sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Eu mexia, tu mexias, ele Mexia



Há tempos, coloquei uma vela na minha casa de banho. Talvez para a tornar mais romântica, sei lá. A minha mãe por exemplo, tem duas casas de banho. A dela é dela. A outra, que eu uso e as pessoas que frequentam a casa dela usam, tem música. Aquilo não é uma casa de banho. É um espaço de reflexão. Quando se liga a luz, havendo duas possibilidades à partida, ou a luz do teto ou a luz de um candeeiro de ferro, em forma de peixe, vivo, curiosamente de cabeça para baixo e o abajur, que deixando passar a luz filtra umas folhas secas embutidas no próprio abajur. Ora, a minha mãe que é uma mulher especial e não irei dizer absolutamente mais nada sobre ela, resolveu, sabe-se lá porquê, colocar um candeeiro que é de mesinha de cabeceira, na casa de banho. E mais, a casa de banho a que me refiro está cheia de postais, fotos, quadros, imagens disto e daquilo, ovos de mármore espalhados no chão, um pato de loiça pintado à mão dentro do bidé, objetos que nada tendo que ver com a casa de banho em si ficam perfeitamente integrados de tal maneira que suspeito que de cada vez que alguém lá vai a casa fazer-lhe uma visita ou outra coisa qualquer deve ficar surpreendida quando liga a luz para ir à casa de banho. Tanto o candeeiro como o rádio estão conectados à mesma ficha. Quando a porta se fecha, a luz do candeeiro filtrada pelas folhas do abajur mais a música clássica da Antena 2 propicia pensamentos profundos ou reflexões mais elaboradas.


Ora, estava eu sentado na sanita a refletir, e muito gosto eu de o fazer na casa de banho em casa da minha mãe. E acendo sempre a luz do candeeiro de mesa. Não sei se já lhe disse (à minha mãe) que me farto de pensar ali dentro, para além de largar o lastro, mandar um fax, arrear o calhau, cagar, defecar. É curioso, quanto mais se tenta descrever o ato, mais complicada se torna a descrição da situação, que diga-se de passagem é tão velha como a própria vida. Aliás, se houvesse uma gestão mais optimizada do que comemos muito se pouparia em reciclar o que nos sai do corpo e que para nada serve, enfim… E tudo isto é possível pelo simples facto de existir luz na casa de banho. Sendo casas de banho interiores necessitam de luz para que nos possamos orientar e situar. Até pintei recentemente o teto da minha casa de banho. Caro como o raio, uma lata de quatro litros de tinta da Robbialac, branco cintilante, custa cerca de 100 euros. Se o teto refletir melhor a luz, mais fraca pode ser a lâmpada. Faz sentido.

Enquanto reflectia, ouvi na rádio que o administrador da EDP ganhou um prémio de 3,5 milhões de euros no final do ano. Entrevistado, refere que esse prémio lhe foi atribuído pelos acionistas que estavam muito satisfeitos com os extraordinários resultados da EDP. Lucros na ordem dos muitos milhões de euros obtidos acima de tudo por investimentos feitos no estrangeiro. Cá, mudaram a imagem e para isso gastaram milhões e milhões de euros. Para mostrarem trabalho, talvez. Nem compreendo estas opções administrativas. De onde é que lhe vêm estas ideias? Talvez não seja ele mas decerto dará o aval. Resta saber porquê. 

Ultimamente de cada vez que vou cagar penso no Mexia. E logo de seguida, ou a ordem vai variando - talvez conforme me custe mais ou menos, cagar - também penso no Carlos Cruz, no Vale e Azevedo, no Valentim Loureiro, na Fátima Felgueiras, no Ferro Rodrigues, e há mais, até no Mário Soares ou no Cavaco Silva, coitados. Bem vistas as coisas arrear o calhau ou refletir voltou a ficar mais caro. O que me incomoda, indigna e dá voltas à barriga é saber que o Mexia e os acionistas de que ele fala, sorriem de cada vez que acendo a luz para… seja lá o que for.

Beijinhos e essas coisas,

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olha Zé.

    Estou a rir tanto que acho que tenho que ir à casa de banho ver o que se passou...

    Até já!

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