Há tempos estiver a ler
Fernando Pessoa, que é o mesmo que dizer fui ao Brasil sem se dizer onde
especificamente tal é a imensidão do que ele escreveu. Adiante… estava sentado
no meu terraço, Sábado à tarde na companhia dos meus filhos, almoçámos coxas de
frango no churrasco. Da próxima vez têm de ficar mais tempo nas brasas, ficaram
ótimas mas podiam ter ficado melhor, provavelmente se fosse um daqueles
programas sobre cozinha e culinária o chefe diria que estava uma porcaria e com
razão. Se é possível a excelência, porque não atingi-la? No caso concreto e
para poupar no carvão apaguei o lume antes de ter verificado se de facto as
coxas estavam realmente assadas. Por fora parecia mas por dentro a carne junto
ao osso ainda se encontrava um nadinha em sangue. Quase nada. Como se não
importasse. A ver se passa (que não foi o caso), ou a ver se não dizem nada, ou
então perguntar se está bom que, claro, dizem logo que sim… a não ser que
esteja nitidamente impossível de deglutir, talvez mastigar para poder fazer
aquela cara de quem ficou surpreendido e depois curioso e depois desagradado e
depois pensativo e depois uma pequena troca de olhares e fora com aquela coisa
da boca.
Ao almoço bebi finalmente
uma cerveja alemã vinda mesmo da Alemanha pelas mãos de uma amigo. Até os meus
filhos provaram. Tinha no final da língua um sabor a água-mel, uma espécie de
geleia de mel formidável para se juntar ao gelado de natas no verão. Este ano
não tenho água-mel mas fiz algo que está a curar, com gengibre, açúcar, anis e
lucia-lima, planta que adquiri à pouco tempo e que juntamente com as que já
tenho fazem do meu terraço um lugar de cheiros, de sensações que se confundem
com memórias de outros lugares e de outras ocasiões. Curiosamente o cheiro não
tem lugar nem tempo. Cheira sempre a qualquer coisa. Li algures que no Japão
por exemplo não usam produtos de limpeza para a casa de banho com cheiro a
limão. Seja ou não verdade, o facto é que fará algum sentido. Uma pessoa vai à
casa de banho, entra, levanta o tampo da sanita e vem de lá um extraordinário
odor a limão. O velho truque tão aprimorado pelos franceses. Disfarça-se o
cheiro proveniente do interior com um cheiro mais forte e que nos transporte
para outro espaço de tal modo que os anúncios fazem com que a sanita apareça no
meio de prados verdejantes.
Ora a questão é que voltando
da casa de banho para a sala de estar, ao convívio com os amigos, não deixará
de ser estranho pedir-se uma coca-cola com gelo e limão. O cérebro naturalmente
regista cheiros e associa-os a coisas. E quando pegamos no copo e vamos dar uma
chupadela na palhinha para um agradável gole de cola entra-nos pelo nariz um
cheiro que associamos a limões e outra coisa qualquer que por uma razão de pura
lógica o mesmo cérebro cria bypasses para não pensarmos que estamos a beber
sabe deus o quê. Enfim… Sempre me questionei se será verdade ou não esta
questão dos cheiros da casa de banho. Pessoalmente não gosto muito do cheiro a
alfazema. Como tenho alguma alergia na Primavera talvez o meu cérebro associe o
cheiro da alfazema à alergia criando aí uma associação que ultrapassa o meu
controlo lembrando-me que eu só controlo conscientemente 10 por cento dos meus
gestos. O resto é inconsciente. Mais uma vez e a ser verdade é extraordinário
que só controlemos 10 por cento da nossa vida.
E quando li com atenção Fernando
Pessoa, apeteceu-me escrever… Talvez ele esteja a ler… algures… era giro.
Beijinhos.
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