quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O velho


Há tempos o meu filho Manuel virou-se para mim e assim do nada disse “Ó pai já és velhinho”. O Manuel sem que o percebesse colocou-me num mundo diferente daquele que eu conhecia até então. Nesse dia passei a ser velho. E isto com 40 anos mais coisa menos coisa. Lembro-me que foi num dia em que não tinha feito a barba e ela, a barba, está de facto quase toda branca.

Fui ao dicionário ver o que é velho. Vi vários. Não me pareceu que quisesse admitir ser o que estás escrito nos vários dicionários que vi. Ao que parece e ficou-me essa sensação de tudo o que li ser velho é uma condição à partida má. Ser velho é estar acabado. Pelo menos foi o que senti das várias descrições que li. Não! Recuso-me a transcrever como tem sido hábito, o que li. Recuso-me a ser aquilo que a sociedade diz que é ser velho. Talvez o venha a aceitar melhor um dia destes, mas agora não.

Assim de repente lembro-me de dois velhos que por razões diferentes estão muito em voga, o Pai Natal e o Dinis. Sei lá! Isto anda de tal maneira que das duas uma ou está tudo maluco ou sou eu de facto que já não acredito em nada. Mas se por um lado não querem que eu me esqueça do Pai Natal por outro não quero esquecer o Dinis. Julgo já ter escrito que o Pai Natal é um produto de marketing inventado pela Coca-Cola com o objectivo de vender o dito refrigerante no Inverno pois antes disso as pessoas só o bebiam no Verão. Resultou em pleno. Já o Dinis coitado, só é conhecido cá por ser pedófilo/médico/pediatra e anda a ver se cai no esquecimento. Têm os dois barba branca e gostam os dois de ter criancinhas sentadas ao colo. É verdade! Um foi inventado, o outro anda por aí. Um queremos à viva força que exista, o outro queremos esquecê-lo. Um representa aquilo que desejamos para as crianças o outro recusamos-nos querer vê-lo. É curioso.

Pois eu estou de facto a ficar velho. E o que é que me diz a mim este novo estatuto? Diz-me logo de imediato que ser velho é um posto (giria militar). Diz-me que ser velho é ter experiência. É ter passado por coisas que ao olhar para trás nunca imaginei que fossem assim que se passavam. Muitas vezes, ainda novo, comentei imensas coisas, que hoje só não me envergonho porque as compreendo como terem sido ditas por alguém que não tinha experiência da vida. Por alguém que era novo. Por alguém, no meu caso, curioso e cheio de energia para dar e vender. Estou a ficar velho e quanto mais velho me sinto mais consigo sorrir. Mais consigo olhar para trás e perceber que hoje sou de facto a soma das partes que são todas as experiencias que já vivi, comi, cheirei, ouvi, senti, pensei e outras coisas acabadas em i.

Se por um lado tenho alguma nostalgia por já não ser novo, estou curiosissimo em relação ao que é ser velho pois para mim ser velho é ter experiência, é saber, é conhecimento, é amor. Ser velho é já ter dito aos meus filhos que um dia façam eles as escolhas que fizerem têm de me dar o prazer de ter netos para, como o Pai Natal, os sentar ao meu colo e ver na carita deles os olhos esbugalhados com o mundo que os rodeia e esperar pelas perguntas deles. E eu terei de lhes contar a verdade sobre o Pai Natal e o Dinis.

Eu desejo ser velhinho Manuel. É uma condição da vida. E agradeço-te a forma como mo disseste. Amo-te.

Beijinhos e essas coisas,

3 comentários:

  1. Muito bem, gostei, és uma pessoa cheia de vida, isso é fantástico, especialmente quando notamos os anos a passar (tenho outros amigos da mesma idade que encaram muito pior a coisa): Não te preocupes com o que o teu filho disse, eles são mesmo assim. De facto, envelhecer dá-nos mais segurança, sabemos mais coisas e, como se sabe "conhecimento é poder". Por isso, o melhor é viver e não pensar na idade!

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  2. O Manuel queria dizer que já és "ANTIGO"!
    Era isso que ele quer dizer, porque normalmente atribuímos à expressão "velho" coisas relacionadas com declínio com perda de características positivas, assim, costumo dizer uma coisa velha, é algo antigo sem valor, por outro lado uma coisa antiga, é algo velho cheio de valor!
    Tu estas a ficar antigo Zé. Atenção que nem
    todas as pessoas têm bom potencial de ganhar essa coisa que é a antiguidade, é como nos vinhos, de nada vale guardar um vinho sem potencial de envelhecimento.
    Quando me falam nos velhinhos lembro sempre a historia de Miguel Angelo a quem ao 82 anos encomendaram alguns trabalhos na Capela Sistina, quase todos conhecemos o resultado.

    Esse tal de Dinis é que já tem idade para ter juizo e para admitir a porcaria que andou a fazer.

    Toma lá um abraço!

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  3. Obrigado. Abraços, beijos e amor. Muito amor.

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