Há tempos ia para sair do parque de estacionamento de um centro comercial. Já era tarde. Tinha ido ao cinema e ainda dentro do parque por entre os pilares, à procura da saída sou obrigado a parar o carro para que o segurança, munido de um walkie-talkie passasse, muito devagar, a pé e com um olhar altivo e agressivo, como quem diz “Aqui quem manda sou eu, vai lá devagarinho sim?”. Ainda pensámos em sair do carro e ir sová-lo violentamente. Mas não. Deixámo-lo ir com as suas certezas e arrogâncias. Por outro lado e na via pública um condutor terá achado que o peão estava a demorar muito a atravessar a passadeira e pum! Deu-lhe um tiro nas pernas. As circunstâncias que ditam os acasos da vida têm caprichos e coincidências que obrigam à existência de um Deus para justificar determinados actos. É impressionante. Tal como a questão do ovo e da galinha, o mesmo se aplicaria a Deus e ao Homem. Qual deles nasceu primeiro? Adiante.
Uma pessoa nasce, cresce, estuda, tem um projecto de vida e de repente e por uma mera necessidade de sobrevivência arranja um emprego como segurança. Recebe umas calças da cor x e uma camisola da cor y. Aos ombros coloca umas bandas coloridas e já está. Ser segurança é uma profissão que deve dar alguma sensação de poder, não sei, julgo eu. Há várias espécies de seguranças que vão desde aquele que olhamos para a sua cara e olhar e pensamos que mais valia acabar com a própria vida a entregá-la ao seu cuidado. Ou aquele enorme e com um ar maquiavélico que nos inspira um terror profundo no caso de nos olhar nos olhos. Ou o que está à porta da repartição de finanças, ou do centro de saúde e que não fazendo outra coisa senão verificar o mau funcionamento da orgânica passa a fazer parte da própria substituindo inclusivé a recepcionista quando ela vai beber um cafézito. Enfim... Por vicissitudes da vida e inerência da sociedade em que vivemos há-os de todas as cores e feitios.
Em tempos geri uma discoteca. Os seguranças cumprimentavam-se com beijos na cara, tipo filme mafioso. Vestiam-se de preto e tinham um ar tenebroso. Talvez haja uma relação entre a cor da indumentária e a sua capacidade para de facto poder “segurar” o que quer que seja. É curioso. Certo dia um grupo de rapazes quis entrar na discoteca mas foram-me dadas ordens para que eles não entrassem. Eram os seguranças contra os rapazes, ciganos, viris. Antes que aquilo desse para o torto eu saí para a rua para conversar com eles. Vi-me rodeado por um grupo de testosterona prestes a explodir e curiosamente os seguranças lá dentro a espreitar. Não morri nessa noite, nem nada aconteceu. Foi um golpe político em que a relação de forças se geriu a ela própria sem necessidade de derramamento de sangue. Uma espécia de revolução dos cravos. O certo é que eles não entraram e os seguranças não tiveram de demonstrar os seus dotes de dar murros e pontapés a velocidades impossiveis de detectar pelo olho humano.
Ser segurança é um posto. Está-se ali entre o funcionalismo público e o agente da autoridade sem ser nem uma coisa nem outra. Mas não deve ser mau ser-se segurança. Deve dar assim uma espécie de sensação de autoridade do género “Onde é que vai?” ou “Faz favor” ou então nada, ficam ali pasmados, a olhar. Horas a fio... credo!
Beijinhos e essas coisas,