domingo, 10 de junho de 2012

Fernando Pessoa



Há tempos estiver a ler Fernando Pessoa, que é o mesmo que dizer fui ao Brasil sem se dizer onde especificamente tal é a imensidão do que ele escreveu. Adiante… estava sentado no meu terraço, Sábado à tarde na companhia dos meus filhos, almoçámos coxas de frango no churrasco. Da próxima vez têm de ficar mais tempo nas brasas, ficaram ótimas mas podiam ter ficado melhor, provavelmente se fosse um daqueles programas sobre cozinha e culinária o chefe diria que estava uma porcaria e com razão. Se é possível a excelência, porque não atingi-la? No caso concreto e para poupar no carvão apaguei o lume antes de ter verificado se de facto as coxas estavam realmente assadas. Por fora parecia mas por dentro a carne junto ao osso ainda se encontrava um nadinha em sangue. Quase nada. Como se não importasse. A ver se passa (que não foi o caso), ou a ver se não dizem nada, ou então perguntar se está bom que, claro, dizem logo que sim… a não ser que esteja nitidamente impossível de deglutir, talvez mastigar para poder fazer aquela cara de quem ficou surpreendido e depois curioso e depois desagradado e depois pensativo e depois uma pequena troca de olhares e fora com aquela coisa da boca.


Ao almoço bebi finalmente uma cerveja alemã vinda mesmo da Alemanha pelas mãos de uma amigo. Até os meus filhos provaram. Tinha no final da língua um sabor a água-mel, uma espécie de geleia de mel formidável para se juntar ao gelado de natas no verão. Este ano não tenho água-mel mas fiz algo que está a curar, com gengibre, açúcar, anis e lucia-lima, planta que adquiri à pouco tempo e que juntamente com as que já tenho fazem do meu terraço um lugar de cheiros, de sensações que se confundem com memórias de outros lugares e de outras ocasiões. Curiosamente o cheiro não tem lugar nem tempo. Cheira sempre a qualquer coisa. Li algures que no Japão por exemplo não usam produtos de limpeza para a casa de banho com cheiro a limão. Seja ou não verdade, o facto é que fará algum sentido. Uma pessoa vai à casa de banho, entra, levanta o tampo da sanita e vem de lá um extraordinário odor a limão. O velho truque tão aprimorado pelos franceses. Disfarça-se o cheiro proveniente do interior com um cheiro mais forte e que nos transporte para outro espaço de tal modo que os anúncios fazem com que a sanita apareça no meio de prados verdejantes.

Ora a questão é que voltando da casa de banho para a sala de estar, ao convívio com os amigos, não deixará de ser estranho pedir-se uma coca-cola com gelo e limão. O cérebro naturalmente regista cheiros e associa-os a coisas. E quando pegamos no copo e vamos dar uma chupadela na palhinha para um agradável gole de cola entra-nos pelo nariz um cheiro que associamos a limões e outra coisa qualquer que por uma razão de pura lógica o mesmo cérebro cria bypasses para não pensarmos que estamos a beber sabe deus o quê. Enfim… Sempre me questionei se será verdade ou não esta questão dos cheiros da casa de banho. Pessoalmente não gosto muito do cheiro a alfazema. Como tenho alguma alergia na Primavera talvez o meu cérebro associe o cheiro da alfazema à alergia criando aí uma associação que ultrapassa o meu controlo lembrando-me que eu só controlo conscientemente 10 por cento dos meus gestos. O resto é inconsciente. Mais uma vez e a ser verdade é extraordinário que só controlemos 10 por cento da nossa vida.

E quando li com atenção Fernando Pessoa, apeteceu-me escrever… Talvez ele esteja a ler… algures… era giro.

Beijinhos.

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