Há tempos estive com um velho amigo. Alguém que conheço há uns anos e que reencontrei. É bom reencontrar pessoas que não vimos há algum tempo. Por vezes, e não foi este o caso, o tempo, essa coisa relativa, faz milagres na reestruturação de amizades. Talvez tenha a ver com o amor. Não com o amor ao próximo, ou também, mas acima de tudo com o amor por nós próprios. Com a capacidade que temos de nos perdoar deixando em aberto o que de mais importante ficou numa amizade que acabou. Por vezes o reencontro faz isso. Cura. Restabelece a relação que, por motivos por vezes até completamente alheiros às partes, volta a existir. E por vezes até com contornos bem mais saudáveis.
Tem sido um reencontro curioso. Tal como eu, o meu amigo já passou por várias experiências de vida que o fazem ser quem é. Sem que fossemos propriamente amigos do peito de sempre, acabámos por estar um fim de semana a conviver e a partilhar experiências que fomos acumulando nestes últimos anos. Quando nos conhecemos eramos estudantes e solteiros. Agora somos ambos divorciados e com filhos. Escrito isto, até me ri.
Continuando, almoçámos em minha casa. Eu, os meus filhos, o meu amigo e a filha dele. Depois fomos todos ao Oceanário. No caminho recolhemos o segundo filho dele fruto de um amor pontual. Foi girissimo. Dois homens, pais, com os respectivos filhos a visitarem os peixes. Sempre que lá vou sinto uma enorme inveja dos peixes e da sensação que tenho de eles voarem pois ali podemos ver os peixes de baixo. Normalmente vêmo-los de cima, mas vê-los de baixo dá a sensação que estão a voar. E o Oceanário tem aqueles recantos onde nos podemos sentar a mirar aquele mar de água e peixes de variadíssimas formas. Há peixes estranhissimos. A evolução da vida vai por onde bem entende mas mais coisa menos coisa sinto sempre uma relativa estranhesa ao pensar que eu e os peixes temos todos coração e no fundo somos parecidos.
As nossas filhas combinaram jantarmos todos em casa dele. Jantámos na cozinha. Ele, à imagem do que já tinha acontecido em minha casa, preferiu que jantassemos todos juntos em vez dos miudos na sala e nós na cozinha. Conversámos, rimo-nos e foi assim uma coisa tipo família ou amigos. Depois de jantar (com morangos e tudo) os miudos foram para a sala ver televisão e mexer na net e nós ficámos a acabar o vinho do copo. Falámos de imensas coisas. O meu amigo é um aficionado em sementes e do que se pode obter quando se lança uma semente à terra. Portanto falámos de sementes de tomate, pimento, mostarda, morangos, e de mais uma série de legumes e frutos. E de como a vida é simples e poderosa, que de uma sementezita insignificante se consegue produzir alimentos. Foi por isso que há dias quando perguntei aos meus filhos o que queriam ser no futuro e eles ainda não sabem bem, lhes sugeri agronomia ou algo que tivesse que ver com a terra. Eu não sabendo bem de onde me vêm estas ideias tenho cá na mente que o futuro está intimamente ligado à terra. É uma sensação que tenho. Que o futuro está na terra e na lentidão pausada mas permanente com que a terra dá uma volta sobre si mesma. Por mais que tentemos são sempre 24 horas. E as plantas sabem-no muito bem. Elas devem-se rir imenso de nós e das nossas pressas.
Carros amigos do ambiente? Telemóveis amigos do ambiente? Computadores amigos do ambiente? Por amor de Deus, a hipócrisia do marketing vai até onde nunca ninguém imaginou ser possivel. Por outro lado basta uma semente. Um vaso com terra e uma semente para podermos observar com calma a vida a nascer, desenvolver-se, transformar-se, crescer e depois com amor ou mesmo às vezes até sem ele, saborear os frutos resultantes e sobrevivermos, simples. Experimentem lá comer um “Ipod” ou uma “Pen”... parvos!
Beijinhos e essas coisas,