Republica dão muita importância à rentrée de Portugal nos mercados financeiros, o que se justifica sendo ele também e por acumulação de funções, diz-se por aí, professor de economia (de muitos dos boys que por aí andam a fazer política). Esta pessoa que assume o comando do país com as próprias mãos fá-lo por razões que não se entendem e no entanto desde que ele disse o que disse, a Sra. Odete, levantou-se da cama cedo e foi às compras para os netos que estão de férias com ela. Preocupada com o almoço e o jantar do dia seguinte ela escuta o que diz o Exmo Sr. Presidente da mesmíssima maneira que vê com atenção uma das inúmeras novelas que passam na televisão. Eventualmente, para ela é muito mais interessante ver os artistas de novelas chorarem que nem umas Madalenas (às vezes nem as Madalenas conseguem chorar tanto) do que o Paulo Portas dizer que sim e que não e que sim e que não e que sim e que não e que sim e que não. Ou o Seguro dizer que os outros todos é que são umas bestas. Ou o Sócrates dizer que não teve culpa nenhuma. Ou o Barroso dizer que os partidos em Portugal têm de se entender para bem do país. Ou o Mexia que ganha 1200 vezes o ordenado mínimo e vendeu a REN e a EDP aos chineses. E ainda outros, que nada tendo a ver com Portugal não se privam de andar para aí a mandar bitaites.

Para aglutinar tudo, ou como papel de embrulho estão os órgãos de informação, que têm tido uma enorme dificuldade em prever o que quer que seja dando-lhes a oportunidade de estarem continuamente a dar informações de coisas que não servem para nada a não ser demonstrar que é preciso um governo de salvação nacional como diz o Exmo. Curiosamente pretende-se organizar um ataque às chamas com os mesmos que atearam o fogo. O Saramago é que a sabia toda quando escreveu o “Ensaio sobre a lucidez”. Enfim… era tão simples. Mas é giro. Ao contrário da Sra. Odete que gosta de ver homens a chorar a baba e ranho eu prefiro vê-los a mentir e a borrarem-se nas cuecas. Assim vou-me rindo. Também é giro. Agora talvez fosse altura de os começar a meter na cadeia. Já lá estão uns quantos.


Beijinhos.

domingo, 23 de junho de 2013

A promoção dos pontos


Há tempos a dependência dos CTT que providenciava um serviço impecável de proximidade com a população e até variadíssimos serviços fechou. Sinais dos tempos dirão uns, progresso dirão outros. E talvez este seja o busílis da questão, desde o dia em que começamos a informatizar tudo, que até já estão a pensar em ter um programa qualquer no telemóvel para ver se as maçãs estão maduras, como se apalpa-las, gesto aliás que pode ser muito agradável  não bastasse. De facto e nos dias que correm as pessoas ao que parece não acreditam nelas próprias, deixando para outros o critério da maturação da fruta. Já não precisamos de ninguém para nos pesar as frutas e os legumes, mas por outro lado deixamos de saber apalpar fruta. Por outro lado há os manhosos que lavam a fruta com parafina, ou lá o que aquilo seja, para que fique mais brilhante. Como as cenouras que têm uma luz especial que lhe confere uma cor divinal, até chegarmos a casa e olharmos para as cenouras novamente. Talvez possamos pensar que fomos enganados, e bem! Talvez as portagens na ponte 25 de Abril pudessem voltar a ter pessoas. Assim voltava a haver a borla no mês de Agosto, assim não, assim claro que é melhor para poucos prejudicando imenso a maioria… sinais dos tempos.

Nas bombas de gasolina, onde o euro ganha um algarismo novo de que ninguém sabe o nome, terceiro à direita da vírgula, aparece como que por magia para servir algum propósito extraordinário na medida em que estamos a falar de abaixo do cêntimo. Mas por alguma razão ele lá está. Tal como lá estão nas autoestradas os placares a anunciar o preço da gasolina nas próximas quatros estações de serviço, que não obstante serem de marcas diferentes e até ter havido uma enorme discussão sobre o assunto no parlamento, o valor da gasolina nas diferentes estações de serviço é sempre o mesmo. Até ao tal algarismo à direita do cêntimo. Aquilo nem se compreende, Afinal de contas haveria uma necessidade muito concreta de liberalizar os preços e até a defesa da concorrência transparente. Ora mais transparente não podia ser. O preço é o mesmo! Mais as portagens aéreas, só para ir de Lisboa a Faro e voltar, pagamos de portagens 43 euros, num carro “normal”.


Alguns andam a fazer as coisas de maneira muito errada, há que o admitir e responsabilizar os que estupidamente, e cuidado que estupidez não é de todo falta de inteligência, se negam a assumir que fizeram as coisas muito mal. E fazem! Há dias tive de ir ao novo posto dos CTT, que por acaso fica na Junta de Freguesia que se diz que irá fechar, sei lá. Uma trapalhada que ninguém consegue explicar. Como estava na Junta deu-me para ler as fotocópias penduradas num placar de cortiça. O vulgar! Curiosamente há lá um gabinete médico, está lá escrito – Gabinete Médico. Achei piada pois não fazia ideia e pensei que se o meu filho que tem doze anos, se magoar a jogar à bola ou coisa do género, é uma hipótese a considerar uma ida à Junta. Comecei a ler os valores dos tratamentos, pensos, ligaduras e a dada altura reparo em algo que curiosamente não tendo nada que ver com as bombas de gasolina acaba por ter. Um raciocínio peculiar que faz com que o grátis, por exemplo já não o seja verdadeiramente, pressupõe um contrato imediato. Esta aprendi com os meus filhos que já sabem como é. Eu não sabia. Tramei-me claro. Adiante...

Diz lá no tal papel que até três pontos cada um custa sete euros, mas se for mais que três já só custa cinco euros cada… Pensei… voltei a pensar… olhei para a senhora que estava sentada numa secretária com ar de que está à espera das cinco da tarde para sair dali, coitada, e perguntei-lhe se aquilo que eu estava a ler era mesmo verdade. Respondeu-me que sim. Coloquei-lhe a hipótese de levar lá o meu filho, fui avisado que só está aberto das dez da manhã às duas da tarde. E que não é um médico mas sim uma enfermeira, quando lá diz Gabinete Médico. Três algarismos à direita da vírgula são próprios de um país com uma pobreza de espírito enorme e até hoje não houve ninguém que me desse uma justificação qualquer. Afinal de contas as frutas e os vegetais só têm dois algarismos à direita da vírgula. Quatro pontos ficam mais barato que três, ou então rasga-se mais um bocado o golpe. Sempre ficam mais em conta, os pontos.

Beijinhos.