Há tempos, dei por mim a ter
muito cuidado com o que escrevo nos novíssimos meios de comunicação que vou
tendo à disposição. É terrível se pensarmos bem, pelo menos para mim é, senão
vejamos, de repente e ao mesmo tempo estou a falar no face, enquanto falo no
skype e no gmail e ainda envio e-mails, falo pelo telemóvel e se for preciso
até pelo telefone fixo, e há mais que agora não me ocorre mas não me admirava
que o caso se passasse de divisão para divisão de uma qualquer casa particular
ou mesmo de gabinete para gabinete num escritório qualquer do mundo inteiro.
Sim, porque esta suposta ligação feita em vários canais ao mesmo tempo pode
muito bem ser local, numa terreola qualquer do Alentejo profundo ou de Grândola
para a China. Ora, se for local, imaginemos que sou eu por exemplo, assim não
aponto o dedo a ninguém mas toda a gente percebe, sou capaz de estar a
comunicar com várias pessoas ao mesmo tempo por canais diferentes. Uma loucura!
Faz-me lembrar aqueles empregados da Bolsa que por vezes vejo nas notícias da
televisão sobre mercados financeiros e que estão ali sentados nas secretárias a
olhar para aqueles ecrãs com numerozitos que eu só lá ia de óculos por serem
tantos e tão pequeninos. Parecem uns robots ali quietos de olhar aparentemente
pasmado. E no entanto estão concentradíssimos com os cérebros a mil à hora, e
se não for a mil arranjam maneira com substâncias ilícitas e menos ilícitas,
enfim, consta.
Pois foi por causa de uma
mensagem enviada por telemóvel, quando podia perfeitamente ter telefonado, ou
mesmo feito uma ligação ao vivo e a cores., mas não, foi simplesmente uma
pequena mensagem. E estava bem escrita e tudo. Era precisa e objectiva na
questão que colocava. Foi escrita num ápice. Terá sido escrita com um
determinado propósito pelo emissor, digamos. E no entanto o receptor daí o
emissor, quando recebe a mensagem compreende-a de outra maneira, limitando-se
exclusivamente a ler uma mensagem, um conjunto de letras com um determinado
significado, não conseguindo visualizar a atitude física, a expressão facial, a
respiração, o tique, a velocidade de entoação daquilo que se diz, e por aí fora
de um conjunto de elementos que sem o invólucro a pessoa que diz, é
simplesmente uma mensagem tal como o são as mensagens que os ecrãs de computados
dos tais homens robots da bolsa olham horas a fio. Não deve ser fácil, talvez
uma questão de hábito, mas passar horas de vida naquele tipo de ambiente,
naquele tipo de registo mental entre pessoa e máquina é bem capaz de produzir
resultados no mínimo surpreendentes. Daí as mensagens que se recebem poderem
ter interpretações genuinamente diferentes. Faltará certamente o resto da
mensagem que ficou na origem pois ainda não nos podemos tele-transportar. Acho…
Se por um lado almejamos a
globalização, talvez porque a união faz a força, ou sabe-se lá qual o ímpeto
que nos faz humanos andar para a frente sempre por caminhos que fazem com que a
história da humanidade não tenha qualquer lógica aparente que não seja a
inerente ao próprio caos que não deixa de ter a sua lógica, daí a teoria. Por
outro lado incomoda-nos o facto de nos sentirmos cada vez mais sós neste mundo
globalizado. Esta coisa de andarmos em contacto todos uns com os outros por
meios cada vez mais extraordinários e nisso as comunicações são bem capazes de
ser o cerne da revolução que estamos a atravessar coloca-nos num estado de
letargia que nos vai adormecendo lentamente. Começamos a fazer as nossas
próprias interpretações do que lemos, observamos, ouvimos e esquecemo-nos de
algo fundamental – o contacto físico. Olhos nos olhos, como se costuma dizer,
ao invés de uma mensagem traduzida em letrinhas minúsculas num aparelho de recepção Por vezes uma mensagem mal interpretada tem consequências que podem
inclusive mudar a face da terra como a conhecemos. Tal como a borboleta no
Japão pode ser a origem de um tsunami na América, uma mensagem mal interpretada
pode ter sabe-se lá que consequências. É preciso aprender a interpretar
mensagens. Cada vez mais.
Ou então o melhor é à
portuguesa que à sexta-feira por exemplo se resolvem tantos e tantos negócios
ao almoço num restaurante, com a barriga cheia e ali, olhos nos olhos. Para
negócios não há cá mensagens, para negócios o melhor é ali, frente a frente,
não nos vá escapar um pequeno tique antes de uma resposta comprometedora. É
preciso sentir, cheirar, observar o emissor de modo a decifrar o todo da
mensagem recebida. Há quem lhe chame corrupção mas de facto não o é. É sim uma
maneira de estar na vida e bem simples em que nada fica gravado mas existe um
compromisso, uma acordo de cavalheiros, uma palavra dada, um toque no ombro, uma
oferta ou delicadeza… e pronto. Já no resto, naquelas miudezas que são o sal da
vida é giro enviar e receber mensagens só que às vezes corre mal, é curioso.
Beijinhos.