Há tempos estava sentado numa estação de combóios no Porto ou lá perto e vejo sentada num banco ao lado uma senhora parecida com a minha avó Alice. É curioso como há um tipo de senhoras parecidas com a minha avó Alice. Também há outras parecidas com a minha avó Elvira. Mas esta é parecida com a avó Alice. Gosto de observar. É um hobbie meu. Observar. E de repente percebo que era nem mais nem menos que a Filipa Vacondeus. Aquela senhora que a dada altura da minha vida aparecia na televisão a falar sobre culinária. Como ela me faz lembrar a minha avó Alice. Olha que se calhar até foram amigas. Sei lá. Parece mesmo.
Fui direito a ela. Nestas coisas eu não me envergonho. Se ela me “incomoda” enquanto estou a ver televisão em minha casa certamente não levará a mal se eu a incomodar para lhe dizer pessoalmente como a admiro. Assim foi. Só que em vez de lhe perguntar cordialmente se ela era a Filipa Vacondeus, enganei-me e perguntei-lhe se ela era a Maria de Lurdes de Modesto... Estraguei tudo. “Essa é a outra!” – respondeu ela. Ora bolas! Às vezes mais valia estar quieto. Ainda lhe disse que ela me fazia lembrar a minha avó. Pior a emenda que o soneto. Não se diz uma coisa dessas a uma mulher tenha lá ela a idade que tiver. "Olhe! Você é parecida com a minha avó." - que ainda por cima já morreu há uma série de anos. Adiante.
Num jornal semanal de referência do qual não direi o nome mas que tem uma revista chamada “REVISTAÚNICA”, reparo em duas páginas – a 100 e a 101, com um artigo sobre culinária. As revistas gostam desse tipo de artigos. É assim uma espécie de momento relaxante, uma espécie de tentativa de empatia com o leitor, uma bica depois do almoço. “Eles” sabem-na toda. Ora quem escreve esse artigo é nem mais nem menos que um rapazito chamado Jamie Oliver... Espera! A ver se eu percebo. Com tanta história culinária que temos. Com tantas freiras a fazer doces conventuais. Com tantos pescadores a cozinhar peixe fresco. Com tantos Micheles e Marias de Lourdes Modestos. Com tanta gente a fazer coisas tão boas e tão saudáveis à vista, ao olfato e ao palato. Com tanta mestria popular para elaborar pratos simples mas com aromas tais que nos fazem sonhar com Portugal, estejamos até na lua. Com tantas misturas de sabores trazidos dos quatro cantos do mundo...
... em destaque e sobre a foto que ilustra uma mistura qualquer que ele para ali inventa com maçã cozida, passas, flocos de aveia semi-crus, sementes de girassol, iogurte e outras coisas que se vendem empacotadas e que cá se dão aos hamsters, enfim... Como dizia, em destaque, assim tipo um postite amarelo sobre a foto, ele escreve o seguinte, e pasme-se que foi traduzido, revisto e impresso... valha-me deus nosso senhor, que não tem nada a ver com o assunto, mas de facto já não há mais a quem recorrer: “As dicas de Jamie - É importante para mim (diz ele) consumir peixe de viveiros de qualidade. O que devo escolher? Procure o logótipo MSC nas embalagens de peixe. O Marine Stewardship Council só certifica peixe proveniente de viveiros e tanques de qualidade”... O Marine o quê???
Caro Nicolau Santos: conhecemos-nos à vários anos. Dez? Quinze? Sei lá. O tempo passa. Peço-te que não permitas estas coisas no “teu” jornal. A sério pá. Em nome dos meus filhos não faças o que outros fizeram com o PÚBLICO, por exemplo. Sê diferente. As pessoas não são parvas. Com tantas coisas boas em Portugal não permitas que na “tua” revista se publiquem receitas como “Crumble crocante de maça e canela” ou “Creme de ovos com uísque”... Uísque, pá! Lê lá isto em voz alta – UÍSQUE ... Valha-me todos os poderes do universo.
Só me lembra o Medina. Isto só lá vai à chapada. Credo.
Já me ri! :) Obrigada!
ResponderEliminar100% de acordo! Mas chamar avózinha a uma senhora??? Não lembra a ninguém! Ela também deve ter pensado: "só à lapada"!!!
ResponderEliminarZé, eu sei que tu sabes, que eu sei que tu sabes, que eu já percebi que andas acordado!
ResponderEliminarLogotipo MSC, fogo quer dizer que se o peixe vier do mar e não tiver esse símbolo cravado já não e de confiança!
Já conseguimos vender a alma ao diabo em termos de produção agrícola,ignorando que temos terra para plantar (e cavar,) agora vamos também fingir que não temos costa Atlântica para pescar e começamos todos a consumir peixe de viveiro à fartazana!
Boa!