Há tempos, dei conta que
também tenho pirilampos no meu terraço. É bestial! A quantidade de animalecos
que por ali há. Pirilampos, borboletas, zangões, abelhas, escaravelhos, vespas,
vespões, moscas, melgas, joaninhas, há uns que parecem abelhas mas não são, e
fazem muito barulho, e ficam estáticas no ar enquanto as asas fazem um barulho
“ameaçador”. E há libelinhas, e salamandras, e sardaniscas, e caracóis, e
búzios – a sério, aquilo para mim são búzios pequeninos mas búzios, e umas
lagartinhas acastanhadas, quase preto, há quem lhes chame “maria café”, e
aranhas com as suas teias nos cantos do teto e debaixo dos bancos e ali e
acolá, e morcegos, e andorinhas, melros e inúmeras variedades de pássaros dos
quais não sei o nome pois como não falamos a mesma linguagem não sei, e à noite
há um mocho enorme que faz um barulho impressionante quando voa perto e sobre o
meu terraço, as asas têm uma envergadura que deve andar no metro, faz um
barulho parecido com aquele que fazemos quando começamos a aprender a assobiar,
a sério que faz lembrar. É enorme, branco e tem a cara achatada com dois
pequenos olhos negros rodeados cada um por duas espécies de funis brancos. É
giro.
Também há umas aves de
rapina que conseguem ficar a voar no mesmo local. Ficam ali no mesmo local,
aparentemente pois fazem-no a grandes alturas, durante um ou dois minutos
talvez, não sei. Já lá vi o que julgo ser um casal dessas pequenas aves de
rapina. Normalmente os melros são os primeiros a dar o alerta. Distinguem-se
perfeitamente os seus avisos e por breves instantes parece que tudo pára. Os
coelhos costumam aparecer a meio da manhã. Da ultima vez que os vi haviam dois
pequenitos. Como o são os ratos do campo. Até são giros. Pequeninos e sempre
muito despertos e alertas. Foram eles os bandidos que me atacaram a abóbora que
a minha mãe me ofereceu, abrindo um buraco e comendo as pevides todas deixando
as cascas como prova. Só dei conta que eram ratos quando fui limpar por baixo
da prateleira dos utensílios de jardinagem. Pássaros não fazem aquilo, e o meu
hamster fazia isso, igualzinho. Foi-me difícil aceitar de animo leve que todos
os dias há um bando de enormes papagaios verdes que ao fim do dia sobrevoam lá
muito ao alto em direção ao interior. Durante o dia instalam-se para os lados
dos Jardins do Marquês em Oeiras e ao fim do dia voam para a Fábrica da
Pólvora. Já as gaivotas nunca se sabe se voam para um lado ou para o outro. Não
me lembro de ter visto pombos mas rolas vi várias.
Ontem estava sozinho na sala
a ver televisão e entra-me um gato pela sala dentro e vai até à cozinha.
Esperei, esperei e fui lá, quando acendi a luz ele esgueira-se entre mim e a
porta e sai a correr pela sala, sentando-se logo a seguir à porta, no terraço a
lamber-se. Nunca o tinha visto e não sei se o voltarei a ver. Às vezes há por
ali uns cães, com pedigree, de caça ou da rua, farejam tudo ao que parece à
procura de algo, sempre freneticamente, é curioso. Não sei se apanham alguma
coisa mas o facto é que quando isso acontece leva dias a repor a ordem. Sei
isso por causa dos melros e dos seus gritos de alerta que se deixam de ouvir.
Gosto de observar as coisas
mesmo ao pé de mim. As que temos como garantido. Por estarem sempre ali deixo
de as observar e de ver quão belas e bonitas são. Também tenho flores no meu terraço,
lindíssimas. Rosas de várias cores e outras. Estou à espera que a “dama da
noite” dê flores. Disseram-me que é um cheiro inebriante. Também tenho
“lúcia-lima” e poejo e alfazema. E todas elas com necessidades de
abastecimentos de água diferentes, não é fácil. Às vezes engano-me e quase que
morrem. Mas estão todas formidáveis. Não sei quanto tempo levo a observar todos
estes seres extraordinários no meu terraço ou a partir dele mas uma coisa eu
sei, quando estou ali a tratar das plantas faço por estar consciente do momento
e do que observo, nessa altura o tempo parece parar. Parece que algo mágico
acontece e o tempo deixa de existir. E pensando bem deixa mesmo, na medida em
que fomos nós que inventámos o tempo para mal dos nossos pecados e a natureza está-se
a borrifar para nós e para o nosso tempo, na mesmíssima medida em que nós
borrifamos para ela. Isto não falha.
Ando cheio de alergia, outra
vez, bolas.
Beijinhos.