quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O super taxista


Há tempos, cheguei a Lisboa de avião. Alguns sabem mas outros não, que quando se chega a Lisboa de avião não se aterra a cinquenta quilómetros numa pista de aterragem situada num local tão inóspito que nos faz sentir parte de uma carneirada qualquer em que o livre arbítrio é uma alucinação.

Chegar a Lisboa de avião, não obstante ser o pior meio de transporte conhecido na história da humanidade, é algo que atenua o sofrimento de uma viagem que nos obriga a permanecer sentados durante horas a fio, ingerindo coisas que nem aos cães de dão. Chegar a Lisboa de avião, vindo de outro lugar qualquer do norte da europa por exemplo, significa preparar a aterragem mesmo por cima da cidade. Significa poder ver as casas, as ruas, os carros, as pessoas e eventualmente, e nem é preciso muita sorte, talvez se consiga ver a própria casa. Aterrar em Lisboa é o paraíso das aterragens das capitais europeias. Aterra-se no meio da cidade. Da capital. De uma metrópole que não sendo gigante não deixa de ser o coração de um país.

Se tivermos sorte, e também não é preciso muita, até aterramos com sol e calor e tudo. É bestial. Vai-se ouvindo falar na ideia de construir um aeroporto fora da capital, baseado em factos louváveis e pertinentes, mas por outro lado, o aeroporto de Lisboa é sem dúvida um espetacular cartão de boas vindas a quem quer que chegue de avião. É bem possível que passada meia hora depois de aterrar se consiga estar dentro do táxi a caminho de casa. E isso é impar nos dias que correm. Perder essa capacidade é perder algo que nos define. Nós os portugueses sem que nos apercebamos estamos na vanguarda do que se pretende que seja o futuro – uma interligação perfeita e harmoniosa dos meios de transporte de modo a ser o mais humano e o menos agressivo possível. Talvez, se em vez de querermos sempre crescer exponencialmente, fosse melhor gerir o que já temos e que se for bem gerido até resulta, enfim, há que ter fé.


O táxi - ora aí está outro meio de transporte extraordinário. Felizmente parece que voltaram ao preto e verde que é mesmo português, ao invés daquele bege insípido que só alguém muito doente podia ter proposto uma cor daquelas. Menos mal. Parece que a alma, ou coração, falaram mais alto e aí estão outra vez os táxis que todos conhecemos. Desta vez apanhei um taxista brasileiro e explicou-me o seguinte: para se ter a carteira de taxista é preciso largar perto de mil euros, ter frequentado um determinado curso e uma determinada formação. É necessário dar provas de uma série de competências pessoais e profissionais que fazem do profissional que conduz táxi um Senhor Doutor da estrada.

Não obstante, e sempre admirei esse grupo de profissionais por isso, conseguiram unir-se e obrigar a lei a abrir uma exceção, que de acordo com a exceção em si faz deles uns homens com poderes excepcionais. Os taxistas não precisam de usar cinto de segurança dentro da cidade. Sendo que eles devem ser imunes à morte em caso de colisão frontal por exemplo, mas só dentro da cidade, pois quando me transportou para Caxias, que já é fora do perímetro da cidade, seja lá o que isso signifique, vi-o colocar o cinto. Pensei no Super-homem de facto que perde a força por causa de umas pedrinhas verdes. Neste caso o taxista perde a capacidade de imunidade à morte a partir de um determinado limite. Uma linha imaginária que alguém definiu como sendo o perímetro da cidade. É curioso esta coisa da lei. Vá lá que nos distingue! Senão os taxistas eram obrigados como todas as pessoas normais a usar o cinto de segurança sempre que conduzem um veículo que pode matar no momento em que se liga o motor e destrava. Às vezes nem é preciso tanto, é só destravar.

Isto de facto, eu devo andar parvo.

Beijinhos,

2 comentários:

  1. Introdução muito bonita ... de facto aterrar em Lisboa é uma maravilha!! Eu sou tão saudosista que sempre que chego a Lisboa, seja com que meio de transporte for, sabe-me bem!! A luz é única ...
    Com os táxis "estragas-te" tudo ... mas eu entendo-te pq tu querías era falar dos táxis. Dos pretos (tb és um saudosista), dos taxistas e do cinto de segurança ...
    Parabéns!! Realmente está bonita a peça!

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  2. O que tira o poder aos Taxistas é uma placa branca com letras pretas que está à beira da estrada e diz "Mudança de Tarifa", acho eu.
    Anda atento que vais ver essas placas que devem ser feitas de kriptonite, só pode ser isso!!
    Há lá outra explicação!
    E o Sr. que fazia de Super Homem deve ter passado a cavalo por uma placa dessas sem ter reparado nela e tomado as devidas providências, e deu no que nós sabemos..
    Só pode ser!
    Estou contigo!

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