sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sinais dos tempos


Há tempos deixei de fumar. É relativa esta coisa do tempo, quando nos propomos deixar de fumar. O tempo transforma-se. Adquire vida própria e castiga-nos violentamente. Leva mais tempo a passar o raio do tempo. Não é fácil mas também não tem sido muito difícil. Das outras duas vezes que deixei de fumar foi terrível. Na altura trabalhava com um grupo de pessoas que até me pediam para voltar a fumar tal era o meu estado. Descarregava a minha frustração de estar à espera que me passasse a vontade que tinha de fumar em cima dos meus colegas. Não me calava. Eu, que de mim e às vezes tenho a noção de que falo muito, naquela altura parecia uma gralha, credo.

Curiosamente, da primeira vez deixei de fumar sem usar substitutos do tabaco comi muitos chupa-chupas com pauzinho que metia na boca para disfarçar a vontade de ter o cigarro entre os dedos e na boca. Foi o diabo! Mas passou, e estive dois anos sem fumar. Da segunda vez, pois a carne é fraca e voltei a fumar, já havia umas pastilhas elásticas com nicotina horríveis que me provocavam uma espécie de refluxo mas que me ajudaram a reduzir o espaço temporal que medeia o inicio e fim do processo de desabituação à nicotina e todos os hábitos que lhe são inerentes. Mesmo assim ainda foram um bom par de meses. Dessa vez estive um ano e meio sem fumar. Voltei a fumar basicamente porque, e volto a repetir, a carne é fraca.

Ora desta vez foi inesperado, ou não que eu já andava com essa ideia há algum tempo. No dia do meu aniversário e depois do almoço um amigo saca de um cigarro e dá umas passas. A seguir mete o cigarro no bolso e continua a falar. Assim! Como se nada fosse… Espera! Alto lá! Mostra lá isso, pedi-lhe. E ele apresentou-me algo extraordinário. Algo que mostra de facto a capacidade do ser humano em prosseguir a sua louca viagem sabe-se lá para onde usando o que quer que lhe venha à cabeça para lá chegar. Quero com este raciocínio brutal chegar ao pensamento mais simples que diz que - se não for por aqui é por ali, mas é sempre em frente. Sempre. A mente humana quando lhe apetece cria coisas extraordinárias. Para o bom, para o mau ou até para o nada.

Se nunca viste tal coisa, hás-de ver. É impossível que não o vejas um dia destes. Olha! Eu por exemplo, comprei um e agora fumo em todo o lado. É bestial. No intervalo do filme no cinema. No restaurante. Nas lojas. É impressionante. Passei a fumar em todo o lado. Tem uma bateria que se carrega numa tomada ou no computador, e espera, há mais! Quando se dá uma passa a pontinha ilumina-se e até parece que está quente, e pasme-se, sai fumo. Ou vapor. Eu sei lá. Para já não estou interessado em entender a mecânica da coisa que me parece elementar. “Ah! Mas isso não é deixar de fumar, pois afinal de contas continuas a meter nicotina lá para dentro” – dirão alguns. Quero lá saber. Deixei de usar o isqueiro. Deixei de ter as mãos e a boca e a roupa e a casa e o carro a cheirar a nicotina. Deixei de ter de comer umas pastilhas elásticas de mentol por causa do hálito.

Achas estranho eu estar a dar passas num cigarro de metal? Então e o que achas inalar fumo? Se pensarmos bem, não faz sentido absolutamente nenhum inalar fumo. Foi azar o meu, alguém ter inventado os cigarros. Mas foi sorte a minha, alguém ter inventado o cigarrito electrónico. Tem-me ajudado na batalha da desabituação. Adoro o ser humano e a sua ilimitada capacidade para andar para a frente… sempre. Fiz 46 e na melhor das hipóteses vivo mais o quê? 20? 30? Adorava ver os carros a voar. Isso é que era! Despachem-se por favor. Não quero perder pitada.

Beijinhos e essas coisas,

2 comentários:

  1. Não posso imaginar o gralhar! Mas como nasceste no Brasil, compreende-se.....

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  2. Zé ouvi no outro dia que um fumador desses cigarros recebeu em casa uma conta de electricidade de mais de 1.000.000€ vê lá se não te acontece o mesmo!
    Estou a brincar...
    ;)

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