terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ser profissional


“Aquacultura ou aquicultura é a produção de organismos aquáticos para uso do homem. A maricultura refere-se especificamente a aquicultura marinha, enquanto a piscicultura refere-se ao cultivo de peixes principalmente de água doce.”

Há tempos fui ao supermercado Continente comprar duas douradas. As douradas distinguem-se em três tamanhos - pequenas, médias e grandes. Li na revista Pró-teste que as de aquacultura são melhores que as de mar. Concordo.

Tirei uma senha para “peixe amanhado”. Pressupõe que vão tirar as escamas e as tripas. Chegou o meu número - 49. Sorri para a senhora – pela vestimenta – peixeira. Perguntei-lhe qual era a diferença entre as douradas que estavam do lado direito do balcão e as douradas que estavam do lado esquerdo. Respondeu-me que as da esquerda eram de água doce e que as da direita de água salgada.

“As douradas habitam os mares tropicais e temperados (nas partes mais quentes), sendo relativamente abundantes no Mediterrâneo e Atlântico, na costa portuguesa.”

De água doce? - perguntei. Mas olhe lá, as douradas não vivem em água doce! - retorqui. Ao que ela respondeu que aquelas vivem. Eu não queria acreditar, estava a ser atendido por alguém que não compreende a enormidade da impossibilidade da sua resposta. Entretanto uma outra senhora vestida também de peixeira e que amanhava outro peixe ía ouvindo a conversa. Eu olhei para ela e perguntei-lhe – Desculpe. As douradas vivem em água doce?... Ela sorriu.

Enquanto a primeira ouvia a explicação da segunda fui informado que as douradas não vivem em água doce mas que a água onde elas são criadas é doce. E que depois de se acrescentar sal é que se colocam lá as douradas. Tanques com água doce ao qual se adiciona sal para criar douradas? Com tanta água salgada? Aqui há gato. Calei-me. Foi imperativo. Esta mania que eu tenho de meter conversa com as pessoas... Trouxe as douradas amanhadas, grelhei-as e estavam ótimas.

A questão da peixeira e do que ela sabe sobre as douradas é impressionante. Alguém a admitiu para ocupar aquele posto de trabalho. No entanto ela tem, com a vestimenta que lhe deram, todo o ar de uma profissional altamente competente. E é assim... Ao que parece existe para aí um monte de gente que está a ocupar lugares para os quais não estão bem preparadas. Nós sabemos isso. Elas sabem isso. Nós sabemos que elas sabem. Elas sabem que nós sabemos e pronto. É uma fórmula muito bem conseguida em que não há responsáveis. Mas há-os que eu sei. E eu também sei onde é que eles estão. É só uma questão de tempo. Se não for à paulada há-de ser pela ordem natural das coisas, hão-de morrer. O que me preocupa no entretanto é que os próximos são iguaizinhos ou ainda mais pedantes.

Tantas vezes me lembro do Saramago e do seu “Ensaio sobre a lucidez”, tantas. E nesse ninguém falou. Óbvio.

Beijinhos e essas coisas,

3 comentários:

  1. e passobens lol

    Pois meu amigo, as do mar é que sabem a peixe, o problema é nos vamos habituando a comer farinha em lugar do belo do pexito do mar...e venha lá a próteste ou quem quer que seja, mas o pexito do bom come mexilhao das rochas algas e outros pexitos, não comem farinha...quanto a questão de quem está ao balcão, cada vez mais vamos ver Arquitectos a vender sardinhas e trolhas a vender peixe ou mesmo um doutor a arranjar bonecas...é a vidinha hehehehe

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  2. Bom dia!

    Peixe que é peixe sabe a peixe!
    Mas que raio! Douradas de agua doce?, qualquer dia também estão a criar barbos em agua do mar onde retiraram o sal.
    Curioso curioso é que tenho na forja um post nascido ontem quando entregava produtos a um cliente meu, e está no mesmo comprimento de onda do teu!
    E a proteste também me deixa sempre muito curioso sobre a isenção averbada, é um pouco como quem policia os policias?
    Há braços do tamanho do mundo.

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  3. Sabe,nem todas as pessoas que trabalham gostam do que fazem. E estão ali porque precisam de dinheiro.E qualidade de atendimento nos hiper´s cada vez é menor. E "savoir faire" nem toda a gente tem, educação, valores que não existem mais...

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